Instituição de grande importância para as artes cênicas por formar atores, diretores, dramaturgos, professores e pesquisadores de teatro, o Departamento de Arte Dramática (DAD) do Instituto de Artes (IA) da UFRGS completou 65 anos no final de 2022, efeméride que motivou um livro e uma exposição contando momentos cruciais dessa história.
A autora do volume é a atriz e historiadora Juliana Wolkmer, 39 anos, que lançará DAD — História e Memória (Libretos, 160 páginas, R$ 55) nesta segunda-feira (22), das 17h às 19h, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Eng. Luiz Englert, 333), em Porto Alegre. Ela própria uma cria do DAD e com formação também em História, Juliana foi convidada pelos idealizadores do projeto DAD 65 Anos, Vinícius Cáurio e Reissoli Moreira, para escrever o livro que marca as seis décadas e meia do departamento.
A comemoração é completada pela exposição fotográfica DAD — 65 Anos, da qual Juliana é curadora e que será aberta na mesma ocasião, com imagens retratando espetáculos emblemáticos montados pela instituição. A mostra, que teve curta temporada em março na Cinemateca Capitólio, dentro do 29º Porto Alegre em Cena, pode ser conferidas agora no Centro Cultural da UFRGS de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, até 3 de junho. O evento de lançamento do livro e abertura da exposição tem entrada gratuita.
Para a escrita do livro, Juliana se baseou em uma pesquisa que fez durante o mestrado em Artes Cênicas, em que ouviu ex-alunos do departamento. Para a obra, que, segundo a autora, é a primeira dedicada especificamente ao DAD, ela fez novas entrevistas. Os trechos desses depoimentos são costurados com fatos que compõem a história deste que foi o segundo curso de teatro de nível superior criado no Brasil — o primeiro foi na Universidade Federal da Bahia.
Uma curiosidade diz respeito à sua fundação, em 30 de dezembro de 1957. Quando o DAD nasceu, ainda não era um curso de graduação, o que aconteceu somente 10 anos depois, e chamava-se Curso de Arte Dramática (CAD), destinado à formação de atores. Surgiu da insistência de artistas que queriam sair do amadorismo e ter uma formação em teatro mais profissional.
— Foi o resultado da movimentação de muitos artistas da cidade e estudantes que faziam teatro amador em Porto Alegre e tinham necessidade de aprofundar seus conhecimentos. Queriam fazer espetáculos mais elaborados. Houve uma pressão muito grande para que o curso fosse fundado — conta Juliana.
Outro episódio marcante foi o expurgo do então diretor do DAD, Gerd Bornheim, em 1969, cassado pela ditadura militar, o que causou descontentamento entre professores e alunos, inclusive com abaixo-assinado, gerando a demissão de praticamente todos os docentes do curso.
— Os professores ficaram revoltados, e o departamento ficou praticamente sem docentes — conta Juliana. — Os alunos tomaram as rédeas do curso, promovendo atividades para que não fosse fechado. Foi um momento bem importante.
As imagens que ilustram as páginas do livro vieram do acervo do DAD, do arquivo histórico do IA e de acervos privados, e são exibidas também na exposição. Boa parte das fotografias mostra os grandes espetáculos criados pela instituição, registros feitos principalmente entre o final dos anos 1950 e a década de 70. As montagens davam experiência de palco aos estudantes e tinham boa aceitação da sociedade, inclusive gerando expectativa.
Para a atual chefe do DAD, Silvia Balestreri Nunes, tanto o livro sobre o departamento quanto a exposição de fotos são uma "raridade", pois contemplam a memória de pessoas que participaram da construção do departamento e batalharam para que permanecesse ativo, gerando uma contribuição à arte do teatro em nível local e até nacional.
— Serve de inspiração às novas gerações, apontando para o que ainda podemos e devemos fazer na formação em teatro dentro da UFRGS. Um livro como esse faz as paredes falarem, além das poltronas e as tábuas dos palcos, e elas têm muito a dizer — acrescenta.
DAD — 65 Anos
- Lançamento do livro "DAD — História e Memória", de Juliana Wolkmer, e abertura da exposição "DAD — 65 Anos", com curadoria da autora. Entrada franca.
- Nesta segunda-feira (22), das 17h às 19h, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Eng. Luiz Englert, 333 - Campus Central), em Porto Alegre.
- Horários de visitação da exposição, com entrada franca: de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, até 3 de junho.