Não sei exatamente quando as histórias em quadrinhos passaram a ser vistas como literatura cult ou uma manifestação pop. Na minha infância e adolescência, fui um ávido consumidor de gibis, ou “revistinhas”, como eles também eram chamados. Antes de serem conhecidas por HQs e despertarem interesse acadêmico, com a elaboração de teses sofisticadas, sem falar nas adaptações para o cinema que resultaram em fabulosa fonte de renda para os estúdios, as histórias em quadrinhos eram apenas uma maneira de lazer, então raramente praticado pelos adultos, direcionada ao público infantojuvenil, numa época pré-TV, que unia texto e informação visual e que podia ser encontrada em diversos gêneros: futurista ou ficção científica (Flash Gordon e Homem no Espaço), faroeste ou “de mocinho” (Zorro, Roy Rogers, Cavaleiro Negro) como se dizia, humor e comportamento infantil (Pimentinha, Luluzinha, Bolinha, Pinduca), de viés histórico (Príncipe Valente) e outros tantos como os super-heróis (Superman, Batman), ou mesmo ecológico (Tarzan) e folclórico (Pererê). E havia ainda, é claro, os dos personagens da Disney (Pato Donald, Tio Patinhas, Mickey etc.).
No final dos anos de 1950, início dos anos 1960, meu avô Natale ainda tinha um açougue (e morava) na Rua Duque de Caxias, próximo ao Alto da Bronze. Havia um apelo extra nas eventuais visitas aos meus avós.
Na calçada em frente, distante apenas uns 40 metros, ficava a casa de dois pavimentos em que funcionava, no térreo, a sucursal da revista O Cruzeiro, e, no andar superior, a residência de um amigo e colega do meu pai, o jornalista Tabajara Tajes, que dirigia o escritório local dos Diários e Emissoras Associados. Também ali operava a distribuidora de inúmeras publicações – HQs, inclusive.
Da janela, eu via quando estacionava um grande caminhão onde era colocada uma rampa, tipo escorregador, para efetuar a descarga dos fardos das revistas, que eram acomodadas em pilhas na garagem, ou em prateleiras numa sala anexa. Bastava eu e minha irmã, Maria Teresa, nos aproximarmos, e o gentil Tabajara nos convidava para entrar, abrindo para aquelas duas crianças as portas do “paraíso”.
“Podem apanhar o que quiserem”, dizia ele, enquanto catava um gibi de cada pilha para nos entregar. Tabajara Tajes, casado com a dona Dora (in memoriam), pai do fotógrafo Luis Tajes (que vive em Brasília) e da empresária e farmacêutica Maria Cristina (que vive em Torres), foi um cara importante na imprensa gaúcha. Ele morreu no início da década de 1980. Para mim, foi muito mais do que isso... Gratidão eterna, meu querido Tabajara Tajes.
Colaborou Jorge Silva