Se o laudo indica fissuras, a solução é "cirurgia". Em uma história que vem se desenrolando nos últimos anos, a restauração da estátua do Laçador, em Porto Alegre, criada pelo artista pelotense Antônio Caringi (1905-1981), deve ser iniciada em agosto. Contudo, para que o famoso gaúcho pilchado possa ser aberto, reparado, estruturado e fechado novamente, o local demarcado como seu sítio ficará vazio por cerca de quatro meses.
Viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul, a proposta faz parte da plataforma Resgate do Patrimônio Histórico, criada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-RS). Arquiteta e atual responsável técnica pelo projeto, Verônica Di Benedetti aponta rachaduras como consequência de um erro: em 2007, quando a estátua deixou o cenário da Avenida Farrapos com a Avenida Ceará e passou a integrar a Avenida dos Estados, obreiros teriam colocado argamassa de cimento com resto de tijolo dentro do monumento, até a altura da bombacha. Exposto em área externa, o material foi trabalhando ao longo dos anos e, em dado momento, começou a se romper.
— Qualquer artista sabe que não se deve fazer isso. Mas quem transporta é o servente, o qual entende que tem que fixar a obra. Isso demonstra a falta de acompanhamento de um escultor — explica Verônica.
Apesar de estudos anteriores terem constatado falhas estruturais, foi em março de 2017 que uma pesquisa preliminar detectou a necessidade de realizar os reparos dentro de uma década, antes de o patrimônio tombado correr o risco de desabar. À época, participaram a engenheira metalúrgica Virginia Costa e o restaurador francês Antoine Amarger, autoridade mundial no assunto. Agora, a parte prática do projeto vai sair do papel com R$ 810 mil arrecadados via iniciativa privada e outros R$ 90 mil da prefeitura de Porto Alegre. Ainda faltam alguns trâmites burocráticos por parte do município no que diz respeito à papelada, mas nada que Verônica considere capaz de prejudicar o calendário.
Sendo assim, no próximo mês, o portento de bronze com 4,4 metros de altura e 3,8 toneladas deve ser transportado a outro local para ser aberto, permitindo a retirada do cimento de dentro dele. A obra também vai receber uma estrutura interna em aço inoxidável, que deve funcionar como uma coluna – originalmente, ela é totalmente oca. Antes de ser devolvida ao sítio, uma pátina química será elaborada para deixar o acabamento sem cicatrizes aparentes.
Outros detalhes sobre o projeto serão explicados nesta quinta-feira (22), a partir das 19h, em uma live transmitida no perfil no Facebook do Atelier Livre Xico Stockinger, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura. A ideia, porém, não é apenas divulgar o trabalho técnico. Na avaliação do professor do espaço e pesquisador de arte José Francisco Alves, poucas pessoas conhecem Caringi que, há 40 anos, morreu deixando como legado o cartão-postal do Estado; o Monumento Nacional ao Imigrante, em Caxias do Sul, entre outras obras espalhadas pelo Brasil.
Em homenagem ao estatuário cujo trabalho lhe rendeu o epíteto de "escultor dos Pampas", a programação contempla uma breve apresentação do histórico sobre ele.