Na edição do final de semana, abordamos a família Ahrons, responsável pelo escritório de engenharia mais importante do Estado entre 1885 e 1915. Faltou dizer que Guilherme Ahrons (ou Wilhelm, 1836-1915) era o filho mais velho de um casal de judeus. O pai, Wolf Abraham Ahrons, era banqueiro na cidade de Lüneburg, na Alemanha, e dono de uma fábrica de carruagens. Ele era amigo dos pais do famoso poeta judeu alemão Heinrich Heine e dono do palacete no qual morava a família Heine. Hoje, a propriedade de Ahrons na cidade de Lüneburg é tombada e conhecida como a Casa de Heine, pois o poeta e os pais dele ali residiram.
Como publicamos, Guilherme, aos 19 anos, veio, em 1855, embalado por um espírito aventureiro, com um amigo de nome Alexandre. Desembarcou do veleiro na Baía de Babitonga, hoje Baía de São Francisco, em Santa Catarina. Comprou terras no loteamento Dona Francisca (esposa do príncipe Francês Joinville), onde hoje é a cidade de Joinville. Dona Francisca era, na época, uma central administrativa para recepcionar e atender os imigrantes vindos da Alemanha, Suíça, Suécia e Áustria. Este centro de recepção de imigrantes situava-se às margens do Rio Cachoeira, conhecido pelos imigrantes como A Praia, e era gerido pela cidade de Hamburgo, que mandara funcionários seus para dar apoio administrativo ao centro.
Da viagem de veleiro para o Brasil, do centro de recepção de imigrantes e da vida de colono, há relatos escritos em alemão gótico que foram publicados, em Porto Alegre, em 1902, pela Editora Krahe e Gundlach. Guilherme também escreveu um longo relato a respeito das suas medições de campo em Bagé.
Há ainda dois relatos sobre a construção de pontes, do cais de Rio Grande e da presença nas minas de São Jerônimo. Há, também, um episódio separado de medição de um grande loteamento destinado a futuras colônias nas florestas de Santa Catarina, ao longo das margens do Rio Itajaí-Mirim.
Esse material foi traduzido para o português pelo professor Peter Walter Ashton. Quando pesquisava para escrever São Lourenço do Sul – Radiografia de um município – Das origens ao ano 2000, Edilberto Hammes descobriu a presença de Guilherme Ahrons ali, por meio de um mapa que ele elaborou sobre a Colônia de São Lourenço no ano de 1877.
Um dos filhos de Guilherme, o porto-alegrense Rodolfo (Rudolph) Ahrons (1869-1947), foi para Berlim, Alemanha, onde se formou engenheiro civil pela Escola Politécnica de Berlim. Graduando-se com distinção no curso, teve como prêmio um estágio na cidade de São Petersburgo, na Rússia, onde trabalhou durante pouco mais de um ano, tendo participado da reforma do palácio de verão do czar Nicolau II. Em agradecimento aos bons serviços prestados, recebeu do czar uma belíssima escrivaninha, que hoje se encontra no Hotel Plaza São Rafael, na Capital. O patriarca da família Schmitt, fundador da rede Plaza, tinha amizade com os Ahrons. É possível que a escrivaninha do engenheiro Rodolfo Ahrons se encontre naquele hotel em razão deste relacionamento de negócios e amizade.