A Fundação Iberê Camargo divulgou nesta terça-feira uma nota em apoio ao Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), que tem sido alvo de protestos por conta de uma performance realizada na abertura do 35 º Panorama da Arte Brasileira. Em comunicado, a instituição manifestou solidariedade ao museu quanto aos "atos intimidatórios à instituição, seus colaboradores e visitantes".
A fundação apontou também que "as ações em questão, açodadas de ameaças à liberdade de expressão, tendem a ofender os princípios de justiça". Na nota, a FIC destacou que "a liberdade de expressão é garantia necessária ao florescimento da democracia, e ao desenvolvimento social e econômico harmonioso".
Leia a nota na íntegra:
Nota de apoio ao Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM
A Fundação Iberê Camargo vem publicamente prestar sua solidariedade ao Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM, frente aos questionamentos que vem sofrendo relativos a performance realizada na abertura da Mostra Panorama da Arte Brasileira, seguidos de atos intimidatórios à instituição, seus colaboradores e visitantes. As ações em questão, açodadas de ameaças à liberdade de expressão, tendem a ofender os princípios de justiça.
Entendida como espaço para a manifestação de ideias, a arte tende a expandir nosso horizonte crítico, contribuindo para a formação da cidadania.
Em um país como o Brasil, onde a pluralidade de etnias, culturas e crenças se encontra em sua origem, talvez inclusive se constituindo em um de seus mais importantes patrimônios, a incapacidade de conviver com pensamentos e comportamentos divergentes não pode encontrar espaço.
Observadas as disposições legais, especialmente ao que reza o Estatuto da Criança e do Adolescente, a liberdade de expressão é garantia necessária ao florescimento da democracia, e ao desenvolvimento social e econômico harmonioso.
Caso ocorre semanas após polêmica sobre a "Queermuseu"
O episódio com o MAM ocorreu menos de um mês após o fechamento da exposição Queermuseu, exibida no Santander Cultural, em Porto Alegre. A participação de uma criança em uma performance protagonizada por um artista nu deu início a nova polêmica sobre a liberdade artística nas redes sociais, desde a noite da última quinta-feira (28). Fotos e vídeos registrados no museu mostram uma menina, que aparenta ter em torno de cinco anos, tocando os pés de um homem nu que estava imóvel e deitado sobre o chão.
Na sexta-feira (29), segundo nota da direção, o museu "foi invadido e seus colaboradores e visitantes foram alvo de ofensas e agressões verbais em claro ato intimidatório".
Já no sábado (30), representantes de movimentos conservadores protestaram contra a performance do bailarino e coreógrafo Wagner Schwartz no dia da abertura da 35ª. edição do Panorama da Arte Brasileira. Dessa vez, segundo a nota de posicionamento do MAM, "além das agressões verbais, cometeram atos de violência física contra visitantes e colaboradores". Em resposta às agressões, o museu registrou dois boletins de ocorrência, "nos quais constam também denúncias de ameaças de danos ao patrimônio por meio de telefonemas anônimos e mensagens em plataformas de mídias sociais".
Na nota, o MAM esclarece mais uma vez que a performance La Bête, realizada na abertura do Panorama, "se deu com a sala sinalizada, incluindo a informação de nudez artística, seguindo o procedimento regularmente adotado pela instituição de informar os visitantes quanto a temas sensíveis".
O trabalho apresentado na ocasião, afirma a nota, "não tem conteúdo erótico e se limitou a uma leitura interpretativa da obra Bicho, de Lygia Clark, historicamente reconhecida pelas suas proposições artísticas interativas."
Na performance, o coreógrafo Wagner Schwartz manipula um "bicho" de plástico (originalmente uma peça articulável de metal), colocando-se à disposição do público para ser igualmente articulado. Uma pessoa presente gravou a performance em vídeo e o transmitiu por rede social. O vídeo viralizou e foi interpretado por internautas como um ato de pedofilia, porque uma mãe e sua filha menor tocaram no corpo do performer.
"O museu reitera ainda que a criança que aparece no vídeo veiculado por terceiros era visitante e estava acompanhada e supervisionada por sua mãe e que as referência à inadequação da situação são resultado de desinformação, deturpação do contexto e do significado da obra".
"O MAM considera pertinente o debate para o aprimoramento e difusão do marco legal de classificação indicativa nos museus, ao mesmo tempo em que defende a liberdade de expressão na produção cultural", conclui a nota, agradecendo as manifestações de apoio que tem recebido de instituições culturais e do público.
* Com informações de Estadão Conteúdo