Idealizador do 20 de novembro como Dia da Consciência Negra no Brasil, Oliveira Silveira possui um extenso trabalho como poeta e escritor, que constitui um território ainda pouco conhecido do público. Uma oportunidade de corrigir essa lacuna é visitar a exposição Poeta, Negro, em cartaz até 26 de abril, de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, no Centro Cultural da UFRGS. A entrada é gratuita.
Nascido no distrito de Touro Passo, na zona rural de Rosário do Sul, em 1941, Oliveira se formou em Letras pela UFRGS, em 1965, e deu aulas na rede pública de ensino durante muitos anos. No início da década de 1970, junto com outros intelectuais negros, fundou o Grupo Palmares, que se reunia no Clube Náutico Marcílio Dias, em Porto Alegre. Era o período mais repressivo do regime militar no Brasil, o que não impediu que o grupo pesquisasse dados da história e da cultura negra, de pouca ou nenhuma visibilidade à época, exaltando personagens como os abolicionistas Luiz Gama e José do Patrocínio.
O principal legado do Grupo Palmares foi o questionamento do dia 13 de maio como data comemorativa da abolição da escravatura no país. Em 1971, os jovens militantes propuseram a substituição pelo dia 20 de novembro, data atribuída à morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 1695. Contudo, apenas 40 anos depois, o 20 de novembro seria oficialmente adotado no Brasil como Dia da Consciência Negra pela Lei 12.519, de 2011. Oliveira foi também um dos fundadores do Grupo Semba de Arte Negra e integrou o corpo editorial da revista Tição, publicada pelo movimento negro gaúcho no final dos anos 1970. Foi ainda membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), órgão ligado à Presidência da República, de 2004 a 2008.
A curadoria da exposição Poeta, Negro é assinada por Naiara Oliveira, filha do poeta, com Sátira Machado, pesquisadora da obra, Ronald Augusto, escritor e crítico, e Lígia Petrucci, diretora do Centro Cultural da UFRGS. Conforme Augusto, embora o engajamento político e social seja fundamental para a compreensão da obra de Oliveira (que morreu de câncer, em 2009), a exposição busca surpreender o público com uma experiência estética provocativa, em que se destacam também concepções existenciais:
— As pessoas encontrarão um outro Oliveira, que é também o próprio Oliveira, um poeta múltiplo — resume Ronald, organizador do livro Oliveira Silveira: Obra Reunida, publicado em 2012.
A obra de Oliveira inclui 10 títulos individuais de poesia, além de participação em antologias e coletâneas no Brasil e no Exterior. A mostra em cartaz no Centro Cultural da UFRGS apresenta uma expografia inteiramente pensada a partir de poemas, um formato raro de se ver. Há também uma produção audiovisual inédita, em que pessoas de diferentes gerações — como a atriz Celina Alcântara e a escritora Taiasmin Ohnmacht — leem poemas do autor e contam sobre sua relação com ele, mostrando que seu trabalho segue impactando a formação de novos artistas e escritores.