A confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil e o avanço da doença pelo mundo alteram a rotina da população e elevam a procura por produtos de proteção. Um dos itens mais utilizados para a higienização das mãos na prevenção da doença, o álcool em gel está cercado por uma série de dúvidas, como sua real eficiência, a quantidade ideal de aplicações e se há risco de efeito reverso em casos de uso excessivo. Informações falsas sobre o produto têm circulado nas redes sociais, alimentando a desinformação.
Coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Rodrigo Pires destaca que não existe um número máximo de aplicações de álcool em gel para combater o contágio pelo coronavírus e outros vírus semelhantes. Conforme o médico, o único revés que pode ser percebido com o uso em excesso do produto é o ressecamento das mãos, que podem sofrer fissuras, criando abrigo para bactérias que causam infecções secundárias.
— Ressecamento da pele e fissuras são relacionados a muitos usos (do produto). Se a pessoa perceber isso, basta usar um hidratante de mãos — explica Pires.
O médico afirma que a quantidade de dois mililitros — equivalente ao diâmetro de uma moeda de R$ 1 — é suficiente para cada aplicação, garantindo a cobertura ideal das mãos. De acordo com Pires, o usuário deve evitar lavagem ou secagem das mãos após a aplicação do álcool. O profissional destaca que o uso correto do produto previne eventuais desconfortos:
— O álcool, quando a gente utiliza a técnica correta, que preenche todas as partes das mãos, palma, dorso, entre os dedos, pontas dos dedos, os polegares, unhas e os punhos, leva em torno de 20, 30 segundos para secar.
Não há limite de uso
O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, Breno Riegel Santos, concorda que não existe um limite diário para o uso de álcool em gel. No entanto, o especialista salienta que o produto não pode ser encarado como um substituto à lavagem com água e sabão, mas sim como uma alternativa pontual para os momentos em que não é possível realizar esse procedimento. Não é necessário limpar as mãos com água e sabão e fazer a aplicação do álcool gel na sequência, e vice-versa.: apenas uma das ações basta.
— O fluxo d'água junto do sabão carrega toda a gordura das mãos, que é o que gruda a sujeira. Já o álcool gel não tira a sujeira e a gordura da mão. É apenas uma película antisséptica, que fica sobre a pele. Na falta de água e sabão, a grande opção é o álcool gel — pontua Santos.
O médico esclarece que a existência de fragrância no álcool gel não diminui ou prejudica a eficácia do material. O importante é que o produto tenha concentração alcoólica de pelo menos 70%, informação destacada nas embalagens.
Recipientes compartilhados também têm de ser observados com atenção quanto à validade do produto e ao mecanismo de liberação. Se o recipiente ficar aberto por muito tempo ou possuir vedação ineficaz, o álcool evapora, deixando apenas o gel, segundo Santos.
Infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, André Luiz Machado da Silva afirma que grande concentração de sujeira nas mãos pode diminuir a eficácia do álcool gel na desinfecção. A orientação do especialista é de que o uso do produto seja intercalado com a limpeza com água e sabão.
— Ele deve ser aplicado no máximo 10 vezes. Após esse período, as mãos têm de ser lavadas para iniciar um novo ciclo de aplicação — reforça.
Informações falsas
Nas redes sociais, um vídeo no qual um homem se apresenta como "químico autodidata" e ataca a eficiência do álcool em gel na eliminação de bactérias e no combate ao coronavírus ganhou força nesta sexta-feira (28). Nas imagens, o sujeito afirma que o produto não tem efeito de proteção e seria pior do que não usar nada. O autor do vídeo diz que o vinagre seria o item ideal para assepsia das mãos.
As teses de que o álcool em gel não ajuda na eliminação de bactérias, de que seu uso é pior do que não usar nada e de que o vinagre seria um produto mais eficiente nesse sentido são falsas, segundo o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Conceição. Santos recomenda que esse tipo de vídeo seja apagado por quem recebe, para evitar a propagação de informações falsas.
Conforme o coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Clínicas, os dados narrados pelo autor do vídeo são falsos. O médico destaca que a composição do álcool que ele cita é errada e que existe "extensa evidência da ação bactericida e virucida do álcool". Pires observa que não há comprovação sobre a utilização de vinagre na higiene das mãos, complementando que o ácido acético (presente em abundância no vinagre) é "utilizado em agricultura e tem ação contra fungos, principalmente, e algumas bactérias, mas não para as mãos".
Em entrevista ao Gaúcha +, o presidente do Conselho Regional de Química da 5ª região, Paulo Roberto Bello Fallaven, disse que o órgão é contra a fala do indivíduo do vídeo, destacando que o álcool gel é eficiente na desinfecção, combatendo vírus e bactérias.
O Ministério da Saúde faz apelo para que informações falsas sobre o coronavírus não sejam disseminadas. O órgão disponibiliza um número de WhatsApp — (61) 99289-4640 — que recebe denúncias sobre informações disparadas em massa e com fontes duvidosas. O material é apurado pelas áreas técnicas e o denunciante recebe uma resposta oficial, sobre se as mensagens são verdade ou mentira.
Dicas de higienes das mãos
Limpeza com água e sabão
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabão.
- Esfregar por toda a área da mão: palma, dorso, entre os dedos, pontas dos dedos, polegares, unhas e os punhos.
- Se não for possível lavar com água e sabão, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Retirar adornos, como anéis, das mãos durante a limpeza.
Limpeza com álcool em gel
- O álcool tem de ter teor de pelo menos 70%.
- Aplicar cerca de dois mililitros do produto, o que é equivalente ao diâmetro e a espessura de uma moeda de R$ 1.
- Esfregar o líquido por toda a área da mão: palma, dorso, entre os dedos, pontas dos dedos, polegares, unhas e os punhos.
- A aplicação adequada resultará na secagem das mãos em cerca de 20 a 30 segundos.
- Não é preciso lavar ou secar as mãos após a aplicação do álcool em gel.
- É necessário retirar adornos, como anéis, das mãos durante a limpeza.
- Em caso de mãos ressecadas em razão da aplicação frequente de álcool em gel durante o dia, usar um hidratante para evitar lesões.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins: