Nesta época em que as séries de TV fazem tanto sucesso, é provável que eu seja um dos poucos assíduos telespectadores que jamais viram, ou acompanharam, alguma delas. Não é nenhuma vantagem. Sei que estou perdendo de ver boas produções a nossa disposição e que, agora, temos ainda a vantagem de poder escolher não só a série como o momento em que queremos ou de que dispomos para assisti-la.
Não sei explicar por que isso acontece. Suponho que seja um tipo de comodismo, algo como o prazer de sentar e comer o que é servido, ao contrário de ter que eleger a cada refeição o que será ingerido, como ocorre quando estamos viajando e que, depois de alguns dias, cansa.
Nada contra séries, até porque lembro bem da alegria que desfrutava quando, garoto, na tela do Cine Rio Grandense, em Capão da Canoa, aparecia mais um capítulo de King of the Rocket Man. Só idosos, como eu, sabem do que estou falando. No seriado (assim que eram chamados), de 1949, da Republic Pictures, o ator Tristram Coffin tirava do porta-malas do seu carro uma roupa especial, com duas turbinas nas costas e um comando de botões no peito, vestia um elmo metálico e se transformava no herói: o homem-foguete. O mocinho voava pelos céus da América tentando neutralizar ou desfazer as maldades perpetradas pelo vilão Dr. Vulcan e seus comparsas bandidos, que se vestiam como os gângsteres dos filmes policiais, com chapéu e tudo.
Quando o homem-foguete dava uma corridinha e saltava, batendo com os dois pés no chão para alçar voo, o cinema vinha abaixo. O chão de madeira, em plano inclinado, assim como as cadeiras com seus assentos basculantes, estremecia com as dezenas de pés dos espectadores batucando. Pura e ingênua emoção.
Sugiro aos mais velhos buscar no Google/YouTube os vídeos. Está tudo lá. São 12 capítulos, cheios de carros de época, toscos laboratórios eletrônicos e o inigualável sabor de bem passado.