O texto a seguir é uma colaboração de Guilherme Ely, um apaixonado pelo antigomobilismo.
"O primeiro caminhão produzido no Brasil foi o FNM, sigla da Fábrica Nacional de Motores, uma empresa estatal, sob licença das italianas Isotta Fraschini, em 1949, e Alfa Romeo, a partir de 1951. Mantinha-se idêntico aos modelos criados na Itália, com o acréscimo das iniciais da nova marca na grade dianteira e, inicialmente, com apenas 30% de nacionalização. Ficaram conhecidos como os famosos Fenemê.
Até o início dos anos de 1950, nas precárias estradas brasileiras de chão batido, poeirentas ou enlameadas, rodavam, predominantemente, caminhões de pequeno e médio porte das marcas norte-americanas Chevrolet, Ford, Dodge, Fargo, Federal, Nash, Studebaker e International, mas também alguns Austin, Aclo e Bedford (ingleses), Opel, Borgward e FK (alemães), além dos Citroën e Renault (franceses).
Com o advento da produção dos primeiros automóveis brasileiros, em 1956, o Romi-Isetta e a perua DKW, houve um salto significativo na abertura de novas estradas e a pavimentação asfáltica de algumas rodovias por todo o país.
No rastro desse despertar automotivo, instalaram suas fábricas de caminhão no Brasil a alemã Mercedes-Benz (1956) e a sueca Scania-Vabis (1958). Começava, nessa época, a tão citada transição do modal ferroviário para o modal rodoviário — não só no transporte de cargas, mas também de passageiros, pois, com uma quantidade maior motores e chassis de caminhões disponíveis, mais ônibus eram encarroçados.
Para os proprietários e admiradores desses caminhões, soa como música o "ronronar mecânico" em alto, grave e compassado volume do FNM/Alfa Romeo, ou o longo zumbido de turbina do grande Scania-Vabis quando efetua a troca de marcha. O ronco forte do motor Detroit Diesel de dois tempos e alta rotação do GMC Marítimo, acompanhado de uma buzina que lembra o soar do apito dos navios. É algo inesquecível.
Muitos desses antigos, sonoros e possantes caminhões ainda são vistos rodando por aí; outros tantos estão restaurados e preservados em coleções particulares ou em museus, como o American Old Trucks, em Canela. A memória daqueles tempos de pioneirismo está viva e garantida".