A geração deste milênio nunca viu um realejo e provavelmente nem saiba do que se trata, embora tenha surgido na Europa há mais de 200 anos. É o nome de uma caixa musical feita artesanalmente, dotada de foles e um cilindro. Acionando um dispositivo e girando uma manivela, pode-se ouvir vários tipos de música.
A finalidade do instrumento portátil era atrair curiosos, que, mediante a introdução de uma moeda, viam um pequeno periquito pegar com o bico um pedacinho de papel onde estava escrito algo ligado ao futuro do interessado. Já foram utilizados macacos em lugar de pássaros, daí por que o realejo era também conhecido como o mico da sorte.
Chegou ao Brasil, onde nunca foi fabricado, no início do século passado. Segundo informações, no interior de São Paulo e em alguns pontos do país, ainda hoje existem raros exemplares de realejo, que são levados como atração a eventos, feiras e festas de casamento.
Em Porto Alegre, o colunista lembra ter visto um deles, na década de 1960, no Parque Farroupilha. Era conduzido sobre um carrinho com rodas. Provavelmente, um dos últimos a se apresentar por aqui.
Mario Quintana (1906-1994), no livro Canções, de 1946, tem um poema que abre com esta estrofe: "O outono toca realejo/ No pátio da minha vida./Velha canção, sempre a esma,/Sob a vidraça descida".
João do Rio (1881-1921), numa crônica sobre músicos ambulantes, cita o caso de um cidadão que compra um realejo com bonecos mecânicos e, mediante certos truques, ganha muito dinheiro. O escritor, estendendo-se sobre o assunto, observa que há realejos que sustentam numerosas famílias, realejos escravizadores, realejos solteiros e malandros e "realejos virgens prontos para a fuga".
Pode-se dizer que a tradição folclórica do realejo está em extinção. Quem possui um, guarda-o a sete chaves e cuida muito bem do instrumento.