Quando Frederick Law Olmsted, um fazendeiro e intelectual americano, desembarcou de um navio em Liverpool em 1850, estava ansioso para começar seu passeio a pé pela Inglaterra. Ao sair de lá, já tinha bagagem para ser talvez o maior paisagista de seu país.
Anos depois, ele começou a trabalhar no futuro Central Park, em Nova York, que projetou com Calvert Vaux e onde esculpiu prados, pequenas colinas, lagoas e cachoeiras. Para Olmsted, um parque eficaz não era diferente de um bom truque de salão em sua capacidade de transportar os moradores da cidade de seus arredores barulhentos e lotados para um Éden feito pelo homem.
Cinco dos parques e jardins visitados por Olmsted formam um amplo circuito pelo noroeste da Inglaterra (e um canto do País de Gales). Confira:
Jardim Botânico de Birmingham
Os jardins estão nos arredores de Birmingham, uma cidade multiétnica que é a segunda maior da Inglaterra. Em sua excursão, em 1859, Olmsted sem dúvida admirou a pequena estufa perto da entrada. Hoje ela está repleta de jasmim árabe, açafrão e pés de café. Lá fora, na extremidade do gramado dos pavões, há pássaros mais exóticos, incluindo pegas e periquitos. Um coreto vitoriano tem vista para um amplo gramado, onde a perseguição dos pavões pelas crianças pequenas é uma atividade tolerada, até mesmo incentivada.
Olmsted pode também ter tomado notas mentais sobre o modo inteligente como os jardineiros faziam surgir espaços particulares dentro de um jardim público. Um exemplo em Birmingham é a Trilha Rododendro, um local isolado cercado por uma cerca de faia alta e repleto de flores.
Arboreto de Derby
Pode ser a parada mais modesta no itinerário de Olmsted, uma área de bairro com 11 acres cercado por casas de tijolos de classe média em Derby, a menos de uma hora de carro ao norte de Birmingham. Mas, construído em 1840 pelo rico dono de um moinho, o arboreto detém um título importante: o primeiro parque público britânico (o Birkenhead, de 1847, tem o cuidado de notar que é o primeiro parque construído com fundos públicos).
É um espaço focado em árvores, cheio de caminhos sinuosos e com uma bela cerca de ferro forjado. Um oásis de tranquilidade, repleto de grandes vasos de gerânios e begônias, onde casais passeiam depois do trabalho e as crianças vêm para andar de bicicleta.
Chatsworth House and Gardens
O mais luxuoso dos cinco locais: um jardim de 105 acres, em Bakewell, com tudo o que se pode imaginar em torno de uma casa palaciana ainda ocupada pelo 12º duque e pela duquesa de Devonshire. É cuidado e ampliado há cinco séculos. Muito do que Olmsted viu em 1859 ainda encanta os visitantes. Há o magnífico Rockery, cujos pedregulhos e cachoeiras artificiais evocam os Alpes, o Pinetum, uma coleção de árvores coníferas de todo o mundo, o Canal Pond, uma enorme piscina retangular com uma fonte que pode lançar água a 60 metros, e o Cascade, uma longa série de escadarias de pedra por onde corre a água.
Birkenhead Park
Olmsted foi seduzido pelos princípios mais elevados e pelos detalhes mais técnicos do parque de Birkenhead, nas cercanias de Liverpool. Durante sua visita, ficou impressionado com a capacidade do parque de promover o igualitarismo, escrevendo mais tarde que “o camponês britânico mais pobre é tão livre para apreciá-lo em todas as suas partes quanto a rainha”. Mas ele também entrevistou o jardineiro-chefe sobre o sistema de drenagem e o uso do solo (com lagoas artificiais) na formação de colinas. Hoje, Birkenhead é um destino popular para famílias e clubes esportivos, incluindo equipes de rúgbi e críquete. Depois de passar por uma cuidadosa restauração nos últimos anos, o parque de 125 acres é cuidado por nove jardineiros e 20 voluntários.
Castelo Chirk
Concluído em 1310, em Wrexham, no País de Gales, foi comprado no fim de 1500 pela família Myddelton. Gerações desta foram suas proprietárias por 400 anos. Em 1978, a família vendeu toda a propriedade e seus 480 acres ao Estado. Alguns anos mais tarde, ela foi adquirida pelo National Trust, que a administra como um local histórico.
A julgar pelas memórias de sua viagem de 1850, Olmsted ficou mais impressionado com o “gosto suntuoso, o luxo e o esplendor de uma mansão aristocrática moderna” do que com o “parque mais lindo” que já tinha visto.
Não chegou a mencionar os jardins, organizados no estilo francês em meados de 1600 e redesenhados em 1700 em um estilo mais inglês, com amplos gramados e milhares de árvores.