Identificada pelos frequentadores como um pequeno paraíso encravado entre as margens da Lagoa Mirim e a BR-471, a Praia da Capilha, localizada no 4º distrito do Taim, a 80 quilômetros do centro de Rio Grande (sul do Estado), mantém o adjetivo pelas areias finas e claras e águas tranquilas — próprias para banho, de acordo com o boletim de balneabilidade divulgado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) na primeira semana de 2021.
História e belezas naturais se misturam no vilarejo de 1,4 mil habitantes. Percorrer a única rua de terra que liga a entrada da localidade à praia possibilita estar mais próximo de quem respira a região o ano todo. Enquanto os pescadores reformam as redes e controlam as canoas deixadas nas margens da lagoa, idosos conversam a distância nos portões das casas e os comerciantes aguardam nos balcões dos botecos e mercadinhos a entrada de visitantes. Há também um estacionamento particular para motor-homes.
Mesmo com a construção de mais casas de veranistas, aqui é o meu lugar. É onde me sinto seguro
IGOR DE LOS SANTOS
Pescador
Nascido na Capilha, o pescador Igor De Los Santos, 24 anos, até tentou morar na área urbana de Rio Grande, com parentes, para estudar e trabalhar. Mas desistiu depois de dois anos. Sentia falta da abundância das águas da Mirim e da tranquilidade de quando está na lagoa. Há uma década, voltou para a prainha onde os pais e tios tiram o sustento da pesca de traíras, jundiás, pintados e tainhas. Nesta época do ano, quando ocorre a piracema, De Los Santos se preocupa apenas em manter os barcos da família presos à areia no sobe e desce da maré.
— Mesmo com a construção de mais casas de veranistas, aqui é o meu lugar. É onde me sinto seguro — conta o jovem.
Quem vai à Capilha busca o sossego do vilarejo fundado por pescadores, mas que, nos últimos anos, tem recebido mais visitantes e novos moradores. Nos dias de semana, quando a praia ainda é menos frequentada durante o verão, os sons dos pássaros e das marolas da lagoa se sobressaem entre os banhistas espalhados pela imensidão de areia. Moradores, veranistas e campistas garantem que o cenário paradisíaco tem dois extremos: os temporais que vêm da lagoa, acompanhados de vento, costumam ser assustadores, mas quando o céu está sem nuvens, o pôr do sol é único, já que o astro se despede nas águas da Mirim.
Aqui (na Capilha), as crianças ficam mais à vontade porque as águas são calmas. A gente relaxa mesmo e pode ficar distante de outras pessoas. Venho sempre para recarregar as minhas baterias
CLENIR TROCA
Cabeleireira
Veranista do local há mais de 40 anos, a cabeleireira Clenir Troca, 61 anos, moradora de Rio Grande, lembra da época em que a Capilha era um deserto com casas distantes umas das outras, sem comércio e com dunas por todos os lados. Quando havia cinco carros nas margens da lagoa, já se considerava a praia cheia. Hoje, mesmo com o aumento de frequentadores, Clenir afirma não trocar a praia de água doce pela salgada Cassino, mesmo estando mais próxima da casa dela, a 20 quilômetros de distância.
— Aqui (na Capilha), as crianças ficam mais à vontade porque as águas são calmas. A gente relaxa mesmo e pode ficar distante de outras pessoas. Venho sempre para recarregar as minhas baterias — comenta Clenir, que está com a família na casa de um parente morador da localidade.
Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Rio Grande, Gilberto Tavares Sequeira, o vilarejo se tornou um atrativo turístico pela importância histórico-cultural e por conta do ecossistema, já que é vizinho da Estação Ecológica do Taim. Sequeira salienta que a prefeitura de Rio Grande envolveu a comunidade no Plano Municipal de Turismo, que busca desenvolver o setor com sustentabilidade na Capilha, nas ilhas do território de Rio Grande e na Estação Ecológica do Taim.
Sequeira explica que o plano tem a finalidade de viabilizar a elaboração de estudos com a comunidade local que ajudem a minimizar o impacto da atividade turística sobre os recursos naturais. Além disso, pretende desenvolver parcerias para qualificar os serviços turísticos e a formalização de empresas de serviços ecoturísticos nas regiões contempladas.
Pessoas ligadas aos esportes náuticos e aqueles que gostam de turismo ecológico têm buscado a região. A localidade está crescendo ano a ano
GILBERTO TAVARES SEQUEIRA
Secretário municipal de Desenvolvimento, Inovação e Turismo de Rio Grande
O secretário pontua que a localidade ainda tem baixa estrutura turística e comercial, pois a economia é fundamentada na pesca artesanal e no agronegócio. A praia conta com duas pousadas, um camping e dois restaurantes.
— Pessoas ligadas aos esportes náuticos e aqueles que gostam de turismo ecológico têm buscado a região. A localidade está crescendo ano a ano — comenta o secretário, um confesso admirador da Capilha e que assumiu a pasta no início deste mês.
A Capilha conta com uma guarita de guarda-vidas. Durante três horas, percorremos toda a praia e não encontramos nenhuma garrafa pet, toco de cigarro ou outro tipo de lixo na areia ou na água. Há um cuidado dos próprios moradores e isso, aparentemente, acaba contagiando quem busca a paz da praia.
Nome da praia é homenagem a capela histórica
A Praia da Capilha ganhou esse nome devido à capela de Nossa Senhora da Conceição, que fica em um ponto de destaque do vilarejo. O nome deriva do espanhol "capilla". O primeiro prédio da igreja foi erguido em 1785, sendo chamado pelos espanhóis de Capela de São Pedro por estar no continente de São Pedro. Em 1844, ela foi reconstruída com o patrocínio de moradores da cidade.
Em novembro de 2020, a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), assinou um Termo de Destinação de Valores para custear o restauro da capela, já tombada pelo município de Rio Grande e considerada patrimônio histórico e cultural da região.
Orçado em mais de R$ 2 milhões, o projeto de restauração integral é uma parceria proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), a Mitra Diocesana de Rio Grande e o município. O valor é proveniente de acordos firmados em ações civis públicas movidas pelo MPF. Conforme a Secretaria de Município de Desenvolvimento, Inovação e Turismo, a obra tem previsão de conclusão de 12 meses e a execução do projeto ficará sob responsabilidade da Mitra Diocesana de Rio Grande. Ela será fiscalizada pelo Iphae.
Já o município será responsável por executar o Plano Integrado de Gestão, Desenvolvimento, Conservação e Sustentabilidade do Núcleo Autônomo do Taim, onde a capela é vista como ponto fundamental. O plano, que teve contribuição do Iphae, prevê o uso e a valorização do sítio histórico, articulados com o turismo regional da Costa Doce.
Localização
- A entrada da praia fica no km 530 da BR-471
- O vilarejo fica à direita da rodovia, no sentido Rio Grande-Chuí
- Há uma placa indicando a entrada da Praia da Capilha