Daqui a 15 dias, começa mais uma edição da Festa da Uva, tradicional evento que celebra a cultura dos imigrantes italianos em Caxias do Sul. O que pouca gente sabe é que a primeira Festa da Uva do Estado não aconteceu na Serra, e sim na zona sul de Porto Alegre. Calma, vou explicar isso direitinho. Não por acaso, a região onde se localiza hoje o bairro Vila Nova, na Capital, originalmente, era conhecida como Vila Nova d’Itália.
Fazia sentido, afinal, aquelas terras foram ocupadas, a partir de 1894, por famílias oriundas de comunas italianas, como Trento, Mântua e Cremona. Assim que chegaram, elas começaram a plantar pessegueiros, pereiras, ameixeiras e, principalmente, videiras.
Como não é difícil imaginar, naquele tempo, os arredores de Porto Alegre eram tomados por uma densa mata virgem. Paulatinamente, os imigrantes abriram espaço no mato – em 1897, construíram uma escola (atual Escola Estadual Alberto Torres) e, em 1906, uma capela (transformada, em 1927, na Paróquia São José da Vila Nova).
Os dois prédios foram erguidos na propriedade de Vicente Monteggia, que havia vendido suas terras em Alfredo Chaves (hoje município de Veranópolis) para se assentar por aquelas bandas. Monteggia era um grande empreendedor: em 1898, ele represou as águas do Arroio Cavalhada e, com essa força motriz, fundou um moinho movido por uma turbina importada dos Estados Unidos.
Segundo o cronista italiano Vittorio Buccelli (citado por Sérgio da Costa Franco, no Guia Histórico de Porto Alegre), que visitou o Rio Grande do Sul no início do século 20, em apenas 10 anos, a colônia havia prosperado de forma admirável e passara a fornecer toda espécie de frutas ao mercado da Capital.
Em 1912, já contava com 82 construções e 436 habitantes, atendidos por uma central telefônica municipal. Naquele ano, devido ao progresso da região, teve início o tráfego de trens pela Estrada de Belém Velho, que passava pela Vila Nova. E, em 1926, ali chegaram os trilhos de um ramal da Estrada do Riacho, o que acelerou o desenvolvimento do arraial. De um lado, a ligação ferroviária facilitava o transporte dos produtos coloniais comercializados no Mercado Público.
De outra parte, trazia as pedras para o calçamento da Vila Nova. Chegamos, então, ao ponto de partida da nossa conversa: em 26 de janeiro de 1913 (20 anos antes da primeira Festa da Uva “oficial” de Caxias do Sul), foi realizada a Festa da Uva da Vila Nova d’Itália, apontada pelos historiadores como a primeira do Estado.
Só que ela não aconteceu na Vila Nova, e sim no arrabalde de Teresópolis, mais precisamente na Praça Dona Maria Luiza (atual Praça Guia Lopes), conforme a pesquisadora Ana Maria Monteggia Mallmann.
A festa pioneira foi organizada pelos moradores da Vila Nova (daí o nome que recebeu), com a ajuda dos vizinhos de Teresópolis, e contou com uma premiação às melhores uvas expostas, além de apresentação de bandas, parque de diversões e sorteio de bandejas de frutas, tortas e animais, como leitões e galinhas, gentilmente doados pelos habitantes da região.