Famosas desde o final de 2007, quando motivaram o cancelamento da queima de fogos de artifício na praia de Capão da Canoa, as corujas-buraqueiras fazem parte da fauna típica litorânea. A espécie, que é encontrada em toda a costa brasileira e cava buracos na areia para acomodar seu ovos e filhotes, está muito presente no litoral gaúcho, onde pelo menos 25 ninhos são monitorados por prefeituras da região.
Na manhã desta segunda-feira (31), a reportagem avistou algumas corujas nas dunas que ficam na Avenida Beira-Mar, próximo à Avenida São Luís, em Imbé. Também é possível ver a entrada dos ninhos, cavados no meio da areia. No total, 11 corujas foram vistas por volta das 9h30min.
— São lindas, não? Temos casa aqui há sete anos e sempre vejo. Já vi a mãe pegar comida e levar até o ninho, para dar aos filhotes. Acho que os menores ainda não devem saber voar. Eu acho uma graça, sempre fico olhando — comenta Patrícia Lima, 56 anos, que veraneia em Imbé.
As corujas chamam atenção de quem passa pelo local. É possível ver os animais cavando a areia e também alçando voo para cruzar a avenida, pousando do outro lado da rua.
— São muito bonitas. Só não pode chegar muito perto, pra não interferir. Se a gente se aproxima muito, elas começam a dar gritinhos — brincou outra veranista, enquanto caminhava pela orla.
Em Imbé há cerca de 10 ninhos que foram sinalizados por estarem em locais de mais interação humana. Porém, segundo a secretária municipal adjunta de Meio Ambiente, Pesca, Proteção Animal e Agricultura, Nélida Pereira, deve haver muito mais ninhos em locais mais afastados.
— Como essa espécie de ave tem poucos predadores, elas são bem abundantes, principalmente nas áreas próximas a praias e praças. Geralmente, sinalizamos os ninhos ativos, que estão mais vulneráveis, com cercamento e uma plaquinha com a identificação da espécie — revela a secretária adjunta.
Na orla de Capão da Canoa, próximo à estátua de Iemanjá, um grupo de amigos cercou um ninho de corujas-buraqueiras e instalou placas avisando da presença delas e pedindo silêncio. A mamãe coruja ganhou até um nome: Bu. A iniciativa é aprovada por quem circula pela região.
— Acho que está certo esse trabalho. Se deixá-las totalmente livres aqui, que é um local onde elas não têm proteção natural, podem atropelar a casa delas, principalmente à noite — opina o aviador Ênio Berna, 61 anos, morador de Capão.
Para Ênio, isolar o ninho e colocar placas informativas ajuda a conscientizar a população sobre os animais. O radialista Sérgio Luiz Neves, 61 anos, também apoia atitudes de preservação desse gênero.
— Acho bem interessante haver esses pontos preservados com relação ao meio ambiente e às corujas aqui em Capão, especialmente à beira-mar — avalia.
Conscientização
Há em torno de 10 ninhos ativos identificados pela prefeitura na região central de Capão da Canoa. Lá, por conta do episódio do cancelamento dos fogos de artifício em 2007 – a queima deixou de ocorrer após ambientalistas denunciarem a proximidade das corujas do local onde o evento ocorreria – o trabalho de conscientização do município sobre como lidar com as aves acontece há 15 anos.
— Naquela época, cercamos o ninho para usar de ponto de referência e educar a população, espalhamos cartazes pela cidade explicando os hábitos das corujas e fizemos todo um trabalho nas escolas, para as nossas crianças. Hoje, aquelas crianças já são adultas e certamente têm mais consciência sobre as corujas — analisa Marisa Freitas, bióloga da prefeitura de Capão.
A bióloga não é, porém, favorável ao cercamento dos ninhos. Ela conta que o cercado acabou atraindo ainda mais as pessoas para perto das corujas e perturbando aquela família, que, com hábitos alimentares diurnos, sequer conseguia sair para caçar. Por esse motivo, hoje, a prefeitura não cerca os espaços onde as aves se concentram.
Em Tramandaí, a prefeitura calcula hoje que há cinco ninhos ativos. Ao contrário de Capão, o município cerca os espaços.
— As corujas surgem em várias partes da cidade, em Nova Tramandaí, na praça, na beira-mar e também no Centro de Eventos. Esses locais são cercados, para dar mais segurança às corujas e seus filhotes — relata a secretária de Meio Ambiente de Tramandaí, Dalma Machado, acrescentando que conta com a ajuda dos moradores para fazer o monitoramento.
Em Xangri-lá, ainda que a prefeitura confirme a presença das corujas, não é feito um monitoramento das aves, devido à falta de estrutura para isso. No entanto, quando elas aparecem em loteamentos e condomínios, o município acompanha o manejo da situação. Nesses casos, é preciso conferir que há algum ovo ou filhote no buraco e, se não houver, tapá-lo, o que faz com que a coruja migre para outro espaço.
— A coruja pode ficar estressada pelo contato com cachorros ou gatos em locais mais urbanizados. É importante diminuir o conflito com os animais domésticos, que acabam prejudicando e até interferindo nos filhotes das corujas — orienta Estevão Schwambach, biólogo da prefeitura de Xangri-lá.
A recomendação é que, quando um ninho de coruja-buraqueira é encontrado por algum morador ou veranista, a prefeitura daquele município seja notificada, para que ela esteja ciente e faça a gestão necessária. Também não se deve dar comida para elas – as corujas se alimentam de insetos e são excelentes caçadoras.