O governo estadual definiu dois grandes hospitais como referência para tratar casos graves de coronavírus no Rio Grande do Sul: o Hospital Conceição (GHC), na zona norte de Porto Alegre, e o Hospital Universitário de Canoas, na Região Metropolitana.
As duas instituições receberão pacientes transferidos de todo o Estado para internação na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Caso a doença ganhe força ao longo do tempo, os estabelecimentos poderão se adaptar para se tornarem "hospitais de coronavírus".
As autoridades alertam, no entanto, que a população deve primeiro buscar postos de saúde (unidades básicas ou de pronto-atendimento). Apenas em casos graves é que haverá encaminhamento para internação hospitalar.
A diferença do GHC e do Hospital Universitário de Canoas é terem toda uma estrutura criada para se adaptar e tratar o coronavírus.
Grupo Hospitalar Conceição
A instituição irá comprar 1 milhão de luvas, 12,5 mil máscaras cirúrgicas, 2 mil aventais e 50 máscaras ventilatórias, segundo o diretor técnico, Francisco Paz. O GHC é reconhecido no Rio Grande do Sul para tratar o coronavírus porque, em 2009, o hospital praticamente "parou" para tratar apenas casos de gripe A – mais de 46 mil pessoas suspeitas de infecção foram atendidas, segundo o diretor.
Quem chegar com suspeita de coronavírus receberá uma máscara e será levado a uma sala isolada para atendimento de médicos e enfermeiros, protegidos por avental, gorro e máscara. Em seguida, realizará um exame de laboratório (com material retirado com uma espécie de cotonete colocado na boca ou no nariz). Sem sintomas graves, o paciente vai para casa e é monitorado pela Secretaria Municipal de Saúde – segundo Paz, este é cenário para 80% das pessoas com coronavírus. Caso contrário, há duas saídas:
1) Se o quadro não for grave, mas exigir acompanhamento diário (quando a pessoa tiver, além de coronavírus, comorbidades, como problemas no coração, baixa imunidade, diabete descontrolada), o indivíduo é levado para um quarto isolado – por enquanto, há dois leitos prontos.
2) Se o quadro for grave, incluindo pneumonia, dificuldades na respiração e na circulação sanguínea, a pessoa será levada para um leito isolado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) – no momento, há também dois leitos reservados.
Conforme a doença se espalhar, o GHC se adapta: leitos de emergência para outros casos serão realocados para pacientes com coronavírus. Neste caso, torna-se um "hospital de coronavírus":
— Num cenário mais grave, colocaremos toda a estrutura hospitalar à disposição, inclusive com a possibilidade de dobrar de UTI, deixando à disposição em torno de cem leitos em poucos dias. Aí fazemos acomodações provisórias: transformamos salas de recuperação em UTI, suspendemos cirurgias e criamos estruturas que possam receber pacientes.
Hospital Universitário de Canoas
O fluxo é semelhante ao do Hospital Conceição. No momento, o Hospital Universitário de Canoas tem dois leitos de UTI para pacientes graves – nos próximos 30 dias, o número pode chegar a 12. Para pacientes que não estejam em estado grave, mas que precisem de acompanhamento, há dez quartos isolados – o número pode chegar a 50, segundo o secretário municipal de Saúde, Fernando Ritter.
— Se precisar mais, iremos remanejar pacientes e mudaremos a prioridade do hospital, que será para coronavírus. Importante deixar claro que o hospital cumprirá as mesmas regras que o médico da UBS e da UPA. Quem define quem ficará internado é o profissional, não a pessoa.
Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Os dois novos prédios anexos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, previstos para serem inaugurados entre final de março e início de abril, poderão ser usados antes para tratar pacientes com coronavírus.
A diretora-presidente da instituição, Nadine Clausell, colocou à disposição do Ministério da Saúde os dois novos anexos para o tratamento de pacientes com coronavírus. As obras dos prédios foram concluídas em outubro passado, mas a abertura à população ficou para este ano.
Em entrevista nesta quarta-feira (26), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o governo federal tem a possibilidade de usar a estrutura do Clínicas, caso a doença se espalhe e o país venha a ter um surto de coronavírus. Conforme Nadine, o assunto surgiu durante audiência com o ministro, em Brasília, na semana passada.
— Eu mencionei a ele que estávamos com a estrutura pronta e que a área poderia ser disponibilizada para pacientes críticos — conta Nadine.
— Esses hospitais seguem como referência para casos leves. Já o Clínicas ficaria destinado a receber pacientes críticos, que precisam de leitos de terapia intensiva e ventilação mecânica — explica.
Mesmo com a disponibilidade da instituição em ajudar no combate à doença, os dois prédios do Clínicas ainda não estão com infraestrutura para receber pacientes.
— Temos os prédios e os boxes, mas os leitos não estão montados. Isso depende, ainda, de alinhamento entre Ministério da Saúde e secretarias municipal e estadual — observa.