Ambientalistas e biólogos do litoral norte gaúcho estão apreensivos com o retorno da tartaruga marinha que depositou seus ovos em Arroio do Sal. Segundo estudos, a espécie tartaruga-de-couro tem como hábito regressar à costa após um período de 11 dias, em média, e repetir o ato.
O evento histórico — documentado apenas uma vez no Rio Grande do Sul, em 1995 — aconteceu no último dia 12, foi flagrado e registrado em imagens pelo professor de Biologia Willian Lando Czeikoski, de Bento Gonçalves. O educador caminhava na praia próximo das 23h quando notou as pegadas na areia. Já na madrugada seguinte, ela realizou a desova.
O animal tinha cerca de 1m50cm, e a espécie está entre as maiores do mundo, podendo pesar até 400 quilos. De acordo com o biólogo Maurício Tavares, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), os próximos quatro dias são cruciais para flagrar um possível retorno.
— Queremos documentar a outra subida dela. Normalmente, são em média três desovas, podendo chegar a até 10, e gostaríamos muito de detectar outro ninho — reforça.
A espécie é geralmente encontrada no Espírito Santo. De acordo com o monitoramento realizado na Região Sudeste, a distância entre os pontos de desova pode chegar a 50 quilômetros.
Tão incomum como o que aconteceu no Rio Grande do Sul, um réptil de característica semelhante depositou seus ovos no Paraná, e regressou para iniciar uma nova desova. O intervalo entre as aparições foi de 12 dias, e apenas 700 metros separam os dois ninhos, dados que ajudam a monitorar o litoral gaúcho.
— A partir de agora, estamos contando com a ajuda de quem caminha na beira da praia e com rondas matinais dos salva-vidas. Para quem é leigo e não conhece, pode passar despercebido, achando que é uma marca de carro — orienta Tavares.
Rastros e medição da temperatura
Os rastros são semelhantes aos de um pneu de trator, com vincos nas laterais e liso ao centro. Caso seja avistado, o animal deve seguir seu curso sozinho, sem contato humano. Essas orientações foram repassadas aos guarda-vidas, que farão o contato imediato com os biólogos havendo indícios de nova aparição.
— Importante não mexer no animal, pois pode assustar, ou fazer com que ela perca a referência. É o jeitão dela, que se locomove com dificuldade — explica o soldado Gustavo Augusto Damaceno Bueno, 27 anos, um dos guarda-vidas da Guarita 40, em Arroio do Sal, a poucos metros do cercado que protege os filhotes tão aguardados.
O ninho virou ponto turístico na praia. Ganhou cerca já no dia seguinte e placas com orientações foram instaladas na manhã desta quinta-feira (21). No final da tarde, equipes da prefeitura de Arroio do Sal foram até o local para instalar um portão de madeira com cadeado, estrutura que visa facilitar o controle do ambiente. A incubação deve levar de 60 a 90 dias, período variável principalmente pelo clima, chuvoso nos últimos dias.
Em frente à guarita, uma grande escultura de areia começa a ser esculpida, em homenagem ao animal. Talhada na areia, ela deve ser finalizada neste sábado (23), com pintura do casco.
A partir do início de fevereiro, a temperatura da areia será aferida, como forma de monitoramento do ninho. Para isso, dois termômetros especiais foram adquiridos, acessórios semelhantes aos utilizados na gastronomia, com sensibilidade extrema. Biólogos e guarda-vidas utilizarão o equipamento três vezes por dia, relatando a medição em uma espécie de relatório de controle.
Informações exclusivamente sobre a presença de outras tartarugas podem ser repassadas pelo telefone do Ceclimar: (51) 99625-3179.