Um espetáculo de prender o fôlego encantou os gaúchos em 1957. Os acrobatas do grupo alemão Zugspitz Artisten executaram manobras incríveis sobre cabos de aço, sempre a mais de 50 metros de altura, equilibrando-se de pé ou montados em bicicleta ou moto BMW. Detalhe: em nenhuma das apresentações havia sequer cintos de segurança, muito menos redes de proteção lá embaixo. Naquele ano, há registros de que se apresentaram em Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e Caxias do Sul.
Na Capital, o espetáculo teve início às 20h30min do dia 8 de maio. A bem da verdade, aquela não foi a primeira vez que o Zugspitz Artisten deixou os porto-alegrenses suando frio. Em 1952, tinha visitado a cidade com o patrocínio da revenda de automóveis Cirei. Desta vez, o show tinha os auspícios da Loja Guaspari, que, por sinal, estampou sua marca nos figurinos dos artistas, além de confeccionar e distribuir à plateia fotografias dos equilibristas para guardar como lembrança. Para a travessia, os cabos de aço foram pendurados entre o edifício União, na Avenida Borges de Medeiros, e o prédio novo da prefeitura (então, recém-construído), na Rua Siqueira Campos.
Uma semana depois, as acrobacias foram realizadas em Pelotas, desde o alto do Rex Hotel até o Edifício Del Grande, ao lado do Theatro Sete de Abril. Após um pulo em Rio Grande, no dia 18 de maio, os acrobatas subiram a Serra, onde promoveram suas estripulias na antiga Praça Rui Barbosa, em 5 de junho. Reportagem do jornal Pioneiro da época fazia um alerta: “Não resta a menor dúvida de que quem sofre dos nervos não deve assistir a espetáculos dessa natureza, embora a beleza que transmitam esses verdadeiros homens voadores”. Não havia cobrança de ingressos – a trupe passava o chapéu para arrecadar colaborações espontâneas, como recomenda a tradição dos artistas de rua.
O show contava com oito esquetes, a saber: O Voador, Motociclo Aéreo, A Travessia Solitária, O Mastro Humano, O Trapézio Duplo, A Travessia às Cegas, Convite ao Bailado e Eletrizante. Essa última, até pelo nome dava para adivinhar, era a mais arrebatadora. Tanto que, pouco antes de começar, os organizadores distribuíam um folheto aos espectadores com o seguinte teor: “Número inconveniente para pessoas que sofrem dos nervos. A maravilha do equilíbrio combinado. Causa calafrios o desafio às alturas feito pelos três acrobatas alemães. Com motociclo, trapézio e escada, chegam à máxima exibição que tanta fama lhes deu”.
Ainda que não merecessem igual advertência, os demais capítulos também eram de deixar o coração aos pulos, quase saindo pela boca. Em Caxias do Sul, por exemplo, “A Travessia Solitária era feita sobre um cabo de 16mm, entre o Edifício Minghelli (o prédio da Joalheria Kayser) e um poste instalado próximo à Rua Dr. Montaury, passando exatamente pelo centro do chafariz. (...) Em O Voador, o acrobata ficou suspenso apenas por uma corda amarrada na nuca e, de braços abertos, deslizou pelo cabo em alta velocidade desde o alto do Edifício Minghelli até a frente da Catedral Diocesana”, como contou Rodrigo Lopes, na coluna Memória, do jornal Pioneiro, em 2019.
Fundado em 1946, o Zugspitz Artisten era formado por Alex Schack, Siegward Bach, Rudi Berg e Miss Sylvia, sob a direção do também alemão Wilhelm Butz. O empresário da trupe era Maximilian Von Haercken. O nome da companhia fazia referência ao monte Zugspitz, o mais alto da Alemanha, cenário no qual o quarteto havia dado início às suas façanhas aéreas.