O amor está nas pequenas coisas da vida, dizia o músico Nico Nicolaiewsky, em resposta a uma indagação que ele próprio havia proposto no título do disco Onde Está o Amor?. Artista inquieto e original, ele será homenageado nesta segunda-feira, 5 de fevereiro, a partir das 20h, com a exibição do show-filme Onde Está o Amor – As Fitas Perdidas, dirigido por Zé Pedro Goulart, no Theatro São Pedro (o trabalho reúne cenas do espetáculo de lançamento do disco, gravadas em 2008). O evento marca os 10 anos da morte de Nico. A entrada é franca e os ingressos devem ser retirados, das 13h30min às 18h, na recepção do complexo Multipalco Eva Sopher.
Descendente de judeus da Bessarábia, Nico nasceu em Porto Alegre, em 1957. Aprendeu a tocar piano aos sete anos (antes mesmo de ser alfabetizado), com a professora Amália Malinski, que morava perto da casa dos pais, no Bom Fim. Aos 13, aprofundou os estudos em um curso de extensão do Instituto de Belas Artes da UFRGS. Muito tempo depois, teve aulas, no Rio de Janeiro, com o alemão Hans-Joachim Köellreuter, que havia sido professor do jovem Tom Jobim, nos anos 1940. Além do piano, Nico manejava com maestria também o acordeão, instrumento que o pai, Moisés, comerciante, havia recebido em troca de uma dívida não saldada de um cliente.
Antes de virar músico profissional, Nico viveu em um kibutz, em Israel, e trabalhou em uma colheita de uva no sul da França. Ainda perambulou com uma mochila nas costas pela Europa até retornar a Porto Alegre, em 1975. Disposto a ser artista, ingressou no grupo Mudança, de Eva Schul, mas as dores na coluna fizeram com que desistisse da dança e abraçasse em definitivo a música.
No final dos anos 1970, fundou o Musical Saracura, junto com Sílvio Marques e Flávio Chaminé, banda que, com apenas um disco gravado, em 1982, influenciou os rumos da música urbana gaúcha com uma síntese de rock, MPB, tango e ritmos nativistas.
— Eu não tinha formação de música popular, mas o lado erudito já não me satisfazia. Então, inventei um modo diferente de compor, não afeito a rótulos — explicou Nico.
Sem dúvida, o maior sucesso da carreira foi a comédia musical Tangos & Tragédias, ao lado de Hique Gomez, na qual incorporava o personagem Maestro Pletskaya. O espetáculo (gravado em DVD, em 2004) lotou teatros por todo o Brasil durante 30 anos. Nico teve ainda valsas e canções líricas de sua autoria usadas na trilha do filme Amores Possíveis, de Domingos de Oliveira, além de compor para peças teatrais de Aderbal Freire Filho. No início de 2014, ele cancelou a tradicional temporada de Tangos & Tragédias, que estava em andamento no Theatro São Pedro, por causa de dores nas costas, que, a princípio, atribuiu a um problema muscular.
— Nada indicava algo grave. Ele nadava, se alimentava direito, foi sempre uma pessoa regrada, que cuidava da saúde — diz a atriz Márcia do Canto, viúva do músico.
Surpreendido com o diagnóstico de leucemia mieloide aguda (LMA), ele se internou, às pressas, no Hospital Moinhos de Vento, no dia 23 de janeiro. A evolução da doença foi fulminante e, na madrugada de 7 de fevereiro, faleceu aos 56 anos. Além do show-filme, as homenagens a Nico deverão incluir o lançamento de um livro e a realização de um espetáculo musical produzido pela filha, a cantora e compositora Nina Nicolaiewsky, projetos que estão em fase de captação de recursos.