Já faz um bom tempo que caminhar pela Avenida Beira-Mar de Rainha do Mar, em Xangri-lá, nas proximidades da Avenida Coral, é deparar com parte da história da praia abandonada. A imponente estrutura a alguns metros das dunas, que já foi colônia de férias do Banrisul, hoje é um esqueletão. A área de quase 11 mil metros quadrados está abandonada desde 2018, mas o terreno deve ganhar um novo empreendimento nos próximos anos.
A área que ocupa três quarteirões foi adquirida por uma construtora, que pretende investir e tornar o local atrativo novamente. A D1 Empreendimentos, de Capão da Canoa, comprou o terreno por R$ 4,28 milhões. Ainda não está definido o que vai ser construído no local, mas o certo é que, pelo menos, parte da área será comercial.
Duani Minosso Teixeira, diretor da D1 Empreendimentos, diz que ainda é preciso estudar a região para saber o que construir. Um estudo está sendo encaminhado para saber se a estrutura hoje existente pode ser reformada ou se precisará ser colocada abaixo para dar lugar a uma nova.
Sobre as condições atuais dos prédios, afirma que não apesentam risco de queda, conforme laudo feito por profissional habilitado. Quando GZH esteve no local, trabalhadores da construtora faziam a retirada de janelas de alumínio. De acordo com Duani, a ideia é remover aberturas e qualquer estrutura que possa voar em caso de um temporal.
Ainda não há prazo para começar efetivamente as obras. A construtora está focada no momento em outros empreendimentos em andamento.
— A ideia é fazer o lançamento no ano que vem — adianta Teixeira, ao ponderar que há algumas etapas para serem cumpridas antes dessa definição.
Conforme o empresário, parte da memória da Banrimar, como era chamada a sede da extinta colônia de férias, será preservada.
— É um terreno especial. A gente guardou alguns itens para fazer parte da história quando for fazer alguma coisa, como placas internas e alguns cofres, por exemplo — conta.
Em caso de reforma, segundo Teixeira, o empreendimento pode ficar pronto em um ano. Já se precisar outras intervenções no terreno, em média, três anos.
Além do terreno de Rainha do Mar, a D1 Empreendimentos adquiriu outras áreas em Capão da Canoa, Xangri-lá e Maquiné que abrigarão um hotel, prédios residenciais e comerciais e casas. Recentemente, entregou a obra do Hospital e Centro Clínico Litoral Norte, localizado em Xangri-lá.
Abandono
GZH esteve na Banrimar e pôde perceber o tamanho abandono. Ferros da construção estão a mostra e enferrujados. O concreto de várias partes desabou. Parapeitos de sacadas dos apartamentos caíram ou aparentam quase cair. Forro e telhado estão destruídos em algumas partes. Algumas persianas de PVC foram arrancadas ou caíram das janelas. O azul e o branco tradicional das paredes desbotaram e a tinta está descascada em várias partes.
O recuo de rua que servia de estacionamento para quem veraneava no local hoje é usado por quem frequenta a beira da praia naquele trecho. A estrutura foi cercada e possui placas de uma empresa de vigilância. Guardas-vidas usam o local para deixar algumas ferramentas, como pá e vassoura de jardim usadas para fazer os morros em frente às guaritas.
Alvarino Gomes Serpa, 77 anos, tem casa em Rainha do Mar desde 1996. Morador de Sapucaia do Sul, conversou com a reportagem enquanto caminhava pela Avenida Coral, ao lado do esqueletão da Banrimar. Saudosista, recorda quando a praia era bem mais movimentada que nos dias atuais em razão da colônia de férias.
— Tinha um restaurante bem bacana. Era bonito, organizado. Eu via o governador Olívio Dutra com frequência por aqui — recorda o aposentado, numa referência ao petista que se hospedava na Banrimar para veranear.
Serpa lamenta o abandono, mas, ao mesmo tempo, fica animado ao saber que a área foi adquirida e que deverá se transformar em algo que atraia público para a região:
— É uma grande novidade essa compra. Pode dar mais movimento. Em 1997 tinha muito movimento. Depois começou a decair. Que bom que alguém comprou e não ficará mais abandonada.
Luiz Carlos Ribeiro, 65 anos, é proprietário do quiosque da beira da praia mais próximo à Banrimar. Está no local há 44 anos, ou seja, conviveu bem com os tempos áureos da colônia de férias.
— Pra nós era maravilho. Vendia bem. O pessoal sempre vinha na beira da praia gastar um pouquinho. Sempre tinha alguém que queria comer um petisco, tomar uma caipira, comer um milho — recorda o comerciante.
Ribeiro mostrou à reportagem um álbum de fotos com a história do seu quiosque, que no início era um carrinho que armazenava produtos, e sua ligação com a colônia de férias. Espera que o que for construído na área atraia mais público para a praia.
— Não sei se vou estar vivo para ver, mas torço que aconteça — diz o comerciante, abrindo um sorriso largo.
O que diz o Banrisul
"O Banrisul informa que o imóvel que abrigou a colônia de férias dos colaboradores do Banco, situada na praia de Rainha do Mar, município de Xangri-Lá, estava em desuso desde o ano de 2018, quando passou a bem de não uso do Banco. Posteriormente, em 2021, foi comercializado de acordo com o processo normal de venda de bens imóveis da instituição."