Palco de grandes decisões políticas, moradia de figuras notáveis, o Solar dos Câmara está completando 200 anos. Localizada na Rua Duque de Caxias, nas proximidades dos três poderes do Estado, a residência – hoje transformada num espaço público cultural, adquirida pela Assembleia Legislativa em 1981 – faz parte da história do Rio Grande do Sul.
Sua construção foi iniciada em 1818, 10 anos após a chegada da corte portuguesa ao Brasil. Era para servir de moradia a José Feliciano Fernandes Pinheiro (1774-1847), Visconde de São Leopoldo, um nobre nascido em Santos, de grande projeção política e intelectual.
O Solar é um exemplar raro do estilo colonial português, apresentando em seu interior pinturas murais e amplos espaços, como a alcova, um quarto sem janelas, e uma casa senhorial servida com o que era comum na época por uma dezena de escravos, encarregados das tarefas domésticas, do trato dos cavalos e também de conduzir a viscondessa Maria Elisa Júlia de Lima a passeios numa cadeirinha especial. Os serviçais se acomodavam na senzala, localizada no piso inferior do prédio.
Em 1874, o casarão passou por uma grande reforma, incorporando a sua arquitetura elementos de estilo neoclássico, com a ampliação da ala norte e a criação de um pátio interno e de um terraço. Estátuas de divindades greco-romanas passaram a compor a ornamentação externa. Seu valor histórico foi reconhecido em 1963, quando o prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Novas melhorias foram feitas após a aquisição pela Assembleia Legislativa.
O segundo morador do Solar foi José Antônio Corrêa da Câmara (1824-1893), militar com destacada atuação na Revolução Farroupilha e na Guerra do Paraguai. Deixou seu nome na atual Rua General Câmara.
O terceiro e último morador foi o professor Armando Pereira da Câmara (1898-1975), bisneto do Visconde de São Leopoldo. Primeiro reitor da PUCRS (1948), eleito senador em 1954, exerceu o cargo por apenas dois anos. Não deixou descendentes e, após sua morte, o Solar ficou desabitado por longo tempo.