Com a temperatura no entorno dos 30ºC, o segundo domingo de isolamento social em Porto Alegre registrou movimentação em parques abaixo de outros fins de semana de sol — no entanto, ainda contrastante com as recomendações de especialistas para que as pessoas fiquem em casa, reduzindo o risco de disseminação do coronavírus. À tarde, o trecho revitalizado da orla do Guaíba e o calçadão de Ipanema, na Zona Sul, tinham quantidade significativa de pessoas.
Em comparação ao fim de semana anterior, um número maior de porto-alegrenses decidiu sair às ruas para fazer exercícios, caminhar ou até mesmo compartilhar o chimarrão — prática que também deve ser evitada em razão do risco de contágio por coronavírus.
Durante a manhã, GaúchaZH percorreu os arredores de quatro dos principais parques da cidade: Germânia, Redenção, Parcão e Marinha do Brasil. O que se percebeu foi o cuidado das pessoas com o distanciamento, uma das medidas recomendadas pelos órgãos de saúde. Quem optou por sair visivelmente mantinha uma certa distância de outros frequentadores — inclusive, quando encontrava um conhecido para bater papo.
Por volta das 9h30min, o primeiro local visitado pela reportagem foi o Germânia, na Zona Norte. Seguindo decreto assinado pelo prefeito Nelson Marchezan, o local é uma das quatro áreas verdes que devem ficar fechados aos finais de semana e feriados, assim como a Praça Província de Shiga e os parques Gabriel Knijnik e Maurício Sirotsky Sobrinho. Quem saiu da quarentena caminhou apenas nos arredores do parque. Foi o caso da professora de confeitaria Joyce Lopes, que conta ter saído pela primeira vez neste domingo.
— Procurei um horário mais cedinho para não ter muita gente aqui — explica.
No bairro Moinhos de Vento, houve quem deixasse sua casa para se exercitar nas imediações do Parcão. Pela manhã, o parque era o que mais registrava movimento entre os visitados pela reportagem. Quem optou por sair à rua estava sozinho ou acompanhado de mais uma ou duas pessoas. Mas sempre mantendo uma boa distância de outros frequentadores.
O distanciamento entre quem passeava pela Redenção, um dos redutos preferidos dos porto-alegrenses no final de semana, também chamava atenção. Entre quem estava no local, um grupo de pessoas com cachorros seguia a regra: todos conversando e interagindo, mesmo sem proximidade. Já no Parque Marinha do Brasil, a movimentação foi a menor registrada por GaúchaZH. O comerciante Mauricio Zart, 52 anos, que mora em frente ao local, conta que observou como estava o fluxo de pessoas antes de descer para se exercitar acompanhado da esposa.
— Em 10 dias de quarentena, é a segunda vez que dou uma caminhada. Mas não me sinto muito confortável em sair. Foi esporádico — relata. — Tenho tentado fazer atividades físicas em casa. E seguir as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde). É a coisa certa para diminuir a curva (de casos de coronavírus) — pondera.
Fila de carros em Ipanema
O Calçadão de Ipanema costuma ficar intransitável pelo acúmulo de pessoas em fins de semana ensolarados. Na tarde de domingo, por volta das 17h, o movimento era menor do que a média, porém, chamou a atenção a fila de carros na Rua Dea Coufal para acessar a Avenida Guaíba — o que revela um movimento acima do esperado em tempos de quarentena. Notou-se também alguns grupos compartilhando o chimarrão e não respeitando a distância segura, reunido-se em cangas e toalhas estendidas no chão.
Nem o carro da prefeitura informando sobre os perigos do coronavírus sensibilizou a população a voltar para a casa ou a tomar mais cuidado ao conversar com amigos no calçadão. Eram poucos os que pareciam ouvir as instruções das autoridades, caso de Taís Araújo, 42 anos, que escolheu se manter próxima às águas do Guaíba e longe da circulação de pessoas.
— Decidi sair de casa hoje porque já estava cansada de estar só assistindo a televisão e, como o dia estava ensolarado, aproveitei e vim até a beira da água para poder ver o pôr do sol . Vi bastante gente na rua, mas, infelizmente, as pessoas não estão isoladas como eu estou — explicou a servidora dos Correios.
Já na orla do Guaíba, perto do Gasômetro, o movimento foi crescendo ao longo da tarde. Próximo das 14h, eram raros os grupos de amigos, poucas pessoas passeavam com os cachorros e algumas outras faziam caminhadas ou andavam de bicicleta. Um empresário, que preferiu não se identificar, se exercitava ao lado da esposa com o tempo contado: a ideia era ficar pouco tempo fora de casa, menos de uma hora, para evitar um maior contato com outras pessoas.
— Mudamos muito os hábitos, saímos muito menos. Ainda temos contato com as pessoas porque temos um mercado, mas lavamos as mãos, usamos álcool gel. Hoje, resolvemos sair por causa do dia, é domingo, vimos que tinha pouca gente na rua — comentou.
Já o desenvolvedor de software Márcio Brufatto, 38 anos, passeou de bicicleta como de costume. Saiu de sua casa próximo à Avenida Farrapos e foi até o Gasômetro. Depois, dirigiu-se ao Pontal.
— Minha vida está normal, sempre saio no domingo para passear e andar de bicicleta. Não mudei meus hábitos — conta.
Após as 16h, o número de grupos passeando pela Orla aumentou. Mesmo assim, ficou muito abaixo do esperado em um fim de semana com tempo bom em Porto Alegre. Quem caminhava pelo local parecia estar atento ao distanciamento necessário para diminuir as chances de contágio pelo coronavírus.