No último dia 7 de fevereiro, foram completados 25 anos da morte do chargista e cartunista SamPaulo, criador de um dos personagens mais queridos da imprensa gaúcha, o Sofrenildo, um sujeito azarado, que exalava bondade e honestidade. “O cotidiano e o futuro da cidade enchem-se de luz e sombras com a morte de Sampaulo. A luz inunda a memória. As sombras restam de mãos dadas com a ausência irreparável”, escreveu o colunista Paulo Sant’Ana, em Zero Hora, último jornal em que o desenhista publicou suas charges diárias.
– Nós, seus familiares, sentimos muita saudade e acreditamos que ele faz bastante falta nestes dias tumultuados que o mundo e o Brasil estão vivendo. Que charges faria com seu humor agudo e seu lápis afiado! – diz a cantora Maria Lúcia Sampaio, sobrinha de SamPaulo e filha de Sampaio (falecido em 2017), outro pioneiro do cartum e da charge na imprensa do RS.
Sant’Ana descreveu SamPaulo como um “homem sequioso de vida”, cuja “alma de artista” se entregava aos extremos, “na bebida, no cigarro, no papo indefectível das noites e tardes no Bar do Juvenal, na André da Rocha”. Além da boemia, outra paixão era o futebol (era torcedor fanático do Internacional), ambos aspectos populares que o chargista trouxe da origem das ruas para o jornalismo. Para Luis Fernando Verissimo, “SamPaulo era o mestre de toda essa turma de cartunistas e conseguiu uma coisa extraordinária: tinha um traço crítico, contundente e, ao mesmo tempo, simpático”.
Nascido Paulo Brasil Gomes de Sampaio, em 3 de maio de 1931, em Uruguaiana, SamPaulo começou no jornal Clarim, da Capital, em 1954. Pouco depois, ingressou no diário A Hora, onde fez parte de uma equipe de talentos que incluía o escultor Xico Stockinger (diagramador da publicação), os escritores Josué Guimarães e Fausto Wolff, o humorista Carlos Nobre e os colunistas Gilda Marinho e Luiz Osório. Trabalhou ainda no Diário de Notícias, no Correio do Povo e na Folha da Manhã, além de Zero Hora.
Ele tinha talento também para atuar em outras mídias. Na TV Piratini, protagonizou o programa semanal SamPaulo e seus Bichões, no qual produzia seus desenhos ao vivo diante das câmeras. Em 1964, lançou H,u,m,o,r do 1º ao 5º, um dos primeiros livros de cartuns e charges do Brasil. Publicou ainda Como Eu Ia Dizendo (1990) e De Pedro a Collor (1992), além de Os Pecados da Língua (1999), em coautoria com Paulo Ledur. Participou das antologias Quatorze Bis (1976), Anedotário da Rua da Praia (1983) e Separatismo – Corta Essa (1993). Uma faceta pouco conhecida do artista é a de compositor – com o violonista Darcy Alves compôs a canção Amor à Toa, gravada pela sobrinha, em 1999.
Maria Lúcia preserva o legado do tio graças ao blog que criou em sua homenagem, em maio de 2012, que registra, desde então, cerca de 170 mil visitantes. Desde 2017, o acervo com desenhos, catálogos e livros, além de fotografias e documentos pessoais, também está disponível para pesquisa no Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS.