Já virou tradição no calendário da folia na Capital: há sete anos, a cantora Glau Barros ocupa o palco do Café Fon Fon para transformar o bar (referência do jazz em Porto Alegre) em salão de baile. Para isso, mesas e cadeiras são afastadas para ceder espaço a uma pista de dança, como vai acontecer mais uma vez na sexta-feira (9) e no sábado (10).
– O público curte aquela onda de brincar o Carnaval, como se fazia nos clubes antigamente. O repertório ajuda muito – diz Glau.
De fato, o CarnaGlau se inicia com um pot-pourri de antigas marchinhas (de Chiquinha Gonzaga a Zé Keti), emendado com forró, baião, frevo e sambas animados. Em 2024, terá duas participações especiais – Gelson Oliveira interpretando MPB dançante (Jorge Benjor, Gilberto Gil e Luiz Melodia, entre outros) e Gil Collares revivendo o auge do axé music dos anos 1990 (Daniela Mercury, Ara Ketu, Terra Samba etc.). Como é de praxe, será realizado um concurso de fantasias entre os foliões. A eleição é decidida na hora, com base em palmas e assobios da plateia, como se fosse um programa de auditório. O prêmio para o ganhador é isenção de 50% do ingresso (ou valor equivalente em consumo de bebida). No ano passado, a vencedora foi a professora e ex-deputada federal Esther Grossi, com a fantasia Luzes da Educação (um vestido com várias lampadazinhas costuradas no tecido).
Nascida em Porto Alegre e criada em Gravataí, Glau começou como cantora de uma banda de MPB e pop rock na década de 1990. Como atriz, desde 2002 faz parte do Grupo Caixa Preta de Teatro, no qual interpretou personagens clássicos do teatro, como Antígona (Sófocles) e Ofélia (Shakespeare). Em 2019, lançou Brasil Quilombo, trabalho ganhador do Prêmio Açorianos de Melhor DVD. No ano seguinte, graças ao edital da Fundação Marcopolo, produziu o projeto Sambaobá – A Raiz Feminina do Samba, no qual destacou mulheres cantoras, intérpretes e instrumentistas de Gravataí, Pelotas, Uruguaiana, São Borja e Rio Grande (a iniciativa resultou em cinco lives no canal da artista no YouTube).
As máscaras de Cattani
Quando vivemos a pandemia da covid-19, o uso de máscaras se alastrou como medida de proteção da saúde. Mas o hábito é bem mais antigo, como mostrou reportagem da Revista do Globo, de março de 1959: “Desde tempos imemoriais, o homem parece vir sempre se escondendo atrás de algo que o faça parecer diferente. Entre os gregos, já era conhecida a máscara, usada particularmente nas procissões e cerimônias que acompanhavam as orgias dionisíacas. No carnaval brasileiro, as máscaras sempre foram muito apreciadas, desde os saudosos tempos do Pierrô apaixonado e do Arlequim que fugia com a Colombina. Mesmo hoje, os salões se enchem de máscaras durante o reinado de Momo”.
Para terminar, a reportagem assegurava: “O Carnaval fica mais gostoso quando se encontra um sorriso bonito e misterioso por trás da máscara”. O texto foi ilustrado por fotografias em que mulheres aparecem com máscaras desenhadas por Dyrson Cattani (falecido em 2006), estilista e carnavalesco de destaque à época, que viria ser o figurinista do desfile campeão da Praiana, na Avenida Borges de Medeiros, em 1961.