O Educandário São João Batista, uma instituição filantrópica localizada no bairro Ipanema, na zona sul de Porto Alegre, completa, hoje, 83 anos atendendo jovens com deficiências múltiplas. Foi Déa Cesar Coufal, uma mulher da alta sociedade, que, aos 36 anos, deu início ao acolhimento de crianças e adolescentes acometidos por poliomielite — doença que pode causar paralisia dos membros inferiores.
Tudo começou quando Déa trabalhava de maneira voluntária em uma creche da região. Certo dia, uma mãe chegou com dois filhos ao local e deixou apenas um deles. Isso causou estranhamento em Déa, que prontamente perguntou o motivo da mãe não deixar o outro menino. Então, a mãe respondeu: “não deixo, pois ele é deficiente”.
Déa foi questionar a equipe diretiva do local e entendeu que, naquela época, de fato, o estatuto não permitia que a creche atendesse crianças que possuíam algum tipo de deficiência.
A partir daí, a fundadora buscou parcerias para iniciar o projeto, cujo nome, inicialmente, era Casa da Criança Inválida — alterado sete anos depois para o atual, devido à conotação negativa da última palavra. Em um primeiro momento, a instituição atuava em quartos do Hospital Santa Casa de Misericórdia, com auxílio de profissionais do próprio estabelecimento hospitalar.
Entretanto, meses depois, o hospital não conseguia mais disponibilizar o acesso necessário. Com isso, o projeto alugou uma casa na Av. João Pessoa, onde recebia as crianças. Os mesmos médicos prosseguiram com os atendimentos no local. Por lá, eles permaneceram um ano, até que o proprietário precisou vender o imóvel.
A família Coufal, então, cedeu um de seus terrenos para que Déa pudesse estabelecer o trabalho de sua instituição. Seu marido, Oswaldo Coufal, que era engenheiro, planejou a ampliação da casa que já existia no local.
O lançamento da pedra fundamental da instituição contou, nada mais nada menos, com a presença do chefe da nação à época, Getúlio Vargas. Desde então, o prédio do Educandário é um ponto de referência na região.
Déa atuou em prol de sua organização até os últimos anos de vida. Ela faleceu em 1967, vítima de insuficiência renal.
Hoje, por lá, mais de 150 jovens, de famílias que possuem renda de até três salários mínimos, recebem atendimento médico, fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Todos podem permanecer na instituição até completarem 21 anos de idade. Além disso, no local, há uma escola que atende 34 crianças entre a primeira e quarta série do Ensino Fundamental.
Nas mais de oito décadas de trabalho, mesmo enfrentando diversas adversidades e com inúmeros riscos de fechamento de suas portas — a ala da fisioterapia aquática, por exemplo, está fechada há mais de quatro anos por falta de fisioterapeutas e recursos financeiros —, o Educandário segue dando todo o suporte às crianças e suas famílias.
Para continuar e aprimorar sua atuação em prol da qualidade de vida dos jovens, o Educandário conta com a ajuda da comunidade, por meio de doação de alimentos, produtos de higiene e de limpeza, além do trabalho voluntário e de apoio financeiro. Na visão de Eveline Borges Streck, presidente da instituição, as principais ajudas são a partir da dedução do Imposto de Renda devido, que podem ser feitas por pessoas físicas, destinando até 6% para o Funcriança. Já por pessoas Jurídicas, o percentual é de até 1%.
Colaboração de Leonardo Bender