Visitar o Cânion da Piruva, na região de Santa Maria, é um passeio raro. Só pode ser feito em alguns períodos do ano e requer coragem dos turistas. Por causa do frio e da água gelada, o tour completo ocorre apenas de novembro a março – que é quando também bate sol no interior do cânion. Durante os outros meses, dá para fazer uma trilha menor, sem que as pessoas precisem se molhar.
Trata-se de um dos locais mais belos e bem preservados do centro do Estado. Começa em um município (Júlio de Castilhos) e termina em outro (Ivorá), em uma aventura por terra, paredões de pedra e água.
A caminhada tem início no interior de Júlio de Castilhos, a 67 quilômetros de Santa Maria. Fica a dica: contrate um guia de trekking, o nome dado ao esporte que trilha lugares de difícil percurso. Para chegar até o cânion, também será preciso pedir autorização para passar por propriedades privadas. O trilheiro que nos acompanhou foi Tiago Korb.
— É importante frisar que o Rio Melo é de domínio público, mas as terras que dão acesso ao cânion, não. Há muitos moradores e, por exemplo, uma lavoura de soja, onde às vezes colocam agrotóxico, o que impede nossa entrada. Então, sempre é necessário fazer um contato prévio, pedir autorização — reforça Korb.
A primeira aventura é descer a encosta do Rio Melo, na localidade de Piruva. O desafio é não escorregar. Aqui, só passa um de cada vez, e, é claro, não pode ter medo de altura. A boa notícia é que esse trajeto é curto, dura uns 15 minutos.
Depois, subimos um trecho para conhecer duas cachoeiras. A caminhada de dois quilômetros rio acima é quase toda pelas pedras, mas é inevitável entrar na água. A propósito, outra dica fundamental é usar um tênis resistente e confortável.
Cachoeira que nem nome tem
Logo começam a surgir as recompensas. A primeira é a Cascata das Pedras Pretas. São 30 metros de queda d’água de um afluente do Rio Melo. Tem esse nome por causa do paredão de pedra, que é preto mesmo – esse contraste com a água clarinha é uma beleza.
Quase ao lado, fica a Cascata dos Degraus. É a mais alta do nosso passeio, com cerca de 40 metros de altura. Não fosse a mata, dava até pra enxergar uma cascata de frente para a outra.
Depois de subir dois quilômetros rio acima, enfrentando águas e pedras, agora a missão é descer seis quilômetros por dentro do Cânion da Piruva. Fomos conhecer uma cachoeira tão nova que nem nome tem. Parece que está seca, mas toda a água está passando por baixo das pedras. É onde a trilha começa a ficar mais difícil! Daqui, só passa quem sabe nadar e não tem medo de água gelada.
Voltamos para o leito do Rio Melo. Quanto mais descemos, mas altos ficam os paredões de pedra. Ao todo, passamos por seis quedas d’água.
— A parte mais bonita do cânion é essa aqui, com o estreitamento do rio e a enorme altura dos paredões, que medem 250 metros — diz Korb. E, em um poço onde não dá pé, é preciso ficar nadando e, obviamente, usar colete salva-vidas.
Existem quatro poços onde o sol quase não entra. Em algumas partes, os paredões quase se encostam. Atravessamos a nado um vão com apenas três metros. O trecho mais difícil é também o mais belo: parece uma piscina. Mas, apesar da calmaria, é necessário ter braçada forte: são 70 metros de travessia.
— É sensacional. A água é mais gelada, o ambiente é extremamente bonito, a gente fica integrado à natureza — festeja o autônomo Matheus Carrier.
— Pratico trekking há nove anos. Cada vez que venho, é uma surpresa. Às vezes, porque o tempo está fechado, ou está aberto demais. É um lugar espetacular — afirma o bancário Marcelo Góes.
De tão bonito, o Cânion da Piruva faz a gente esquecer que, para voltar até o carro, deve enfrentar mais de dois quilômetros morro acima...