Por Elaine Glusac
As ruas de paralelepípedos e a arquitetura francesa fazem de Old Montreal, onde, no Canal do São Lourenço, foi fundado o primeiro assentamento local, um trecho muito atraente. Porém, aos 376 anos, a cidade canadense também tem muito a oferecer na região que cerca a área central. Dos novos restaurantes do Gay Village aos murais atualizados anualmente do Plateau, passando pelas lojas descoladas de Mile End, os bairros são uma boa desculpa para a compra de um passe de metrô.
Festivais de rua, apresentações ao ar livre, mercados pop-up... Montreal gosta tanto de muvuca, que até as agências de turismo a descrevem como “o pedaço do Canadá onde se bebe e fuma”. Apareça para experimentar os pratos e bebidas inovadores – isto é, os wine bars recém-inaugurados, speakeasies e restaurantes que servem pequenas porções de pratos tradicionais do Quebec – e fique pela cultura, principalmente os tours para ver os murais, os shows de luzes digitais e os experimentos sinfônicos.
Sexta
15h — Um encontro com os mestres
O espaçoso Museu de Belas Artes é conhecido pela gigantesca coleção, incluindo registros enciclopédicos de artes gráficas e decorativas. Se preferir, limite a visita à arte local, abrigada em uma antiga igreja em estilo normando que compõe um dos cinco pavilhões. Comece pelo andar superior, com a arte inuit, e vá descendo os cinco andares, saindo do início do século 18 até os anos 70.
É um mergulho de cabeça na pintura quebequense, mais especificamente nos talentos da cidade, estrelando as paisagens de James Wilson Morrice, os retratos modernistas dos anos vinte do Beaver Hall Group, as visões urbanas de Marc-Aurèle Fortin e as abstrações de Jean-Paul Riopelle.
18h — Catedral de luz
Montreal é uma cidade cheia de igrejas, mas poucas se equiparam ao esplendor arquitetônico da Basílica Notre-Dame, do século 19, cujo criador, James O’Donnell, ficou tão emocionado com o resultado, que se converteu ao catolicismo depois de terminá-la (era protestante).
Em seu novo show de som e luzes, Aura (ingresso a 24,50 dólares canadenses ou cerca de R$ 70), o interior neogótico recebe tratamento digital do século 21 do Moment Factory, estúdio multimídia que também é responsável pela iluminação influenciável pelo clima da Ponte Jacques Cartier. O espetáculo de 20 minutos destaca os arcos, as colunas, os altares e o teto abobadado, usando-os como tela para a projeção de imagens como raios, estrelas cadentes, ondas e folhas outonais.
19h30min — Village People
Quando o chef Antonin Mousseau-Rivard inaugurou Le Mousso, em 2015, a casa se tornou um clássico instantâneo graças ao cardápio criativo em um ambiente tranquilo. Agora, a empreitada se expandiu com Le Petit Mousso, que oferece à la carte os pratos do irmão mais velho, logo ali ao lado. As opções mudam com frequência, e podem incluir pedacinhos de foie gras em uma nuvem de algodão doce e carne de caranguejo enrolada, no estilo taco, em uma folha fina de tapioca (preços variam de 15 a 85 dólares canadenses; R$ 42 a R$ 240).
A proximidade e a variedade estimulam pelo menos duas visitas em uma única saída: logo na esquina fica o Agrikol, que tem entre os sócios Win Butler e Régine Chassagne, da banda Arcade Fire, onde se pode provar beignets haitianos e ponche.
Sábado
10h — De olho na arte de rua
De cinco anos para cá, os prédios comerciais que margeiam o St.-Laurent Boulevard, no bairro do Plateau, firmaram-se como uma galeria para os artistas de rua, sendo que várias paredes são pintadas durante o festival realizado todos os anos, em junho. Faça a caminhada de duas horas (25 dólares canadenses; R$ 70) para conferir pelos menos duas dúzias de obras vibrantes organizadas pela Spade & Palacio, de Danny Pavlopoulos e Anne-Marie Pellerin, que amam tanto a cidade que fazem questão de deixar uma lista de seus bares, cervejarias, cafés e restaurantes favoritos com os clientes. O passeio inclui o retrato monumental que Kevin Ledo fez do falecido Leonard Cohen.
Meio-dia — Um sanduíche recheado de história
Montreal é conhecida pelos bagels, mas a comunidade judaica também fez da carne defumada uma atração das delicatessens locais. Entre na fila da Schwartz’s Deli, que vem servindo carne de peito desde que Reuben Schwartz, um imigrante romeno, inaugurou a casa, em 1928. Sempre lotado, estreito e com as paredes cobertas de recortes de jornal, o estabelecimento tem um ambiente animado que permeia as mesas compartilhadas e as banquetas do balcão. O sanduíche é para lá de bem servido (9,95 dólares canadenses; R$ 28) e chega à mesa com uma boa dose de mostarda, picles e um refrigerante de cereja.
13h — Questão de estilo
A classe criativa local, um grupo que inclui os artistas do Cirque du Soleil, de arte digital e desenvolvedores de videogames que levaram a Unesco a lhe outorgar o título de Cidade do Design, mostra-se mais explicitamente no bairro de Mile End, melhor local para compras no estilo característico local.
A Annex Vintage combina itens usados cuidadosamente selecionados com camisetas Stay Home Club; a estilista Sabina Barilà vende seus vestidos de inspiração vintage e calças estilo pantalona no La Montréalaise Atelier; já a Yul Designs reúne a moda local, como também artes gráficas, objetos para a casa e joias. A Lowell Mtl vende bolsas de couro. Os cafés da região são espaçosos, incluindo o Brooklyn Cantine, com mesas externas, e as concorrentes Fairmount e St-Viateur.
17h — Uma festa móvel
A julgar pelo número de wine bars novos, Montreal ama vinho natural. Faça como o pessoal local e vá ao badalado Mon Lapin, em Little Italy. Dos donos do aclamado Joe Beef, a casa serve pequenas porções que variam de um dia para o outro em um salão pequeno e eternamente lotado, decorado com arte inspirada no coelho do nome.
Não aceita reserva, então se não conseguir entrar, vá para o Montréal Plaza. Charles-Antoine Crête e Cheryl Johnson, os donos da brasserie movimentada com cozinha aberta, já trabalharam no refinado Le Toqué, mas aqui se mostram mais relaxados – vide o tema de Guerra nas Estrelas que toca nas comemorações de aniversários – mas mantêm o padrão culinário alto. Destaque para a suculenta salada de carne de lagosta que é servida na casca (25 dólares canadenses; R$ 70) ou as lascas de vitela que aparecem na forma de salada (21 dólares canadenses; R$ 59).
20h — Viagem cultural
O cenário cultural local é abrangente a ponto de incluir desde trupes circenses a festivais de comédia, passando por peças teatrais em inglês e francês, ópera, balé e música clássica. A Place des Arts é parada obrigatória para muitas companhias de artes performáticas.
O ingresso para ver a orquestra sinfônica, por exemplo, dirigida por Kent Nagano, garante a entrada na sala de concertos de 2,1 mil lugares, com acústica de última geração, da Maison Symphonique de Montréal, cuja programação vai dos clássicos à apresentação de trilhas sonoras de filmes de ficção científica.
22h — Hora do speakeasy
Quem sabe das coisas em Montreal sai para beber em bares cada vez mais difíceis de serem encontrados. Entre as novidades, o Coldroom, na parte antiga, é marcado por uma porta preta com o logotipo de um pato na calçada. É preciso tocar a campainha, quando então o garçom o levará ao bar, que fica no subsolo, que em 1887 era uma câmara de refrigeração e onde hoje os bartenders especializados preparam coquetéis sazonais. Ainda mais discreto, o Cloakroom Bar, em Golden Square Mile, fica escondido atrás do espelho de uma loja de roupas masculinas.
Domingo
9h — Às margens do rio
Montreal tem quase 645 quilômetros de ciclovias e um sistema de aluguel de bicicletas abrangente chamado Bixi (5 dólares canadenses por dia; R$ 14). Pegue uma perto do rio, no Porto Velho, e siga o São Lourenço até uma série de sítios arquitetônicos às suas margens – começando com o Habitat 67, projeto habitacional influente que lembra uma pilha de caixas, feito pelo arquiteto Moshe Safdie para a Expo 67.
Siga pela ciclovia de 14 quilômetros que acompanha o Canal Lachine, isolado por um parque, passando pelos silos de grãos que atestam o patrimônio industrial da área, além de galpões reformados e outras construções novas. Aproveite para conferir o Atwater Market, um dos mais movimentados da cidade, e dar uma espiada nas padarias, nos açougues, nas queijarias e nas floristas com um café au lait da Première Moisson Atwater na mão.
11h — Brunch anglófilo
Como recompensa pelos esforços ciclísticos, dê-se ao direito de desfrutar o brunch do grandioso Bar George, recém-aberto onde já foi a casa rebuscada de 1880 de Sir George Stephen, ex-presidente do Bank of Montreal e da Canadian Pacific Railway. Sente-se ao balcão oval no salão principal para se maravilhar visualmente com os vitrais de 300 anos, o teto entalhado de pau-cetim do Ceilão e a lareira de ônix italiano (impressionante mesmo na época em que foi construída, a casa foi temporariamente desmontada em 1893 e exibida da Feira Mundial de Chicago).
Admire-os saboreando o café da manhã inglês completo (20 dólares canadenses; R$ 56), incluindo black pudding e um Bloody Caesar (11 dólares canadenses), opção canadense mais popular para despertar.