Fazer as pessoas se sentirem em casa é uma característica dos canadenses, ainda mais em Toronto, maior cidade do Canadá, com 2,8 milhões de habitantes – metade deles, imigrantes. Por lá, as pessoas falam inglês – embora o francês também seja idioma oficial –, mas a mistura de sotaques chama atenção em qualquer caminhada pelas ruas. São pelos menos 140 línguas que se ouvem entre os arranha-céus e as diversas atrações culturais.
A imigração forjou a identidade da cidade, que recebeu italianos, portugueses, chineses, latino-americanos. Todos atraídos pela oportunidade de uma vida melhor. Além do multiculturalismo, uma marca de Toronto é o respeito às diferenças.
No calendário oficial de eventos da metrópole, que reúne 8 mil restaurantes e mais de cem atrações turísticas, está a parada gay, considerada a maior da América do Norte, um carnaval caribenho, um festival de jazz com 1,5 mil músicos e outro de cinema, que na edição do ano passado apresentou filmes de 83 países.
Todo esse apreço pela diversidade tem rendido a simpatia dos viajantes. Segundo o Turismo de Toronto, o número de visitantes bateu recorde em 2017, atingindo a marca de 43,7 milhões de pessoas. Entre os brasileiros, a procura cresceu 23% no ano passado.
A cidade, situada próxima à fronteira com os Estados Unidos, aproveita as políticas anti-imigração do presidente americano, Donald Trump, para atrair cada vez mais visitantes. O processo de visto para ingresso no Canadá foi facilitado em 2017, o que também ajudou o turismo. Brasileiros que viajam de avião podem obter a autorização pela internet, sem passar pela burocracia da entrega de documentos e de entrevistas.
Mesmo o atropelamento que deixou 10 mortos em abril por lá não abalou a expectativa do setor de turismo, que espera aumento no número de turistas estrangeiros este ano. Estive em Toronto no começo de maio, poucos dias após o ataque, e não encontrei a preocupação típica de lugares alvo de terroristas.
Pelo contrário, os canadenses faziam questão de reforçar que foi um ato isolado de um jovem com problemas psicológicos. Ao questionar um taxista sobre a segurança por lá, ele logo disparou:
– Aqui é Canadá, o lugar mais seguro do mundo.
Além da sensação de segurança, nos cinco dias de viagem vi uma população afetuosa, que celebra os dias de sol e de temperaturas mais agradáveis da primavera. Enquanto no inverno as pessoas se escodem no Path – cidade subterrânea criada para aguentar as marcas negativas –, quando o calor dá as caras, todo mundo sai às ruas, pratica esportes à beira do Lago Ontário e se reúne para o happy-hour nos bares até o anoitecer, que nesta época do ano só chega depois das 21h.
O país é uma boa opção de destino na América do Norte em tempo de alta do dólar: mesmo que a moeda canadense suba junto, ainda é cerca de 80 centavos mais barata do que a americana.
Nesta primeira experiência no Canadá, conheci alguns dos melhores restaurantes de Toronto, fui a uma festa dentro do maior museu, voei de helicóptero, caminhei entre as lojas de grife do sofisticado bairro Yorkville e pelos brechós de Kensington. Aliás, o país é uma boa opção de destino na América do Norte em tempo de alta do dólar: mesmo que a moeda canadense suba junto, ainda é cerca de 80 centavos mais barata do que a americana.
Em Toronto, não importa se você nasceu no Oriente Médio ou na Noruega, se você é gay ou hétero, se tem dinheiro ou não. Senti-me igual. Quero voltar.
4 atrações obrigatórias
CN Tower
-Com seus 553 metros de altura, a CN Tower é um símbolo de Toronto e oferece uma vista incrível da cidade, do Lago Ontário e até das Cataratas do Niágara nos dias de tempo aberto. É possível degustar uma refeição no restaurante giratório ou, para os mais corajosos, fazer uma caminhada na borda externa da torre, a uma altura de 356 metros. O ingresso é vendido por 38 dólares canadenses (R$ 110).
Ripley’s Aquarium
-O aquário está localizado na base da CN Tower e reúne cerca de 16 mil espécies marinhas. Uma passarela rolante leva ao grande tanque onde se pode ver peixes-serra e tubarões. Também é possível entrar em um túnel em meio aos peixes. Destaque para as águas-vivas, que formam um balé colorido na água. Ingresso a 31 dólares canadenses (R$ 90).
Distillery District
-A área que abrigou a Victorian Gooderham and Worts, maior destilaria de uísque do mundo, estava abandonada. No começo dos anos 2000, um grupo de investidores resolveu apostar no lugar e restaurou o conjunto de prédios industriais de estilo vitoriano. O que se vê hoje é uma região repleta de restaurantes, galerias de arte e lojas. Por lá, não entram carros nem redes de fast food.
Kensington Market
-Uma das regiões de maior diversidade étnica de Toronto, surgiu no começo do século 20 com os imigrantes do Leste Europeu, que montavam bancas nas ruas para vender mercadorias. Hoje, comerciantes poloneses e russos têm companhia de mexicanos, árabes e portugueses em uma área repleta de restaurantes, cafés, fruteiras, brechós e lojas de bugigangas. Tudo com preço amigável.
Cidade de vários sabores
Um lugar que reúne gente de todo o mundo também tem comida para todos os gostos. Vale experimentar o brunch, combinação de café da manhã com almoço que é tradição entre os canadenses. Muitos restaurantes e cafés oferecem pratos com muito ovo, bacon, pães e saladas. Uma dica são as panquecas com blueberry e maple syrup, um xarope adocicado feito a partir da árvore que tem sua folha estampando a bandeira do país.
Conheci alguns dos melhores restaurantes da cidade, como o italiano Sotto Sotto, que ostenta na entrada fotos de frequentadores ilustres, como os atores Johnny Depp e Natalie Portman, e o cosmopolita Carbon Bar, que reúne um grande bar com drinques e uma variedade de carnes e frutos do mar. Destaque para o polvo grelhado com batatas e berinjela. E nada de preços astronômicos: cada prato custou no máximo 25 dólares canadenses – cerca de R$ 70. Outra dica é o One Eighty, localizado no 51º andar de um prédio no charmoso bairro de Yorkville, ideal para o happy hour e para apreciar a vista impressionante da cidade.
Para os apreciadores da culinária, vale investir em um tour gastronômico por cafés, restaurantes e padarias da cidade. O que fiz, com um guia que sabe tudo de gastronomia e da história local, percorreu estabelecimentos de duas das ruas mais tradicionais de Toronto: King e Queen Street. O passeio, incluindo brunch, pizza, croissant, doces e café, custa 80 dólares canadenses (cerca de R$ 230).
Festa no museu
DJ no palco, luzes coloridas, pista cheia. Até aí, nada diferente de uma festa normal, a não ser pelo local. Maior museu do Canadá, com mais de 6 milhões de relíquias, o Museu Real de Ontário (ROM) abre em algumas noites de sexta-feira para festas temáticas. A que eu participei era sobre Bollywood. DJs indianos se revezavam no palco, enquanto centenas de pessoas curtiam a dança em um salão principal, adornado junto às paredes por armaduras de guerra e réplicas de dinossauros. Havia tendas com comidas e bebidas. Todas as galerias, como a que abriga múmias do Egito Antigo, estavam abertas para visitação.
Um casal com trajes típicos da Índia chamou-me a atenção. Ashutash Jha é um empresário indiano que mora em Toronto há 17 anos. Disse que era a primeira vez que participava de uma festa no museu, que estava feliz com a homenagem à cultura do seu país e ainda brincou com as roupas: esperava mais gente vestida a rigor. A namorada, Shawna Willow, disse que costuma levar a filha de quatro anos lá, mas nunca havia estado em uma festa.
– É bem legal. Podemos dançar, nos divertir e visitar as galerias – comentou.
Para participar da festa, é preciso comprar ingresso pela internet, por 17 dólares canadenses cerca de R$ 50). A programação começa às 19h e se estende até a madrugada.
*A jornalista viajou a convite do Turismo de Toronto