Dois surtos de covid-19 em hospitais psiquiátricos de Porto Alegre têm preocupado servidores e representantes sindicais. Até agora, teriam ocorrido dois óbitos de pacientes do Hospital Psiquiátrico São Pedro e cinco do Hospital Colônia Itapuã — a Secretaria Estadual da Saúde (SES), em nota divulgada na sexta-feira (24), reconheceu uma morte no São Pedro e quatro em Itapuã. Há divergências também em relação aos casos de pessoas contaminadas — governo, funcionários e o Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul (Sindsepe-RS) apresentam números diferentes.
Profissionais que atendem os pacientes nas duas instituições reclamaram ao Sindsepe-RS de falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e de itens para limpeza e higiene pessoal, além da não substituição de funcionários afastados e da baixa aplicação de testes para detecção do coronavírus.
Na sexta, o sindicato apresentou denúncia referente aos surtos ao Ministério Público do Trabalho. Na última terça (21), foi encaminhado um ofício à Secretaria Estadual da Saúde, solicitando uma audiência com a titular da pasta, Arita Bergmann.
De acordo com Diva da Costa, presidente do Sindsepe-RS, as queixas sobre escassez de EPIs se acumulam desde o início da pandemia. Nos momentos mais críticos, houve situações em que um trabalhador recebia uma máscara cirúrgica simples para usar durante todo o expediente, enquanto o recomendado por especialistas é que ocorram trocas em intervalos de duas horas ou quando a proteção estiver úmida (orientação para as máscaras simples). Outros itens, como máscaras do modelo N95 (com durabilidade maior), aventais e escudos faciais, também seriam fornecidos em quantidades insuficientes.
No caso do São Pedro, que acolhe 59 pacientes que vivem na instituição e também casos para internação provisória — em instalações separadas —, a admissão dos recém-chegados ocorreu, durante um bom tempo, segundo Diva, sem um protocolo que previsse o isolamento dos doentes vindos de fora. Pelos relatos recebidos pelo sindicato, já estaria em torno de 50 o número de resultados positivos entre os moradores do hospital. Quanto aos servidores, seriam de 20 a 25 afastados por diagnóstico suspeito ou confirmado de infecção pelo coronavírus (sem poder precisar quantos já teriam retornado). A presidente do Sindsepe reclama da dificuldade de contato e acesso a informações:
— Não consigo entrar lá. A direção não nos recebe, não nos atende.
Uma funcionária do São Pedro que pede para não ser identificada afirma que as reclamações partem de um grupo específico de colegas, que "não quer nada com nada", em que estariam incluídos alguns que nem estão atuando no momento, beneficiando-se da possibilidade de se afastar da linha de frente do combate à pandemia por pertencerem a grupos de risco. Outra servidora, chateada com as acusações que julga injustas, afirma que os empregados usam a devida paramentação para o expediente e que as condições de trabalho seriam inclusive melhores do que as encontradas nas áreas restritas para covid-19 de um dos principais hospitais da Capital.
A diretora técnica da área hospitalar do São Pedro, Liliane Dias de Lima, disse não poder se manifestar a respeito do tema, tarefa que caberia exclusivamente ao governo estadual. Contatada pela reportagem de GaúchaZH, que solicitou uma entrevista com a secretária, a assessoria de imprensa da SES apenas repassou a nota divulgada na véspera, informando que Arita não estava disponível. Depois que o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou, na sexta, ter sido diagnosticado com covid-19, colaboradores próximos aguardam, em isolamento, o resultado de exames. Na tarde deste sábado, foi divulgado que o teste de Arita deu negativo para a doença.
Conforme as informações da nota, após a aplicação de 65 testes em pacientes do São Pedro, constataram-se 32 resultados positivos — todos referentes a moradores permanentes dos residenciais terapêuticos. A assistência a quem precisa é prestada na enfermaria local ou em hospitais de referência para coronavírus. Dezoito servidores foram afastados — nove testaram positivo e nove foram classificados como casos suspeitos. A morte reconhecida pela secretaria é a de uma residente de 78 anos. O texto destaca ainda que pacientes com covid-19 ficam isolados dos demais e que todos os que chegam para internação são submetidos a teste, passando 72 horas na triagem para avaliação. Até agora, nenhum caso da doença foi detectado entre os admitidos para internação provisória.
A SES alegou ainda que todos os funcionários assinaram um termo de recebimento de EPIs, distribuídos conforme a necessidade de cada setor, não havendo falta de itens.
Em relação ao Hospital Colônia Itapuã, o Sindsepe recebeu o relato de oito funcionários com covid-19 confirmada e cinco com suspeita de contaminação por coronavírus. Desses 13, sete já teriam retomado suas atividades após cumprirem o período de afastamento obrigatório. A SES indica que, somados servidores e pacientes testados, encontraram-se 15 infectados. Dos oito funcionários com resultado positivo, quatro já estariam recuperados.
Quanto às mortes, a SES detalha que foram quatro pacientes homens, com 68, 78, 81 e 84 anos. Todas as medidas de prevenção vêm sendo tomadas, garante a pasta, incluindo a disponibilização dos os EPIs necessários para funcionários e pacientes.