Assim como os atuais gestores das grandes cidades se preocupam com o ordenamento de veículos motorizados no espaço urbano, houve um tempo em que as autoridades quebravam a cabeça para descobrir o que fazer com as carroças e carretas. Não era para menos. No século 19, elas eram os principais meios de circulação de mercadorias.
Em Porto Alegre, o primeiro local destinado às carretas de boi foi a área onde hoje se localiza o Mercado Público. É que, antes da construção do grande centro comercial da cidade, junto ao Largo do Paraíso (atual Praça XV de Novembro), era ali que estacionavam os veículos de tração animal. Na época, havia uma proibição de que circulassem dentro da área urbana, evitando que passassem por becos como o do Rosário (atual Avenida Otávio Rocha), do Poço (Borges de Medeiros) ou do Fanha (Rua Caldas Jr.). Além disso, os carreteiros estavam proibidos de soltar seus bois no local de parada, assim como circular sem que eles estivessem devidamente amarrados.
Quando, em 1842, o presidente da Província, Saturnino de Souza e Oliveira, determinou que se iniciasse a construção do Mercado Público (inaugurado, em sua primeira versão, em 1844), cogitou-se transferir o pouso das carretas para a região em que agora se situa a Praça Rui Barbosa (onde estão instalados um terminal de ônibus e o Shopping do Porto, popularmente conhecido como Camelódromo).
Essa área entre a costa do Guaíba e o Caminho Novo (mais tarde, Rua Voluntários da Pátria) havia sido ocupada, inicialmente, por estaleiros. Tanto é verdade que, em documentos oficiais do início do século 19, ela aparece como Praia do Estaleiro ou Praça do Estaleiro, como relata Sérgio da Costa Franco, no Guia Histórico de Porto Alegre. Também havia se estabelecido no local a sede transitória do matadouro público do município, quando Porto Alegre esteve sitiada pelos farrapos.
O projeto de transferência de carroças e carretas demorou a se consumar. Apenas em 1879, os vereadores da Capital mandaram demarcar e aterrar a praça. Em 11 de dezembro daquele ano, a Câmara determinou expressamente como paradeiro provisório “das carretas que tiverem de soltar bois, a começar do dia 1º de janeiro futuro, a praça da Rua Voluntários da Pátria, em frente à Rua Dr. Flores”, registra o historiador. Na mesma oportunidade, os edis intimaram o proprietário de um estaleiro que ainda resistia no fundo da praça a removê-lo em um prazo de seis meses.
Em 1888, a Praça das Carretas passou a se chamar Praça Visconde do Rio Branco (a denominação atual, de Praça Rui Barbosa, foi adotada em 1936). A mudança de nome não foi por acaso. Àquela altura, já havia um movimento para retirar as carretas dali.
A ideia era mandá-las para uma área ainda mais afastada, a Várzea, no Campo da Redenção, no Bom Fim, o que, de fato, aconteceu. Mas “os estudos e as controvérsias se arrastaram por algum tempo, de modo que só em 1894 houve determinações taxativas para que os carreteiros não entrassem no centro da cidade e que se detivessem na Várzea. Porém, mesmo sem as morosas e pesadas carretas de boi, a Praça Visconde do Rio Branco continuava frequentadíssima por carroças, possuindo, em razão disso, um bebedouro para animais”, anota Costa Franco.