Entre os entusiastas etílicos, a Alemanha é famosa por produzir algumas das melhores cervejas do mundo, e alguns de seus vales conquistaram status entre os enófilos, principalmente o Mosel, o Rheingau e o Ahr. Mas que tal o uísque alemão?
A Alemanha abriga 250 destilarias da bebida. Embora pareça surpreendente, os conhecedores de bourbon vão lembrar de que a versão americana tem forte influência germânica: a família Jim Beam saiu da Alemanha, como também George Dickel, grande produtor do Tennessee. A Stitzel-Weller, responsável por marcas famosas como Pappy Van Winkle e Old Weller, foi fundada por imigrantes teutônicos, como também a antiga I. W. Harper.
O país europeu se beneficia da alta qualidade de sua cevada, importante tanto para a cerveja quanto para o uísque. Assim, já surge um circuito turístico, incluindo salões de degustação abertos à visitação e tours guiados. Se você quiser provar os melhores exemplares pessoalmente, esta sugestão de itinerário reúne quatro das principais destilarias, todas convenientemente situadas em algumas das regiões mais belas do território alemão.
Slyrs (Schliersee, na Baviera)
Uma rápida lição de linguagem: na estação central de Munique, você terá de embarcar no Bayerischer Oberlandbahn, ou Trem das Terras Altas da Baviera – e essa é só a primeira referência escocesa. A segunda é a paisagem espetacular, com florestas fechadas, rios caudalosos e montanhas altíssimas. Fundada em 1999, a Slyrs abriu sua loja e seu centro de visitação em 2007. Produz cerca de 150 mil garrafas por ano. O tour conduz você às caldeiras brilhantes de cobre e à “canaleta” do alambique, que leva à sala dos barris, com pé-direito alto e ares de catedral. Vale a pena o valor de 9,90 euros da entrada, pois também inclui um golinho do Slyrs padrão, um single malt feito a partir da cevada local, e do licor de uísque. Informações: slyrs.com
Elch Whisky (Thuisbrunn, na Francônia)
No vilarejo situado a cerca de 32 quilômetros de Nuremberg, a cervejaria e restaurante Gasthof Seitz, que abriga a destilaria Elch, fica lotada nos meses mais quentes. As mesas de madeira à sombra das árvores e dos guarda-sóis, cercadas pelos muros de pedra, ocupam a maior parte do espaço entre o estabelecimento e os prédios da destilaria, e são bastante disputadas. A maioria dos clientes é atraída pela excelente Kellerbier – uma amber lager com sabor marcante de lúpulo – e pelos pratos tradicionais como o Schäuferla, ou ombro de porco assado, servido com bolinhos kloss imensos e chucrute. Os conhecedores sabem que a Seitz também destila e vende um dos poucos uísques turfados da Alemanha, um single malt de nome melífluo: o Torf von Dorf, ou “turfa da vila”. É bom checar o espaço disponível na mala para uma garrafa (55 euros) antes de provar a amostra (3,50 euros). Trata-se de uma bebida de dourado pálido com um perfume complexo de toffee e fumo da Virgínia, acompanhado por sabores diversos de torta de maçã e ameixas, e uma finalização suave, mas picante. Informações: elch-whisky.de
Hinricus Noyte’s Spirituosen (Wismar, na Costa do Mar Báltico)
No nordeste da Alemanha, Wismar, que pertencia à República Democrática Alemã, é, desde 2002, Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Conta com arquitetura gótica e renascentista, vielinhas de paralelepípedo e praças pitorescas. Pertinho do cais, a cervejaria Brauhaus am Lohberg ocupa um prédio antigo de madeira, onde, segundo afirma, produz cerveja artesanal desde 1452. O destaque e orgulho do cardápio é a Steinlachs assada, um tipo de pescado local. A destilaria em si só abre ao público nas tardes de quinta. Os copinhos de degustação custam 4,50 euros, mas é possível comprar garrafas. O single malt padrão, o Baltach, tem aroma de nozes com um toque de fruta tropical e uma finalização picante e adocicada. Informações: shop.hinricusnoyte.de
Spreewald Destillerie (Schlepzig, em Spreewald)
Embora a densa floresta de Spreewald se localize menos de uma hora a sudeste de Berlim, dá a impressão de estar do outro lado do mundo, com sinalização e placas em alemão e sorábio, o dialeto da minoria eslava local. Como os produtores americanos de bourbon, a Spreewald trabalha com barris de carvalho novos, em vez de seguir o método tradicional escocês (que envelhece a bebida em barris já usados). Ainda mais incomum é o fato de se apresentar como a primeira produtora alemã de uísque de centeio, inspirada nos excelentes destilados da Pensilvânia e de Maryland. E parece que a decisão se provou acertada, já que a produção do Stork Club Rye Whiskey se esgotou completamente este ano – a amostra oferecida no tour à destilaria (25 euros) dá uma ideia do porquê: o aroma de baunilha e pão de gengibre com notas de especiarias, além de um sabor de fundo que lembra um curral. Informações: stork-club-whisky.com