Um avião monomotor suspenso no ar, com a porta aberta e um maluco pendurado na fuselagem, filmando tudo. Atrás dele, o sol se pondo em um fim de tarde, observado por sobre as nuvens. Saltar de paraquedas a 3,5 mil metros de altura oferece a vista do mar e dos rios que formam as baías do litoral, além da visão de praias, cidades e os cerros da região de Torres, no Litoral Norte. Mas é a explosão do vento sobre o rosto e a velocidade superior a 200 km/h da queda livre que realmente tiram quem encara a aventura do chão.
— Eu tenho tanto medo de altura que, quando estou aqui em cima, quero chegar o mais rápido lá embaixo. E eu subo de novo pra comprovar que é isso mesmo — afirma Luiz Sabiá Tapajós, 52 anos.
Sabiá é um dos profissionais mais reconhecidos do mundo, com recordes registrados na federação do esporte e impressionantes 28 mil saltos na caderneta, em três décadas. No meio dos colegas da Arcanjos Paraquedismo, não transparece qualquer soberba pelo currículo.
— Vamos voar com Deus e em segurança. Decolagem perfeita, comandante, um ótimo voo — diz, em ritmo de oração e apoio a quem está na cabine.
O paulista, que já rodou diversos continentes, parou no Rio Grande do Sul em função da pandemia, quando comprou um motor home. Ele ficou em casa, conforme a orientação, só que rodando o Brasil. Ele salta ao lado do turista com um par de câmeras apropriadas para registrar esportes radicais acopladas ao capacete. O trabalho, admite, é uma forma de fazer o que mais gosta na vida: juntar dinheiro para voar de novo.
Experiência assusta, mas é controlada
O sobrevoo no monomotor exige certo controle dos nervos. Para reduzir essa ansiedade, ainda em solo, um “remédio” é entregue pelo paraquedista Newton Nogueira, 56 anos, proprietário da Arcanjos: bom humor, a fim de desviar o foco da ação que está prestes a acontecer.
— Esse paraquedas aqui não é aquele rasgado? — brinca, em uma das tantas piadas que deixam o visitante mais relaxado.
Antes de chegar à pista, é feita uma simulação sobre um pedaço de madeira, para treinar a posição que deverá ser mantida durante a queda. Já nas alturas, os procedimentos são repetidos. Na aeronave, porém, as brincadeiras não entram.
— Aqui, a gente não brinca, é um momento de se concentrar. E o importante: se tu fizer tudo errado, não interfere em nada na segurança, porque tu está amarrado em mim — tranquiliza o paraquedista, segundos antes de abrir a escotilha.
A porta escancarada foi um dos momentos de maior tensão para o repórter que viveu a experiência como a meta de “descrever o indescritível”. É o aviso de que não tem mais volta. Resta olhar os prédios reduzidos a bloquinhos de montar, verificar mentalmente a posição que o corpo deverá seguir e se aproximar da saída.
O instrutor é quem carrega o paraquedas. As amarras são apertadas ao máximo, como se fossem uma única pessoa. Não dá tempo de pensar muito: com o primeiro embalo para trás, o impulso se volta para a frente e logo tudo é ventania, coração acelerado e uma contemplação do que a natureza, gratuitamente, reserva.
O rasante percorre metade do caminho, em torno de 1,7 mil metros de queda livre, e dura pouco mais de 30 segundos. É difícil dizer se o relógio corre mais rápido ou devagar. Até que o paraquedas é armado, reduzindo drasticamente a velocidade. A partir daí, o passeio se converte em observar, rir, xingar e comemorar o sucesso da empreitada. Vale cada taquicardia.
Serviço
- Diariamente, em horários a combinar
- Endereço: Aeroporto de Torres (km 77 da Estrada do Mar, trevo da Praia Estrela do Mar)
- Valores: salto duplo com filmagem do piloto que acompanha o turista, R$ 940. Salto duplo VIP com cinegrafista, R$ 1.255.
- Contatos: pelo Instagram ou no (51) 98104-7737 (com WhatsApp)