A preservação da memória da colonização italiana ganhou mais um item importante no último mês de dezembro, com a entrega à população de um casarão erguido por imigrantes, em 1898, que foi totalmente restaurado e transformado em museu e centro cultural. Essa nova atração turística está em Otávio Rocha, distrito do município de Flores da Cunha, 25 quilômetros distante de Caxias do Sul.
Desde 1986, quando foi tombada, a antiga residência do casal Felice Veronese e Domênica Sella Veronese faz parte do Patrimônio Histórico Estadual. Vindo da Itália em 1882, aos 27 anos, Felice casou-se, em 1884, com Domênica Sella. Eles tiveram 10 filhos: Luiz, Henrique, Luiza, Albino, Elisa, Attilio, Rosina, Ernesto, Ida e Maria. As duas últimas morreram ainda crianças.
No local em que se estabeleceram, viviam da agricultura, cultivavam videiras e produziam vinho e grapa, destilado obtido a partir do bagaço da uva. O espaço onde viveu a família é ocupado, agora, por exposições, oficinas de gastronomia e de educação patrimonial.
Há, ainda, um bistrô onde os visitantes podem degustar produtos da região, como vinhos e espumantes. Foi no casarão que Luiz, um dos filhos do casal, contrariando a vontade do pai, que o queria ajudando na roça, deu início aos primeiros experimentos em química, tentando aprimorar o vinho e fazendo pólvora para fabricar fogos de artifício, tão usados, especialmente no Interior, nas festas e celebrações.
"Foi lá que meu tio começou a Indústria Veronese Produtos Químicos, fundada em 1911, que está em Caxias do Sul há 107 anos", orgulha-se Paulo Ernesto Veronese, 62 anos, filho de Attilio e neto mais novo de Felice.
O restauro teve início no primeiro semestre de 2015, com projeto do arquiteto Edegar Bittencourt da Luz, também responsável pela recuperação do Mercado Público de Porto Alegre, atingido por um incêndio em julho de 2013, afinal, o Casarão dos Veronese merece, pois é um exemplar único da cultura da imigração italiana no sul do Brasil, com paredes em pedra basalto, abundante na região, e acabamentos em tijolos nos fechamentos das aberturas, estas provavelmente em madeira de araucária, a mais disponível na época.
A intervenção que mais chama atenção é o telhado. Como não havia mais telhas de barro como as originais, a cobertura foi feita com telhas metálicas diretamente sobre as paredes de pedra. Essa estrutura de vidro e metal parece flutuar, marcando o que é antigo e o que é novo – descreve a gestora cultural do projeto, Cristina Seibert Schneider.
Felice morreu em 1919, aos 63 anos. Como os filhos mais velhos já moravam em Caxias, Domênica vendeu a propriedade no ano seguinte para Giovanni Baptista Schio, que adquiriu o imóvel para que o filho Libânio morasse com a mulher, Luísa Michelon. Domênica morreu em 1959, aos 96 anos.
A obra teve recursos provenientes da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC), com patrocínio das empresas Florense e Keko, além da prefeitura de Flores da Cunha, com investimento de aproximadamente R$ 3 milhões. A visitação é gratuita e mais informações podem ser obtidas pelo telefone (54) 3279-1092.
Fontes: Diego Adami, jornal Pioneiro, e Floriano Molon