O texto a seguir foi enviado por Sandra Pilla do Valle, arquiteta formada pela UFRGS em 1995. Sandra, com a colaboração enviada, faz uma homenagem ao seu pai, Edgar do Valle, também arquiteto e responsável por diversos projetos inovadores edificados em Porto Alegre.
Edgar Sirangelo do Valle nasceu em Porto Alegre, em 1935. Com um ano de idade, foi para Rosário do Sul. Já adolescente, não havendo na cidade (que, na época, era bastante acanhada) cursos além do básico e primário, voltou à Capital para estudar no Colégio Anchieta, passando a residir com os avós.
Formou-se em Arquitetura e Urbanismo, em 1958, pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Após formado, já então casado com Maria Helena Pilla, ganhou uma bolsa Fulbright nos Estados Unidos, onde, no Illinois Institute of Technology, desenvolveu tese de mestrado sob a orientação de Mies van der Rohe, consagrado como o arquiteto número um da arquitetura moderna mundial, juntamente aos colegas Frank Lloyd Wright e Le Corbusier — cada um dentro de seu estilo.
Durante o desenvolvimento da tese, trabalhou um ano como arquiteto da firma C.F. Murphy, no detalhamento do edifício do Chicago Civic Center, o primeiro no mundo construído em corten, um aço que não exige manutenção, adquirindo com o tempo coloração marrom escuro.
Retornando a Porto Alegre, lecionou, em 1967, na Faculdade de Arquitetura da UFRGS e na de Engenharia de Produção da PUC, além da atividade particular com escritório profissional.
Edgar do Valle tem quatro filhas: Cristina, arquiteta, nascida em Chicago; Marcia, psicóloga clínica e esportiva; Sandra, arquiteta que trabalha com o pai; Flavia, professora na UFRGS, especializada em dança na NYUniversity.
Soluções pioneiras introduzidas por Edgar do Valle
No desenvolvimento de mais de 800 projetos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Bahia, Pernambuco e na cidade de Miami, o arquiteto introduziu inúmeras soluções inovadoras:
— Modulação estrutural, a base de todos os projetos, como, por exemplo, no Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues (Avenida Ipiranga, esquina Erico Verissimo), erguido em 1974.
— Fachada cortina de vidro, em 1973, na antiga sede do Banco Maisonnave (na Rua Sete de Setembro). Prédio já demolido.
— Esquadria de alumínio na cor bronze, em 1976, no edifício Juan Sondermann, (na Rua 24 de Outubro), atual sede da Valle Arquitetos.
— Edifício Charles de Gaulle, em 1977, primeiro prédio comercial na Avenida Carlos Gomes, com difícil aprovação por ser, até então, a rua das mansões. Ainda inovou tratando com acabamento em mármore as quatro fachadas e não só a principal, como usual na época.
— Heliponto em edifício corporativo, ano 2000, no Centro Comercial Mostardeiro (esquina com a Rua Mariante).
Além de muitas outras obras como: prédios pré-fabricados em concreto protendido; fluidez de espaços, divididos apenas com painéis, em vez de salas fechadas; muros de arrimo rústicos com pedras tipo taipa da colônia, substituindo os tradicionais cubos em granito cinza e rosa; amplas aberturas externas transparentes de piso a forro, forte integração com a natureza. Exemplos logo seguidos por outros arquitetos e hoje frequentes nas construções.
Inovações essas sempre procurando, em todas as suas obras, que: "a arquitetura seja o retrato da cultura de uma época traduzida em espaço", como preconizava o mestre Mies van der Rohe.
Inserem-se nos projetos de Edgar do Valle nossa cultura brasileira do concreto e vidro, destacando-se como materiais e tecnologias locais.
Aos 86 anos, em plena atividade, Edgar continua frequentando seu escritório diariamente, além de se dedicar seriamente à pintura de aquarelas, já tendo exposto seus trabalhos no Museu de Arte do RS (Margs) e em galerias de Linz, na Áustria, e em Nova York, nos EUA.