- Google informou que analisou dados anônimos de celulares para descobrir como está a mobilidade das pessoas em relação a transporte público, parques, lazer, farmácias, mercados, trabalho e residência
- Apesar do índice alto, redução de passageiros no Rio Grande do Sul está entre as menores do país
- Queda na ida a parques, praças e praias no Estado ficou abaixo da média nacional
O uso de transporte público no Rio Grande do Sul caiu 49% após o avanço do coronavírus, mostra relatório de mobilidade do Google divulgado na tarde da última quarta-feira (15). Apesar de grande, a queda é a sétima menor do país e está abaixo de Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A maior variação foi no Piauí, onde a procura por ônibus, metrô e trens diminuiu em 80%.
A conclusão é de análise do Google sobre dados anônimos de celulares para verificar a adesão ao distanciamento social no mundo. A empresa de tecnologia comparou deslocamentos entre 29 de fevereiro e 11 de abril (último sábado) às atividades realizadas entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro.
Foram analisadas movimentações a local de trabalho, parques e espaços públicos (o que inclui praças, praias e marinas), lazer (restaurantes, shoppings, cafés, cinemas, museus, livrarias e teatros), farmácias e mercados, trabalho e ainda a permanência na residência.
Só tiveram menor redução do que o Rio Grande do Sul no uso de transportes Distrito Federal, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nas capitais, 65% dos brasileiros usam transporte público, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). Em Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan afirmou à Rádio Gaúcha que a queda foi de 75% e que o sistema está à beira do "colapso".
O primeiro caso gaúcho de covid-19 foi registrado em 8 de março e, em 1º de abril, o governador Eduardo Leite (PSDB) decretou o fechamento de todo o comércio durante duas semanas, decisão prorrogada até 31 de maio. Os dados do Google, no entanto, mostram que os gaúchos começaram a aderir às medidas de distanciamento antes do decreto, uma vez que a mobilidade começou a cair em 8 de março.
À época, o Ministério da Saúde já pedia para os brasileiros ficarem em casa, e diversas empresas começaram a implementar o home office. O Estado, inclusive, teve redução de 36% nos deslocamentos para trabalho, mesma média nacional.
No dia a dia, os gaúchos desistiram, em primeiro lugar, de frequentar parques, praças e praias: a queda foi de 57%. No Rio de Janeiro, a busca por esse tipo de espaço público foi a que mais diminuiu, em 77%.
Idas a mercados e farmácias aumentaram em 2% do fim de fevereiro até o sábado (11) – vale lembrar, no entanto, que muitos salários caem na conta da população nos primeiros 10 dias do mês, o que pode elevar a procura para esse tipo de comércio. Ainda assim, só outros três Estados registraram aumento em vez de queda: Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. Em nível nacional, houve redução em 5% nas idas a esse tipo de comércio.
— A epidemia ainda está em fases iniciais no Brasil. São Paulo é o Estado em que ela começou mais precocemente e já está experimentando, junto a Amazonas e Amapá, sinais de que o sistema de saúde não está conseguindo atender à demanda. O Rio Grande do Sul é um dos Estados que, por ter adotado medidas precoces, neste momento está em um momento menos grave. É preciso observar que existem diferentes epidemias da covid-19 em cada local do Brasil — afirma Ronaldo Hallal, médico infectologista e consultor da Sociedade Riograndense de Infectologia.
A comparação do relatório mais atual com o estudo anterior mostra que o distanciamento social perdeu força no Estado. Se entre 6 de fevereiro e 5 de abril a queda nos deslocamentos a parques, praças e praias fora de 68%, no período de 29 de fevereiro a 11 de abril a redução foi menor, de 57%.
Para Hallal, os dados da última semana do Google mostram que "quando se verifica os períodos mais recentes, já se percebe um relaxamento dessas ações". Ele destaca a maior adesão ao distanciamento em Estados como Ceará e São Paulo, onde a população se viu obrigada a ficar em casa porque a epidemia está pior – enquanto que, no Rio Grande do Sul, o distanciamento foi implantado antes de a situação ficar ruim. Ele destaca que o relaxamento das restrições sociais deve aumentar o número de casos de coronavírus.
Até esta quinta-feira (16), o Rio Grande do Sul registrou 780 casos confirmados e 19 mortes pela covid-19. Médicos alertam, no entanto, que o número é muito maior e que há subnotificação pela falta de testes.
Os dados gaúchos:
Transporte
De 6/2 a 5/4: -62%
De 29/2 a 11/4: -49%
Parques, praças e praias
De 6/2 a 5/4: -68%
De 29/2 a 11/4: -57%
Lazer
De 6/2 a 5/4: -70%
De 29/2 a 11/4: -56%
Ida a mercados e farmácias
De 6/2 a 5/4: -28%
De 29/2 a 11/4: +2%
Trabalho
De 6/2 a 5/4: -31%
De 29/2 a 11/4: -36%
Permanência na residência
De 6/2 a 5/4: 18%
De 29/2 a 11/4: +17%