O jornalista e historiador Nelson Adams Filho lançou o quinto volume da Coleção História Torres (Editora Edigal) sobre o passado de Torres e região. Para divulgar a obra, ele realiza palestra neste sábado, a partir das 19h30, na Livraria Super Livros, em Torres. O tema é “Terra sem mal e os registros arqueológicos no Morro do Farol”. Adams Filho enviou uma síntese de seu trabalho para a coluna:
A pesquisa aborda episódios como o da guerra das latrinas, registrada em 1923. Na época, o governo do Estado, junto com a Fundação Rockefeller, dos EUA, havia instituído um programa de combate à ancilostomíase, doença que matava, principalmente, crianças. A instalação de latrinas de madeira nas casas era uma das bases do programa, mas parte da população – cerca de 10% dos 11 mil habitantes do município na época – resistiu à iniciativa, sob a alegação de incômodo com a novidade ou por causa do hábito de satisfazer suas necessidades em penicos ou “no mato, no fundo das casas”. Além da questão de saúde, a ação envolveu uma guerra política entre chimangos e maragatos na região.
O livro menciona também as rádios do Exército no Litoral Norte, entre 1942 e 1947, período que abarca, em parte, a Segunda Guerra Mundial. Com base em documentos militares e testemunhos orais, constatamos a existência de duas emissoras: a PYK-Cinco, em Torres, e a PTX-Três, em Quintão. Essas rádios compunham a Rede Litoral de Vigilância e Observação do Exército, que tinha o objetivo de vigiar um possível desembarque de tropas alemãs na costa gaúcha (e no restante do Brasil). Com base em oralidades locais, conseguimos reconstituir a unidade, sua localização e seus integrantes (os sargentos Dario Reis D´Arisbo e Davi Pereira). Há ainda referências à presença de simpatizantes nazistas em Torres e região, como o aviador Rudolf Von Clausbruch, da Varig, depois preso no Rio de Janeiro.
Outro capítulo trata da travessia dos escoteiros da então Turnerbund (Sociedade de Ginastas, que daria origem à Sogipa), entre 1914 e 1915, de Porto Alegre até Blumenau (SC), de trem, a pé e de navio. O grupo pioneiro no escotismo no RS era formado por 15 jovens, de 13 a 15 anos, sob a chefia de George Black, tendo realizado uma jornada de 700 quilômetros para visitar seus colegas na cidade catarinense. Na primeira etapa da viagem, seguiram de Porto Alegre até os Aparados da Serra e desceram pelos cânions, chegando a Torres. Uma aventura que envolveu percalços, acidentes, situações hilárias e emocionantes, conforme relato de Willy Fick, um dos membros da expedição, escrito em alemão e resgatado por seu neto Ricardo Hildebrand.
A pesquisa inclui ainda uma coletânea do vocabulário torrense, com expressões do tipo “lestada” (chuva oriunda do leste); “coruja” (típica rosca da região); “tá com a mala!” (estar com dinheiro); “abusado/a” (chato/a, inconveniente); “tanso/a” (fraco da cabeça!); “pois periga...” (talvez); “banzo” (ficar tonto, atordoado); “foi pro beleléu...” (morreu). Abrange também uma imagem inédita do padre João de Almeida, um dos cinco jesuítas que transitaram pela região no início do século 12.