Sua duração não foi longa, nem chegou a 42 anos, de fins de 1899 a 1941. Teve até quatro designações, mas a que prevaleceu foi a mais popular: Trenzinho da Tristeza. Sua história completa foi contada por um estudante de Arquitetura, André Huyer, em 2010, numa aprofundada pesquisa de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, transformada, em 2015, no livro A Ferrovia do Riacho – Do Sanitarismo à Modernização de Porto Alegre (Editora Evangraf).
Apesar de sua curta existência, a ferrovia deixou marcas explícitas na estrutura física da cidade, na sua própria história e na memória de muita gente. Decisiva para o crescimento da Zona Sul, foi cantada em prosa e verso por poetas e cronistas do início do século passado. Chama atenção o fato de ter sido construída pelo governo municipal. O projeto do trem foi concebido especialmente para o transporte de cubos contendo o esgoto cloacal das residências até a Ponta do Dionísio, mas já no ano seguinte, em 1900, passou a ser utilizado por passageiros, o que durou até 1936. Teve até quatro locomotivas, importadas da Alemanha, movidas inicialmente a vapor produzido por lenha, depois por carvão mineral.
No início, seu traçado ia até o bairro Tristeza. Em 1912, chegou até Pedra Redonda. Em 1926, fez conexão com a Vila Nova, quando se inaugurou também a estação no centro da cidade, próximo ao Mercado Público. Antes, a estação ficava junto ao riacho, perto da ponte de pedra. Em 1927, a ferrovia foi arrendada durante três anos. Em 1933, foi repassada ao governo do Estado, sendo administrada pela Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS). Em 1936, devido à concorrência dos ônibus, encerrou o transporte de passageiros, mas manteve a linha Vila Nova, prolongada até o Matadouro Modelo, onde hoje se encontra o quartel do Exército, na Serraria. Em 1941, encerrou definitivamente sua circulação, devido à grande enchente que alagou a cidade. A Ferrovia do Riacho teve um indiscutível papel social, sem nunca ter dado lucro financeiro.
O Almanaque encontrou um antigo usuário do Trenzinho da Tristeza, o engenheiro aposentado Mário Landgraf (91 anos). Ele lembra com saudade do tempo em que o usou regularmente para ir da Zona Sul ao Colégio Farroupilha, na Rua Alberto Bins. O destino final da última locomotiva não é nada elogiável. Na década de 1960, esteve em exposição no Parque Farroupilha, mas acabou tendo seus equipamentos roubados. Passou breve tempo no Parque Saint’Hilaire, quando a VFRGS a cedeu ao Museu do Carvão, em Arroio dos Ratos, onde também entrou em processo de degradação. Depois, foi passada para a prefeitura de Carlos Barbosa, onde não teve melhor sorte. Desde 2008, está totalmente abandonada em um desvio da ferrovia do vinho.