Dilma Rousseff está exausta, mas serena. A despeito da provável condenação no tribunal do Senado, nesta quarta-feira, e mesmo inconformada diante desse resultado iminente, a petista encara o desfecho do processo como o fim de uma jornada tempestuosa. Dilma quer descansar. Já na condição de ex-presidente, ela pretende voltar a Porto Alegre, ficar mais tempo com a família, viajar e quem sabe escrever um livro.
– Ela não deu certeza sobre nada ainda, mas quer voltar a ter uma vida normal, ir ao supermercado – comenta um interlocutor diário da petista nos 110 dias em que ela esteve afastada do cargo.
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Os últimos dias foram extenuantes para Dilma. As 14 horas em que permaneceu depondo no plenário do Senado, na segunda-feira, quase lhe tiraram a voz, preservada graças a goles de chá providenciado pela direção da Casa. Na manhã da terça-feira, satisfeita com o próprio desempenho, ela retomou a rotina diária. Acordou cedo, fez uma hora de exercícios no Palácio da Alvorada e acompanhou nos jornais a repercussão de sua performance.
– O impacto foi muito positivo – avaliou um ex-ministro que esteve na residência oficial.
No final da manhã, Dilma sentou-se à frente da TV para acompanhar os debates entre defesa e acusação e vibrou com a argumentação de seu advogado, José Eduardo Cardozo. Em seguida, recebeu para o almoço o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a elogiar a firmeza do depoimento da petista ao Senado, na véspera, e permanece em Brasília para assistir a votação final ao lado dela, no Palácio. Juntaram-se à mesa os presidentes do PT, Rui Falcão, da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, assessores e ex-integrantes do primeiro escalão de seu governo, como Jaques Wagner (Casa Civil) e Miguel Rossetto (Previdência).
Quem também esteve no Alvorada foi a cantora Fernanda Takai, integrante da banda mineira Pato Fu.
– Ela segue recebendo senadores, atendendo telefonemas. Não acabou ainda, tudo passa pela votação de amanhã (quarta-feira) – diz Rossetto.
Por volta das 15h30min, Dilma pediu que telefonassem para Cardozo. Queria parabenizar o responsável por sua defesa. O advogado concedia uma entrevista quando um auxiliar lhe passou o telefone. A petista ainda esperou alguns minutos até que ele atendesse a ligação. Mancando, rescaldo de uma distensão muscular no pé esquerdo sofrida há três semanas, Cardozo se afastou do burburinho provocado pelo enxame de assessores e repórteres e mais uma vez se emocionou. Tão logo o advogado havia deixado a tribuna, ao final da sustentação oral, ele já havia chorado ao abraçar os senadores petistas, e mais uma vez, na saída do plenário, num desabafo aos jornalistas.
– Ela me cumprimentou pela defesa. E brincou com o choro. Disse: "chorou, hein" – contou Cardozo.
De acordo com o advogado, uma derrota na votação não encerra a batalha jurídica. Ele já preparou duas ações a serem apresentadas ao STF, além de uma tentativa de anular o julgamento do Tribunal de Contas da União que recomendou a reprovação das contas de Dilma referentes ao exercício de 2014. Embora a petista tenha dado aval aos recursos, ela não deve se envolver com novas questões jurídicas. Findados seus 2.435 dias de presidência, Dilma chega ao final do processo de impeachment com mais fé de que será absolvida pela história do que pelos tribunais.