- Rio Grande do Sul tem 1.286 pessoas com registro de contaminação por covid-19.
- Porto Alegre tem 439 diagnósticos positivos para covid-19 e 14 mortes.
- Passo Fundo tem 103 casos confirmados e 11 mortes, tornando-se a segunda cidade do Estado com mais mortes.
O aumento no número de casos e de óbitos por coronavírus no Interior lança sinal de alerta para as novas rotas que o vírus possa traçar em solo gaúcho. Nesta segunda-feira (27), a doença avançou para 129 municípios do Estado, com 1.256 casos confirmados e 45 mortes, de acordo com informações da Secretaria Estadual de Saúde.
Professora de epidemiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lúcia Pellanda explica que a pandemia segue sua rota e hierarquia de circulação. Primeiramente, seu trânsito se dá em locais de maior movimentação de pessoas, como grandes centros e municípios maiores. Posteriormente, ele se encaminha para as regiões mais afastadas e localidade menores. Hoje, a covid-19 está em 129 municípios do Estado.
— Por isso, é importante que cada cidade se comporte como um país para barrar a entrada do vírus, controlar a doença e reduzir seu impacto — diz a professora.
Vale notar que, no começo de abril, 62% dos doentes estavam em Porto Alegre, número que agora se aplica aos demais municípios gaúchos, enquanto o percentual na metrópole recuou. Atualmente, em Passo Fundo, por exemplo, a taxa de incidência da doença na cidade é de 51 para cada 100 mil habitantes. Em Lajeado, esta ela chega a 64 e em Marau a 121, segundo a SES. A título de comparação, a Capital registra 29 notificações positivas para covid-19 para cada 100 mil pessoas.
Tendo em vista o comportamento do vírus, a especialista faz o alerta:
— Se os casos ainda não estão crescendo exponencialmente agora é porque, no passado recente, as medidas de distanciamento social foram tomadas, cumpridas e surtiram efeito. A gente não pode deixar essa balança se inverter. Não pode relaxar e esquecer dos cuidados que precisam ser tomados.
A reportagem de GaúchaZH entrou em contato com a SES para saber se há uma projeção no número de mortes e que tipo de orientação é dada para conter incidência de casos da covid-19 no Interior, mas não obteve retorno.
Mortes em Passo Fundo, Lajeado e Porto Alegre
As últimas vítimas fatais registradas são moradores de Passo Fundo, Lajeado e Porto Alegre. Nem todas as mortes anunciadas aconteceram nesta segunda-feira.
Pela manhã, foram anunciados dois óbitos em Passo Fundo: um homem que tinha 65 anos, histórico de doença cardiovascular e havia morrido na sexta-feira, e uma mulher de 70 anos com hipertensão e diabetes, que morreu no domingo. Ambos estavam internados no Hospital de Clínicas da cidade.
No final da tarde, foram confirmados mais dois óbitos na cidade do Planalto: uma idosa de 83 anos, que tinha doença cardiovascular crônica, estava no Hospital de Clínicas da cidade, e morreu nesta segunda-feira, e um idoso de 84 anos, que tinha doença neurológica crônica e estava no Hospital São Vicente de Paulo. O óbito dele ocorreu no domingo.
Em Porto Alegre, foi registrada pela manhã a morte de um homem de 86 anos, que era cardiopata e estava internado no Hospital Porto Alegre. Houve outra morte no domingo, que já havia sido contabilizada — um homem de 75 anos, sem registro de comorbidades, que estava internado no Hospital Moinhos de Vento.
As duas cidades são as que apresentam os maiores números de casos confirmados e mortes. A Capital tem 430 diagnósticos positivos para covid-19 e 14 mortes, enquanto Passo Fundo tem 102 casos confirmados e 11 mortes.
Em Lajeado, terceira cidade com maior número de casos de coronavírus, o óbito foi de uma idosa de 84 anos, que tinha doença cardiovascular e diabetes e estava internada no Hospital Bruno Born.
A SES divulgou ainda que foram registrados 20 novos casos nas seguintes cidades: Gravataí (1), Porto Alegre (3), São Leopoldo (7), Sapucaia do Sul (2), Três Cachoeiras (2) e Venâncio Aires (5).
Mortes podem aumentar com afrouxamento do distanciamento, diz epidemiologista
Conforme Lúcia, o descaso de determinada parte da população, que se aglomera em parques, pratica exercícios de forma conjunta – não respeitando a distância de 1m50cm, entre outros erros –, poderá trazer efeitos negativos para o sistema de saúde público gaúcho e para os números, até o momento, controlados de óbitos no Estado.
— É difícil fazer uma projeção, mas pessoas estão levando cada vez menos a sério a importância do distanciamento social. Isso poderá implicar, daqui duas semanas, em dados ruins para o trabalho que está sendo feito pelo poder público para conter a pandemia. As consequências das aglomerações de agora serão sentidas daqui uns dias — afirma, ressaltando que, mesmo com uma possível elevação no número de notificações e mortes, é viável reduzir a circulação do coronavírus e achatar a curva da doença se os cuidados com a lavagem das mãos e isolamento voltarem a ser praticados.
A professora da UFCSPA diz ainda que os dados de agora refletem o passado, já que pessoas infectadas pelo coronavírus ficam, em média, de duas a três semanas internadas:
— Este é um retrato do passado. De um momento quando o governador e prefeitos foram enérgicos e agiram precocemente. Isso nos permitiu não ter um crescimento exponencial no número de mortes. Mas vale lembrar que trabalhamos com dados incompletos, temos muitos casos de subnotificação, já que não são todos os indivíduos com sintomas de covid-19 que são testados.
E acrescenta:
— Tivemos um aumento nos casos, mas não um pico. É possível observar nos gráficos que ele está em uma curva ascendente. Só poderemos dizer que tivemos um pico quando esses dados começarem a diminuir novamente.