Uma gurizada deu o exemplo na manhã desta sexta-feira (27) em Torres, no Litoral Norte. Com baldes e vestindo luvas, 15 crianças percorreram a Praia dos Molhes para recolher o lixo espalhado na areia, na primeira ação de 2023 do projeto Praia Limpa.
— Eu junto para o mar não ficar poluído e os peixes não morrerem. Tem que jogar o lixo no lixo — ensina o estudante Kauê Gaspar Odara dos Reis, 8 anos.
Em poucos minutos, os recipientes estavam repletos de pratinhos de festa, caixas de papelão, garrafas pet, latas de refrigerante e cerveja, vidros, sacolas plásticas e bitucas de cigarro. Até mesmo um cano de um aspirador de pó e hastes de um guarda-sol quebrados chamaram a atenção porque foram descartados no local errado.
A atividade ocorreu próximo aos molhes e foi organizada como uma gincana: quem juntasse mais material ganharia a disputa, que teve brindes distribuídos a todos os participantes. O recipiente de maior volume pesou 5,2 quilos.
Alguns moradores e familiares das crianças se uniram ao mutirão de limpeza.
— É fundamental essa ação pra mostrar à criançada que tem que manter limpo o ambiente que todos vivem. Ver com os olhinhos deles, pegar com as mãos e sentir o peso do lixo gera consciência de não deixar lixo na praia — afirma a fotógrafa Sandra Pilla, 45, que levou os filhos, de 8 e 11 anos.
As crianças recolheram 47 quilos em 30 minutos. Somando o que foi removido pelos pais, o total chegou a 50 quilos.
O Praia Limpa foi criado em 2013 pelo empresário Alexis Sanson, 50 anos, morador de Torres. A ideia de despertar nas pessoas o cuidado com o meio ambiente surgiu da vivência na Austrália, onde, segundo ele, a forma de tratar o planeta é prioridade.
Antes de disparar o cronômetro na competição do bem, o empresário repassou ensinamentos sobre a diferença entre dejetos orgânicos e materiais recicláveis, explicou que as dunas são os pontos que costumam ter mais lixo e que o plástico permanece séculos no meio ambiente. Mostrou ainda objetos retirados do oceano em verões passados:
— Essas garrafas vieram da China. E essa latinha foi fabricada nos anos 1990, ficou até pouco tempo boiando no mar — exemplificou, fisgando atenção do público.
— Nossa, eu nasci em 2014 e essa lata é de 1998! — se espantou um dos participantes, de 8 anos, que encontrou a latinha de refrigerante com o triplo da sua idade.
O idealizador organizou a ação desta sexta junto à escolinha de surf do Sesc, que reuniu a garotada para a prática do esporte após o trabalho ambiental. A Associação de Surfistas e Atletas Torrenses (AST) e a prefeitura do município também são parceiros na atividade.
— As crianças têm esse espírito de coletividade, mais do que o adulto. O adulto olha pra si e esquece que o convívio social é importante. A limpeza da praia é isso, pois tu limpa não só pra ti, mas também para os outros — define o professor de surfe e educador físico Murilo Mesquita, 26 anos.
O mais pitoco do grupo foi à ação pela segunda vez, mas nunca havia participado: Joaquim Goulart Elz, 4 anos, estava na barriga da mãe em 2018, quando ela foi uma das voluntárias.
— Agora ele também é um voluntário para a praia ficar mais limpa — explica o pai, Giordan Elz, 34 anos.