Primeiro, exercitamos a imaginação e a memória, agora, atiçamos o olhar. Se na semana passada seis colunistas de Zero Hora indicaram livros com relatos sobre jornadas mundo afora, agora é a vez de recomendar filmes que te fazem viajar sem sair de casa. Embarque em um passeio afetivo ou visite — com direito a adrenalina — paisagens espetaculares.
18 países em seis filmes
Ticiano Osório

Está faltando a América Latina, mas, mesmo assim, é invejável o passaporte de Tom Cruise a serviço da franquia Missão: Impossível. Cenários naturais, históricos ou contemporâneos de 18 países foram vistos nos seis filmes já produzidos. O primeiro, de 1996, começa na turística Praga, com a Ponte Charles e a Praça Wenceslau em destaque. A abertura da segunda aventura tornou-se célebre ao mostrar o agente Ethan Hunt escalando as pedras de Dead Horse Point, no Estado de Utah (EUA). A partir de então, colocar o astro americano em situações de perigo ambientadas em cartões-postais virou uma marca registrada da cinessérie. Como exemplo, vale lembrar de Protocolo Fantasma (2011), em que Cruise é visto balançando-se do lado de fora do edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa, em Dubai (Emirados Árabes Unidos). Ou que tal a perseguição motociclística pelas ruas do Marrocos, em Nação Fantasma (2015)? Missão: Impossível passeou também por Austrália, China e Alemanha, entre outros países, foi a Moscou, ao Vaticano e a Kuala Lumpur. No mais recente filme, Efeito Fallout (2018), há uma proeza de helicóptero sobre as paisagens da
Nova Zelândia, e Preikestolen, um icônico penhasco da Noruega, é palco de uma sequência que faz autorreferência à franquia.

Os três Is: Itália, Índia, Indonésia
Rosane Tremea

Não são poucos os filmes que retratam lugares maravilhosos ao redor do mundo.
Há algumas produções sensacionais com locações incríveis (dos clássicos, sou fã de Cinderela em Paris, com Audrey Hepburn). Você não demorará a encontrá-los nos serviços
de streaming nessa nossa quarentena forçada (mas não espere muitos cult/clássicos, esses só em DVD ou serviços como o Belas Artes à la Carte). Entre os que (re)vi há pouco,
destaco um que certamente faz sucesso entre o público: Comer Rezar Amar (2010, 2h20min, direção de Ryan Murphy).

Confesso que não sou fã do filme. Na época da estreia, até fiz uma resenha em que apontava as forçações de barra na obra que tem atores como Julia Roberts, Richard Jenkins e Javier Bardem (no papel de um brasileiro). Eu havia lido o livro e tinha gostado muito da primeira parte, que retrata Roma (até hoje uso o "attraversiamo", palavra que a personagem de Julia aprende na sua estada na Itália e pela qual se apaixona) e desgostado das outras duas. A sequência dos cenários, aliás, é exatamente essa: Comer na Itália, Rezar na Índia, Amar na Indonésia, como no roteiro da escritora Elizabeth Gilbert, que teve seu livro transformado em best-seller. Revi com o espírito condescendente de quem assiste à Sessão da Tarde em um dia frio e chuvoso. Continuei adorando a gastronomia da primeira parte e achando chatinhas as duas seguintes. Mas os cenários por certo não decepcionam.
E se é viajar sem sair do lugar que queremos neste momento, é um prato cheio para fazer
de conta que estamos de malas prontas.
De Recife a Anatólia
Daniel Feix

Nem todos os filmes "de viagem" têm como tema principal um lugar. Assim como nem todos os filmes "de estrada" são necessariamente sobre a experiência transformadora do deslocamento. Há filmes que nos transportam para onde foram realizados simplesmente porque suas imagens nos fascinam — independentemente da história que contam. Poucos planos de Veneza são tão belos como aqueles vistos em O Turista (2010), uma bobajada de ação com toques de romance e espionagem na cidade italiana. Do mesmo modo, o cotidiano de Nova York raras vezes foi tão bem registrado como nos longas-metragens que Noah Baumbach rodou longe de seus cartões-postais — sendo destaque entre eles A Lula e a Baleia (2005). É seguindo essa premissa que indico duas produções premiadas disponíveis em serviços de streaming: o brasileiro O Som ao Redor (2012), que mostra Recife destituído de qualquer glamour, porém com uma verdade atordoante sobre a conflagração social do Brasil de hoje (pode ser visto até sexta-feira no Mubi), e o turco Sono de Inverno (ou Winter Sleep, de 2014), cuja história intimista de um ator aposentado em crise contrasta com as paisagens magníficas do grande e árido planalto da região da Anatólia (está no Petra Belas Artes, sem data para deixar o catálogo). Filmes para viajar — sem ser "de viagem".
Riviera Francesa
Marcelo Perrone

A ficção permite essas liberdades. Alfred Hitchcock promove em Ladrão de Casaca (1955) um até hoje insuperável tour cinematográfico pela Riviera Francesa, destacando locações deslumbrantes em Nice, Cannes e Mônaco, cenários relativamente vizinhos, mas no filme interligados com a fluidez necessária para emoldurar os passeios de Cary Grant e Grace Kelly pelas franjas do Mediterrâneo. Ele é um ladrão de joias aposentado suspeito de voltar à ativa invadindo na calada da noite luxuosos hotéis da Côte d'Azur. Ela é uma jovem milionária hospedada com a mãe no imponente Carlton, à beira-mar da Croisette, em Cannes, ponte de encontro e paixão do casal. Nas andanças da trama, destaques para a orla do calçadão de Nice e os passeios por vilarejos e palácios incrustados nos Alpes Marítimos, que propiciam nos deslocamentos que serpenteiam as escarpas lindos quadros emoldurados pelas águas cristalinas. Entre a comunas usadas como cenários estão Villefranche-sur-Mer e Saint-Jeannet, onde fica a villa em que vive o personagem de Grant. Ladrão de Casaca está disponível no Prime Video, plataforma de streaming da Amazon.