Odeio fim de ano. O-d-e-i-o.
Natal, Réveillon, calor, samba, seja lá o que for. Aquela música da Simone me dá calafrios. Sabe? Eu poderia perfeitamente hibernar em novembro e acordar só em março (pode me chamar de amarga).
Em outubro passado, aproximava-se mais um fim de ano quando a Comissão Canadense de Turismo (CTC) me convidou para conhecer a costa oeste do Canadá. Vibrei. Se não posso hibernar, que pelo menos passe essa época na neve, em um ambiente completamente novo para mim, em um lugar onde os costumes são diferentes (mesmo que pouco).
E foi com esse espírito, em 12 de dezembro, que embarquei para aquela que se tornou uma das melhores (se não a melhor) viagens da minha vida.
Quatro voos e um trajeto de van depois (Porto Alegre-São Paulo-Toronto-Vancouver-Kamloops + transfer de uns 80 minutos), chegamos ao nosso primeiro destino no meio da tarde: a pequena Sun Peaks, na província de British Columbia. A luz desaparecia atrás das montanhas, como é bem comum por aquelas bandas a partir das 15h. Vidrada na paisagem de árvores sem fim cobertas pela neve, eu só falava, animada, sobre algo que aprendi nos livros de geografia no colégio e jamais esqueci:
- Olhem. É taiga! Ou floresta de coníferas!
Sim, aquele tipo de árvore é típica desta parte do globo porque, bem, não tem muita vegetação que suporte tanto frio e neve além dela. E ela é bela à sua maneira - juntas parecem a guarda real britânica a postos, altivas.
Por mais que me lembrasse a lendária Twin Peaks, duvidei que os amáveis habitantes de Sun Peaks tivessem segredos escabrosos como os dos personagens de David Lynch. Mas, realmente, no tempo em que se fica por lá, é bem possível conhecer um pouco de boa parte de seus 500 moradores permanentes. Dá para se sentir em casa.
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E Sun Peaks não quer mesmo concorrer com grandes estações de esqui, como Whistler. Gosta de ser esse lugar aconchegante, onde o esqui é mais que um esporte, mas também um meio de transporte, já que tudo é tão pertinho.
Isso não significa que falte estrutura. Há hotéis e restaurantes muito bons, ainda que seja pouca a variedade. Mas você não conhece só o garçom - troca ideias com o dono. Aliás, às vezes o garçom é o dono. Lovely.
Em Sun Peaks, eu até tirei foto com o Papai Noel em uma Feira de Natal, ouvindo Jingle Bells, sem reclamar. Isso diz muita coisa.
Confira fotos do inverno no Canadá:
Curtindo uma piscina
Deixem-me compartilhar com vocês uma grande descoberta em Sun Peaks: hot tubs! Não, não descobri a América, mas nunca tinha realmente considerado entrar em uma piscina externa em um dia em que os termômetros marcassem -10ºC. Mas lá estava eu de roupão, olhando através da porta de vidro os corajosos nadando tranquilamente, fumacinha emanando da água em profusão.
Em nome do jornalismo, lá fui eu. E em nome do jornalismo, preciso descrever: como é bom!
Passados aqueles segundos de intenso frio até chegar à piscina, a água a cerca de 40ºC te abraça, te relaxa. Dá até calor de vez em quando. É ótimo para os músculos depois de horas de esqui nas montanhas, dizem por lá. Só um alerta: use com moderação, para não passar mal.
(Priscila De Martini/Arquivo Pessoal) Psicina externa no hotel Delta com a água a cerca de 40ºC
Quase todos os hotéis têm hot tubs internas, mas só um tem externa: o Delta. Mas os visitantes também podem usufruir da piscina pública, como os moradores, por uma taxa entre 4 e 6 dólares canadenses/dia (veja mais em zhora.co/nahottub).
Raquetes de tênis nos pés
Quem quiser algo menos atlético que o esqui pode experimentar um passeio pela montanha de snowshoe, uma espécie de prancha que se usa embaixo dos sapatos para caminhar melhor na neve, porque distribui o peso do corpo por uma área maior. O equipamento é usado há séculos (parecia mais uma raquete de tênis) para esse propósito, mas desde lá ganhou alguns aprimoramentos (não tantos, para falar a verdade).
(Priscila De Martini/Arquivo Pessoal) Snowshoe, espécie de prancha que se usa embaixo dos sapatos e que facilita caminhar pela neve
É uma experiência bem diferente para quem nunca precisou enfrentar o dia a dia de nevascas. Dá para sentir um pouquinho as dificuldades enfrentadas pelo povo do Norte no inverno. Ao mesmo tempo, é bem legal desbravar as montanhas, em meio às coníferas. Encontramos até um santuário de aves. O passeio custa entre 12 e 18 dólares canadenses (zhora.co/raquetes).
Whistler: badalação na neve
Em vez de um clima mais relaxado, você prefere badalação? Então vá a Whistler.
A estação de esqui é bem maior que Sun Peaks (mas também bem mais cara). Conta com as principais redes de hotéis e resorts, restaurantes requintados, boates, lojas e, claro, celebridades. É comum encontrá-las por lá. Em nossa curta estada, topamos com o ator americano Ray Liotta (de filmes como Os Bons Companheiros e Hannibal) duas vezes em restaurantes (para ver como, sim, Whistler é maior, mas nem tanto).
(Priscila De Martini/Arquivo Pessoal) Muita neve no inverno de Whistler, estação de esqui na província de British Columbia, Canadá
E lá fui eu tentar aprender a esquiar de novo, dessa vez com um professor sul-coreano que falava português (não sei de onde aparecem essas pessoas!). Confesso, não durei muito. Estava com uma dor no pé recentemente lesionado, cansada e um pouco frustrada com minhas dificuldades quando pensei nela... a hot tub. Segundo o instrutor, fui a primeira aluna dele a desistir. Pedi desculpas, mas aquele dia estava tão frio e chuvoso - perfeito para curtir uma piscina (conceitos mudam)!
Entre uma atividade e outra, vale a pena almoçar ou jantar no Merlins, um restaurante bem descompromissado perto da base da montanha. Sou muito exigente com hambúrgueres e coisas do tipo, e o do Merlins está no meu top 3.
*A editora viajou a convite da Comissão Canadense de Turismo (CTC)