Quando Teresa Poester fez sua última exposição em Porto Alegre, Até que Meus Dedos Sangrem, na Sala João Fahrion da Reitoria da UFRGS, estava desgostosa com a situação do Brasil. O ano era 2019. Esbanjou vermelho em seus trabalhos como forma de demarcar tanto elementos que fazem parte da história do país, como o pau-brasil, árvore nativa avermelhada por dentro, quanto para expor sua ira — rouge significa vermelho em francês e sua pronúncia ("ruge") soa em português como o ato de gritar.
— Naquela época, diziam que o Brasil jamais seria vermelho. Claro que o vermelho é nossa cor, nossos índios são pele vermelha, o pau-brasil é vermelho. Queria afirmar que essa cor é bonita e nos faz feliz. É a cor mais vibrante que existe. E quando a gente mora fora, em lugares com menos desigualdade, a gente fica muito sensibilizada com o que vê aqui. Esse grito estancado na garganta, às vezes, é um pouco desse rouge — diz a artista de 68 anos, ex-professora do Instituto de Artes da UFRGS e que desde 1998 se divide entre Porto Alegre e Paris, onde realizou doutorado.
Mas a pandemia que assolou o mundo e a guerra no leste europeu a fizeram ter vontade de recuperar a esperança. Furta-Cor, de Volta aos Jardins — Desenhos de Teresa Poester, que será inaugurada neste sábado (3), das 11h às 14h, na Ocre Galeria (Rua Demétrio Ribeiro, 535), em Porto Alegre, resgata o colorido após momentos tão trágicos. É sua primeira exposição na Capital desde então, permanecendo em cartaz até 1° de julho.
Todas as obras são inéditas e foram feitas no ateliê que mantém na casa de sua companheira em Éragny-sur-Epte, zona rural francesa, a uma hora de Paris e perto da Normandia. Segundo Teresa, é um local onde as estações são bem demarcadas, passando pelo verão exuberante até o inverno em tons terrosos, cenário inspirador para um trabalho cujo mote é a fé em tempos melhores.
— Furta-cor tem duplo sentido. Significa a cor que muda de tonalidade conforme a luz que incide, mas furtar também é tirar, roubar, e, nos últimos anos, ficamos sem cor. Mas eu queria esse retorno à primavera. Depois de tanto sufoco, né? — reflete ela, que retornou em março deste ano.
Conhecida por experimentar diferentes linguagens, como pintura, vídeo, fotografia e instalação, Teresa voltou ao desenho, sua principal expressão, uma forma de ressaltar seus 45 anos de atividade artística, iniciada com sua primeira exposição em Porto Alegre na década de 1970. Em breve, a UFRGS Editora também lançará o livro Percurso do Artista — Teresa Poester — Até que Meus Dedos Sangrem, uma reunião de textos críticos, imagens e uma longa entrevista concedida ao crítico de arte Eduardo Veras, que foi curador da mostra de 2019-2020.
A nova exposição é composta por cerca de 40 desenhos em grandes formatos, a maioria com lápis de cor, material que a fascina por ser uma ferramenta de desenho por excelência. As obras foram pensadas especialmente para as paredes da Ocre Galeria, inaugurada em maio do ano passado em um casarão histórico.
— Seja a exposição na França ou aqui, não gosto de me repetir. E sempre faço para o espaço em que as obras serão exibidas. Analiso planta baixa, fotos, tudo. Faço as minhas exposições como instalações — conta a artista, que pouco antes do fim do período de visitação da mostra deve partir, mais uma vez, para a vida nas redondezas de Paris.
Exposição "Furta-cor, de Volta aos Jardins - Desenhos de Teresa Poester"
- Abertura neste sábado (3), das 11h às 14h, na Ocre Galeria (Rua Demétrio Ribeiro, 535 - Centro Histórico), em Porto Alegre
- Visitação de 5 de junho a 1° de julho, de segundas a sextas-feiras, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 13h30min
- Entrada gratuita