Em 2024, Renato Borghetti está comemorando os 40 anos do lançamento de seu álbum de estreia, Gaita Ponto, até hoje o único disco de ouro (com vendas superiores a 100 mil cópias) da história da música instrumental brasileira. Essa façanha me fez lembrar um fato curioso, que pouca gente sabe – um dos primeiros contratos profissionais assinados por Borghettinho tinha como finalidade abrilhantar a festa de bodas de ouro dos pais do ex-ministro Pratini de Moraes.
Talvez você não tenha conhecimento, mas o economista Marcus Vinícius Pratini de Moraes, hoje com 84 anos, sempre esteve muito próximo tanto da política – além de deputado federal, foi ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo, de 1970 a 1974; das Minas e Energia, em 1992; e da Agricultura e Abastecimento, entre 1999 e 2002 – quanto da música. Antes de exercer a atividade pública, nos anos 1950, era frequentador assíduo do auditório da Rádio Gaúcha, no 11º andar do edifício União, no centro de Porto Alegre. Lá, se deleitava ao escutar cantoras novatas como Elis Regina e Maria Helena Andrade no programa de Maurício Sirotsky Sobrinho. De vez em quando, Pratini se arriscava a aparecer com um acordeão para acompanhar uma das intérpretes no palco.
– Um dia, ganhei 10 cruzeiros e fiquei feliz da vida – me contou, certa vez.
Na década de 1960, ele frequentava o Bar Batelão, de Lupicínio Rodrigues e Rubem Santos, na Avenida Cristóvão Colombo. Foi quando patrocinou um disco de Santos para que o cantor vendesse quando fizesse shows e, assim, juntasse umas economias. Já morando na capital federal, acercou-se de Jacob do Bandolim e do pessoal do conjunto Época de Ouro, do qual fez parte também César Faria, pai de Paulinho da Viola. Em 1975, esteve presente na fundação do Clube do Choro de Brasília, agremiação que surgiu a partir de reuniões na casa do advogado Francisco de Assis Carvalho da Silva, que era seu assessor jurídico no ministério (Silva era conhecido como Six por ter seis dedos nas mãos, o que não o impedia de tocar cavaquinho como poucos).
– Inicialmente, as reuniões do Clube do Choro aconteciam numa entidade particular. Depois, conseguimos um imóvel doado pelo governo federal, acima da Esplanada dos Ministérios – relembrou Pratini.
Passaram-se os anos e Pratini não se afastou da música. No início da década de 1980, em Porto Alegre, frequentava o bar do Marinho, na Cidade Baixa, onde os músicos davam canjas noite adentro. Numa madrugada, ficou encantado com o talento de um jovem acordeonista e, de impulso, o contratou para tocar na festa de 50 anos do casamento dos pais.
– O contrato com o Borghettinho foi assinado aqui no bar. Os dois eram meus clientes habituais – me contou Celmar Rodrigues, o Marinho (o apelido se deve à superstição de só vestir trajes de cor azul-marinho).
A comemoração das bodas de ouro foi realizada na Sogipa. Consta que, à certa altura, entusiasmado, Pratini correu até o estacionamento para buscar, no porta-malas do carro, o acordeão que havia trazido da Alemanha para se juntar a Borghettinho na animação da festa.