No mês de novembro de 1962, em sua edição nº 833, a Revista do Globo publicou uma reportagem do jornalista Joseph Zukauskas com o título “Os rios gaúchos estão agonizando”. O texto alertava que, “vitimados pela poluição de suas águas”, especialmente os rios que compõem o delta do Guaíba já eram, naquele longínquo início da década de 1960, portanto mais de meio século atrás, motivo de preocupação quanto a sua potabilidade e balneabilidade. A matéria fala da criação, em 1957, mas com atuação mais efetiva somente a partir de 1959, do Conselho de Controle de Poluição das Águas do Rio Grande do Sul. O órgão, constituído de 11 membros, “tem por missão orientar uma política no combate à contaminação das águas do Estado”. O repórter afirma que, mesmo sendo este o segundo criado no Brasil, o conselho “despertou tarde” para enfrentar o problema, e lembra que o parlamento inglês votou, em 1388 (portanto 568 antes do RS), uma lei estabelecendo proibições à poluição dos vales, rios e águas da Grã-Bretanha.
Aqui, o conselho, através da Diretoria de Saneamento da Secretaria das Obras Públicas, vinha procurando cumprir sua missão, “primeiro, através da catequese dos homens de indústria, no sentido de que não lancem os detritos dos seus matadouros, curtumes ou outras indústrias nos rios sem prévia imunização. Por outro lado, estão procurando impedir que novas fábricas estabeleçam novas fontes de contaminação, não desestimulando a industrialização, mas, simplesmente, procurando induzi-las a tratarem dos seus despejos”. Por aqui, tudo indica, o assunto era mesmo novidade, e essa deve ter sido uma das primeiras vezes que a imprensa tocava no assunto.
Zukauskas faz, ainda, referência ao 1º Seminário Regional de Poluição das Águas, realizado em Porto Alegre, em abril de 1961, onde o professor Amadeu da Rocha Freitas apresentou um estudo que revelava que 84% da água captada para ser distribuída à Capital, e que era tratada nas hidráulicas do Moinhos de Vento, São João e Tristeza, era de péssima qualidade. Os restantes 16%, que alimentavam as hidráulicas da Lomba do Sabão e da Serraria, eram de ótima qualidade. Amostras apontavam que os pontos mais poluídos do Guaíba eram a foz do Rio Gravataí, em frente ao Cais dos Navegantes e na altura do aterro da Beira Rio, da Praia de Belas, do Cristal, da Vila Assunção e da Tristeza.
Para concluir, uma reflexão de Zukauskas na reportagem: “Rios poluídos não ameaçam apenas a sua fauna. O próprio agente de contaminação, o homem, passa a ser a sua principal vítima”.