Localizado a cerca de duas horas de carro de Montevidéu e separado pelo Rio da Prata de Buenos Aires, o Departamento de Colônia, no Uruguai, quer ampliar o número de visitantes que circulam por suas cidades. Com a crise econômica na Argentina, o setor de turismo da região aposta em empreendimentos exclusivos e estilo diferenciado de turismo para atrair especialmente os brasileiros.
Conforme dados da Intendência de Colônia - o equivalente ao nosso governo do Estado -apenas 5% dos visitantes do departamento são brasileiros. O levantamento é baseado no número de pessoas que busca informações nos pontos de atendimento ao turista. Ainda segundo a diretoria de turismo de Colônia, deste percentual, 70% tem como principal local de visita o município de Carmelo, que fica mais a oeste do território.
Para aumentar o tempo de permanência dos visitantes, o setor trabalha não só com a divulgação das atrações, mas também na valorização de um estilo de passeio único para os viajantes. A aposta é incentivar um tipo específico de turismo, que vem crescendo nos últimos anos, chamado de slow travel.
Essa proposta não apenas prioriza viagens executadas de maneira menos corrida, independentemente da duração, mas enfatiza a importância das conexões estabelecidas ao longo do passeio com moradores locais, atividades culturais e a gastronomia.
Conforme o diretor de turismo do Departamento, Martín de Freitas, a região oferece ao público todas as condições para fazer este tipo de viagem, pois conta com segurança, tranquilidade e possibilidade de ter um contato direto com alta gastronomia uruguaia por meio de alimentos produzidos localmente.
Além disso, o Departamento trabalha para modificar um conceito antigo dos turistas, especialmente dos visitantes gaúchos, de que Colônia, e especialmente a cidade de Colônia de Sacramento, é apenas um local de passagem, uma visita rápida, antes da chegada a Buenos Aires.
— Para nós, não é ruim ser um local de passagem se, nesta passagem, as pessoas ficarem dois ou três dias. É possível, por exemplo, parar na cidade de Colônia de Sacramento e fazer em um dia a rota dos vinhos, onde temos 13 bodegas de altíssima qualidade, abertas para visitação do público. Em outro dia, conhecer nossas queijarias que estão em diferentes pontos da região. Depois, caminhar nas margens do Rio da Prata e desfrutar do nosso patrimônio histórico — destaca Freitas.
A melhoria na comunicação com os turistas brasileiros é apontada como um desafio tanto para setor público quanto para o privado. A divulgação da proposta do slow travel e o aumento de viajantes, especialmente o público gaúcho, vem mobilizando a Associação Turística do Departamento de Colônia, entidade privada que responde por 14 setores da cadeia turística da região. De acordo com o presidente da Associação, Andrés Castellano, há uma união entre a iniciativa pública e privada para reduzir obstáculos na busca por novos visitantes.
— Temos uma relação muito boa, na qual o setor público trabalha de forma muito articulada com o privado. Com essa institucionalização e profissionalismo, as coisas acabam acontecendo de forma positiva e, consequentemente, para o turista que, em um curto espaço de tempo, desfruta a vida na região — ressaltou.
"Slow travel" com luxo e alta gastronomia
Dentro desta proposta, o hotel e restaurante Las Liebres destaca-se por oferecer a possibilidade de estabelecer conexões com os costumes uruguaios por meio do luxo e da alta gastronomia. Localizado dentro do bairro planejado Comarca Las Liebres, em Colônia de Sacramento, a estrutura oferece aos visitantes um ambiente para se desconectar e relaxar em contato com a natureza, sem perder a sofisticação.
O empreendimento teve início em 2013, quando o empresário argentino Pedro Melnitzky adquiriu o casarão abandonado de 1920, que fica no centro da propriedade. Em 2018, foi realizada a abertura do espaço com a inauguração do restaurante Las Liebres. No ano seguinte, o estabelecimento passou também a oferecer a opção de hospedagem, com um hotel que oferece, atualmente, quatro suítes para estadia dos turistas.
— Comarca Las Liebres é como um filho, que foi sendo desenvolvido em cada detalhe. Trabalhamos com profissionais qualificados e comprometidos com o projeto que adoram o que foi feito aqui — revelou o empresário.
Seguindo o conceito slow travel, os hóspedes do hotel encontram, em frente à sede, uma horta orgânica de 4 mil metros quadrados. A plantação, além de espaço para contemplação, é responsável por abastecer a cozinha do restaurante.
— Nosso lema é que tudo que se consome no restaurante é elaborado aqui, como os pães, saladas e massas. O que não conseguimos produzir, buscamos com nossos produtores locais, que trabalham com este mesmo conceito — afirmou Melnitzky.
Para elaboração do menu do restaurante, que funciona com serviço à la carte no almoço e por reserva no jantar, o empresário chegou uma parceria com o chef uruguaio Hugo Soca, que reivindicou a comida caseira como um manifesto cultural do país.
O valor da diária do hotel, para um casal, varia de US$ 260 a US$ 370 dólares (cerca de R$ 1,344 a R$ 1,912). No restaurante, o cardápio atual possui pratos principais com valores de 690 pesos a 1,2 mil pesos (cerca de R$ 89 a R$ 155).
A Comarca Las Liebres está localizada a cinco minutos da Plaza de Los Toros e a dez minutos do bairro histórico de Colônia de Sacramento. Para aqueles que buscam viver este ambiente por mais tempo, há a possibilidade da compra de um lote do bairro planejado. Divididos em Las Liebres Village e Las Liebres Fincas, os loteamentos permitem a construção de residências horizontais ao estilo uruguaio. Uma das casas já está à venda, totalmente equipada, com 172 metros quadrados. O valor do metro quadrado de cada lote é de US$ 80.
* A repórter viajou a convite da Comarca Las Liebres