Por Debra Kamin
Com ruas de pedra caóticas, mas não menos charmosas, casas de banho com teto abobadado e tanques de água sulfurosa, fábricas soviéticas caídas transformadas em hotéis hipsters, Tbilisi é um modelo de contrastes.
Capital da Geórgia e centro da região do Cáucaso, a cidade parece uma arca de tesouro de tantas riquezas: catedrais que se erguem nas colinas feito bolos em camadas; cafés escondidos, lotados de quinquilharias, e um cenário artístico boêmio que, aos poucos, vai se livrando da influência soviética para revelar um núcleo vibrante e criativo.
Conquistada e reconquistada ao longo dos séculos, Tbilisi hoje exibe suas cicatrizes de luta com orgulho. Das muralhas das fortalezas medievais às novas boutiques de luxo badaladas, essa cidade, além de ser uma fusão entre o Ocidente e o Oriente, oferece algo a todos os gostos.
Obs.: a moeda da Geórgia é o lari – 1 lari é o equivalente a cerca de R$ 1,60.
Sexta
16h – Mãe Geórgia
Comece sua estadia com uma mudança de perspectiva, embarcando em um dos bondinhos modernos e elegantes que sobem à Fortaleza Narikala, do século 4, que se ergue sobre a cidade e é guardada por Kartlis Deda, uma mulher de alumínio de 20 metros de altura com um copo de vinho para os amigos em uma das mãos e uma espada para os inimigos na outra. Também conhecida como Mãe Geórgia, a escultura tem uma das melhores vistas da cidade, por isso vale a pena fazer o percurso de 10 minutos pelo céu e, de quebra, poder fazer fotos belíssimas.
Do forte é possível ver a Cidade Velha, do século 19, os muros de proteção muito mais antigos do Rio Mtkvari e as instalações novinhas em folha do Parque Rike. Ao pegar o bondinho de volta, vale esperar pelo que tem o piso de vidro e permite uma apreciação da paisagem em 360°, literalmente (2,5 laris, ou cerca de US$ 1).
17h – Entre dois mundos
Desça do século IV direto para o 21, indo ao Parque Rike, primor de planejamento urbano que tem o formato do mapa da Geórgia e áreas para piquenique, labirinto de arbustos, um piano gigantesco e chafariz com música e coreografia.
Sua marca registrada e inconfundível são os dois salões de exposição de metal projetados pelo arquiteto italiano Massimiliano Fuksas que parecem dois tubos de metal e vidro unidos pela parte posterior e servem também de sala de concertos. O parque é ligado à Cidade Velha pela Ponte da Paz, outra obra de projeto italiano com cobertura de vidro e que, à noite, proporciona um show de mil luzinhas LED.
18h – A hora do esfrega
A uma curta caminhada do Parque Rike fica a região de Abanotubani, que abriga uma série de casas de banho de tijolo aparente com tetos distintos, em forma de cúpula, onde há séculos os georgianos que querem restaurar as forças com um mergulho sulfúrico batem ponto. As piscinas comunais são separadas por gênero, mas há também salas privadas com ofurôs fumegantes – e quem estiver disposto a pagar um pouco a mais, ainda tem massagem e esfregação profissionais.
A mais turística de todas é a Chreli Abano Baths (também conhecida como Orbeliani; salas privativas a partir de 40 laris/hora; massagens a partir de 50 laris), com seu belo interior ladrilhado; o pessoal local também elogia o Gulo's Spa pela limpeza imaculada (salas privativas a partir de 30 laris/hora; massagem ou esfregação, por 10 laris a mais).
21h – O cardápio de uma princesa poetisa
O elemento-chave da cultura georgiana é o supra, ou refeição festiva. A culinária nacional é basicamente sazonal, composta de uma fusão impressionante de sabores orientais e ocidentais, tendo como grande destaque o khinkali, pasteizinhos cozidos e recheados servidos em um caldo substancioso; pão folha com queijo assado no forno à lenha; uma combinação de sabores doces e azedos provenientes das frutas e ervas frescas.
Para provar um pouco da tradição nacional, desça a escada de ferro batido curva que leva ao salão do Barbarestan, restaurante familiar em um antigo frigorífico de tijolos aparentes onde ainda é possível ver os ganchos enferrujados no teto. Difícil errar com qualquer item do cardápio, inspirado no livro de receitas do século 19 da princesa, poetisa e feminista Barbare Jorjadze, mas alguns destaques são a salada ghandzili, de alho selvagem em conserva, o filé de pato com marmelo e o pão caseiro feito com trigo vermelho. (Jantar para duas pessoas, com vinho, sai por 250 laris.)
Sábado
9h – Pão com manteiga
Talvez por causa da suntuosidade do jantar, os georgianos começam o dia tarde e, com isso, Tbilisi não tem uma cultura de café da manhã. Mas, se você desafiar o costume local e sair para a rua antes do meio-dia, não se desespere: a padaria Retro abre às nove e você pode se refestelar com o acharuli khachapuri, um pão que é uma verdadeira canoa recheado com queijo quente, manteiga e, de quebra, umas gemas de ovo flutuando na cobertura. (a partir de 7,50 laris.)
11h – Na Cidade Velha
A parte mais antiga de Tbilisi é um amontoado de ruelas sinuosas, igrejas centenárias e mansões em tons pastel com sacadas de treliça intrincadas. A mais bonita talvez seja a que abriga a Gallery 27, loja de suvenires e galeria que vende artigos artesanais nacionais. Suba a escada ladeada por belos vitrais e admire as belas peças sem pressa – mas esteja no Teatro de Marionetes Rezo Gabriadze ao meio-dia para ser brindado com um minishow quando o relógio da torre der as badaladas (o espetáculo se repete às sete da noite).
13h – Cafés para os amantes da arte
Talvez não haja melhor lugar para conferir o orgulho criativo e moderno que marca a Tbilisi pós-soviética do que seus cafés de arte. Cada um tem personalidade própria, mas todos têm um clima vintage, comida boa e oferecem um misto de galeria e ponto de encontro. Um dos mais belos é o Café Leila, pertinho do Teatro Gabriadze. Oferece versões vegetarianas dos clássicos nacionais, servidas em um salão colorido e decorado por pinturas de inspiração persa (almoço para dois, 100 laris).
14h30min – Diversão e jogos
A Torre de TV de Tbilisi, um horror da era soviética que se ergue sobre a cidade, no Monte Mtasminda, esconde algo bem mais interessante: o Mtasminda, um parque de diversões e playground urbano acessível por um teleférico que sobe a montanha, em um percurso vertical de 500 metros de altura. A melhor vista é proporcionada pelo primeiro carro, é claro. Além dos brinquedos, lá em cima há quatro restaurantes (3 laris/brinquedo).
17h – Tesouro escondido
A Geórgia é uma das regiões de vinicultura mais antigas do planeta, e Tbilisi é coalhada de salões de degustação onde é possível provar as versões nacionais. A Culinary Backstreets oferece passeios gastronômicos (US$ 95/sete horas, incluindo toda a comida e bebida) que inclui degustações e um curso relâmpago de produção de chacha, a aguardente local. Quem não tiver tempo pode ir a Vino Underground (degustações a partir de 25 laris) ou 8000 Vintages.
20h30min – Comensais de aluguel
Zura Natroshvili planejava fazer uma piscina para o filho no terraço do duplex em que mora quando teve uma ideia melhor: por que não, em vez disso, enterrar 48 urnas de cerâmica cheias de uvas na piscina, transformá-las em vinho de classe internacional e transformar o primeiro andar do apartamento em restaurante?
O resultado é o Bina N37, aonde os clientes chegam para jantar tocando o interfone no prédio de Natroshvili e se sentam para esperar a mesa em sua sala de visitas. O cardápio, que inclui kharcho (refogado de vitela e nozes) e khachapuri com ervas, é elevado, mas tradicional – como o próprio espaço. (Jantar para dois, com vinho, 150 laris).
23h – Fim de noite
Casas que realizam raves underground como Bassiani, Mitkvarze e Vitamin Cubes, onde se pode dançar até o raiar do dia, estão ajudando Tbilisi a conquistar uma reputação de capital dos festeiros radicais.
Mas a vida noturna local não é só balada forte: no Fabrika, espaço urbano onde funciona um albergue, há também boutiques de grifes locais, vários bares e salas de música, uma galeria e até um café onde a diversão são os jogos de tabuleiro. Siga os hipsters rumo às paredes tomadas por pichações e, ao chegar ao pátio interno da antiga confecção, faça suas escolhas.
Domingo
10h – Rolando na massa
Se você for ao Zakhar Zakharich de manhã, é bem provável que encontre as mesas vazias, com apenas alguns festeiros depois da balada, ainda bêbados, tomando khashi, a sopa nacional de dobradinha e alho que dizem acabar com qualquer ressaca. Não desanime. É um crime ir embora da cidade sem provar o khinkali, pastelzinho cozido para a sopa pelo qual a casa é famosa. Feitos à mão e com vários recheios (o de carneiro é o mais saboroso), esses bocados fazem um café da manhã ideal.
11h30min – Caça ao tesouro
Saindo do restaurante, bem do outro lado da rua fica o Dry Bridge, onde colecionadores, antiquários e artesãos participam do Mercado de Pulgas de Dry Bridge, verdadeiro paraíso para os escarafunchadores de relíquias da época da Perestroika. Medalhas de guerra da era soviética, peças intrincadas de porcelana, tapetes tradicionais da região do Cáucaso, joias de prata... tudo pode ser encontrado ali, escondido para quem quiser ver, em meio às pilhas e mais pilhas bagunçadas.
Acomodações
Há uma razão para o Rooms Hotel (diária dos quartos duplos a partir de US$ 200) ter feito parte de tantas listas como visita obrigatória neste último ano: a propriedade industrial chic parece ter sido feita sob medida para o Instagram. Situada em uma antiga gráfica, acertou na mosca com todos os detalhes, da decoração às refeições, passando por obras de arte deslumbrantes.
No Vinotel (diária dos quartos duplos a partir de US$ 130), uma propriedade com ar acolhedor e treze quartos, inspirada nas casas georgianas tradicionais, uma adega disponível significa que as uvas Saperavi estão sempre ao alcance, e sua localização, no centro da Cidade Velha, deixa as principais atrações da cidade a um pulo de distância.
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