Para tentar acelerar a testagem de covid-19 no Rio Grande do Sul, atualmente concentrada no Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) organiza sua estrutura dentro do Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS), no Centro da Capital, para realizar exames a partir desta semana.
Em um primeiro momento, serão feitos 500 testes represados de amostras coletadas em profissionais de saúde. O ICBS vai seguir os protocolos e será supervisionado pelo Lacen, aplicando o mesmo modelo de testagem usado pelo laboratório estadual. Para iniciar os trabalhos, as equipes aguardam a chegada dos kits importados:
— Estamos com praticamente tudo pronto, fazendo treinamento presencial com as equipes. Esperamos a chegada total dos reagentes. Uma parte chegou na semana passada, e outra deve chegar até quarta-feira (8) — afirma a diretora do instituto, professora Ilma Simone Brum da Silva.
Dentro das dependências da universidade, os testes seguirão três etapas principais. A primeira é a extração do RNA do vírus das amostras dos pacientes. Em seguida, o RNA é transformado em DNA. Depois, o material vai para reação em uma máquina de PCR, onde são utilizados os grupos de reagentes para a detecção ou não do vírus. Neste modelo, já é possível detectar o vírus 24 horas após o contágio.
Em duas semanas, o Instituto de Ciências Básicas da Saúde conseguiu reunir um cadastro de 170 professores, pós-graduandos, técnicos administrativos e alunos de iniciação científica. A chamada de profissionais estava restrita ao ICBS, mas técnicos de outras unidades da UFRGS também se colocaram à disposição. Todos irão trabalhar de forma voluntária. Ilma estima que os 500 testes iniciais poderão ser finalizados em cinco ou seis dias.
— Temos expertise em fazer ciência e dar aulas, mas realizar testes clínicos, especialmente em grande escala, é uma experiência nova — admite.
O instituto elaborou uma logística com base em cada passo do teste, no fluxo de exames, análises de protocolos, adequação de espaço físico e na organização de oito máquinas de PCR, fundamentais para execução do teste. A universidade também vai dispor de equipes de reserva, caso profissionais precisem ser afastados.
— Estamos montando uma estrutura de guerra. Vamos trabalhar com duas equipes, de seis horas cada uma. Mas daqui a pouco, com aumento da demanda, pode vir a atuar 24 horas por dia. Tenho trabalhado das 7h à meia-noite. É uma satisfação dar este retorno à comunidade, com a expertise que temos — afirma a professora.
Um dos fatores que limita a capacidade inicial de testagem, explica a professora, é a etapa de extração do RNA, que é feito de forma manual, o que possibilita que 80 a 100 testes sejam feitos por dia. Se dispusesse de um extrator automático de RNA, poderia chegar a mil testes diários. De acordo com Ilma, esta máquina custa R$ 305 mil, e duas frentes estão mobilizadas para sua aquisição: em uma delas, uma empresa privada faria a compra e em outra, via governo do Estado, que está buscando alternativas para financiá-la.
— Estamos com toda estrutura montada. A ideia é auxiliar o Estado e testar o maior número possível de pessoas.
Os kits necessários para os primeiros 500 testes foram comprados pela UFRGS, em um investimento de R$ 60 mil — R$ 120 por exame. Os próximos lotes serão financiados pelo governo do Estado.
— A proposta que fizemos ao Estado é que eles repassem o valor para a Fundação de Apoio da UFRGS (FAURGS), onde teremos mais agilidade na próxima compra, não dependemos de pregão ou dispensa de licitação.