Você já se sentiu mal por usar itens de plástico na beira da praia? Ao tomar uma caipirinha com canudo, lembrou do vídeo que viralizou nas redes sociais em 2018 ao mostrar a agonia de uma tartaruga na Costa Rica que teve um canudinho retirado de dentro de uma narina?
Se as respostas forem "sim", saiba que há alternativas para ser sustentável no veraneio.
No litoral norte do Estado, o comércio está atento à diminuição do uso de produtos de plástico. Além da proibição dos canudos – o grande vilão da vida marinha –, iniciativas à beira-mar agradam veranistas e impedem que produtos como copos, por exemplo, sejam consumidos em massa e agridam o ambiente de forma desenfreada.
Veja a seguir cada praia que está fazendo a sua parte.
Imbé
Em Imbé, o engajamento da população no combate ao uso de plástico é estimulado tanto em estabelecimentos à beira-mar quanto na areia. Próximo à guarita principal do Corpo de Bombeiros da cidade, uma grande estrutura metálica em formato de peixe serve de depósito para garrafas pet.
A cidade foi a primeira do Litoral Norte a abolir o uso de canudos plásticos. Desde 1º de dezembro de 2018, restaurantes, lanchonetes, bares, barracas de praia e vendedores ambulantes não podem utilizar o item, sob pena de multa (de R$ 500 a R$ 2 mil) e até cassação de alvará, em caso de reincidência. Até agora, quatro estabelecimentos foram notificados.
No município, apenas o canudo biodegradável é permitido: demora cerca de dois anos e seis meses para se dissipar na natureza.
O outro, feito basicamente de polipropileno ou poliestireno (que são tipos de plástico), pode levar até 500 anos para se desmanchar e, caso o vento leve para o mar, pode parar dentro da narina ou do estômago de um animal.
Na orla, dois quiosques oferecem alternativas. No Bar do Espartano, são vendidos canudos de metal, copos reutilizáveis e sacolas de pano. O kit canudo e copo custa R$ 10.
— Começamos neste veraneio a usar o canudo de aço inox. Mandamos fazer 500 para os três bares que temos e, na semana passada, acabou. A gente explica para os clientes a situação, sobre a consciência do uso do plástico, e a maioria compra a ideia — conta Igor Bastos de Macedo, 22 anos, proprietário do quiosque.
GaúchaZH apurou que cada canudo de metal custa, em média, R$ 5 para o bar. A diferença para os de plástico é muito grande: cem unidades sai por R$ 3. Já a centena do biodegradável sai por R$ 3,50.
Desde o verão de 2018, todos os clientes do quiosque Secret recebem canudo de papel sem custo extra. O bar também trabalha com copos retornáveis, que podem ser levados para casa ou devolvidos.
— Oferecemos nossos copos e acrescentamos R$ 5 ao pedido. Se o cliente quiser, pode levar para casa. Senão, devolvemos o dinheiro. A maioria compra, leva e, depois, carrega pela praia em outras ocasiões — disse Audrey Kollert, funcionária do quiosque.
Para cada mil canudos de papel, o bar desembolsa R$ 250.
— Essa é a tendência a partir de agora. O que é R$ 5 para quem está na praia, curtindo? — disse Leonardo Meneghetti, ao lado de Alexia Kohler - o casal de Porto Alegre veraneia em Imbé e é cliente fixo do local.
Capão da Canoa
Uma legislação para controlar o uso desenfreado de plásticos na praia de Capão da Canoa ainda está sendo estudada pela prefeitura. A ideia é englobar não só canudos, mas copos e outros plásticos, fazendo um trabalho de conscientização para diminuir o consumo.
Elisabete Silveira da Silva, sócia do quiosque Acapulco 13, diz que já há um movimento entre os comerciantes para usar o canudo biodegradável.
— Hoje, estou sem porque está em falta na minha fornecedora — lamenta Elisabete, citando que a centena dos canudos de decomposição mais rápida custa cerca de R$ 7 a mais.
O item biodegradável é única opção no quiosque de Márcia Liliana Holderbaum, 40 anos.
Ela conta que, nesse ano, primeiro verão do estabelecimento, já nota a rejeição ao plástico na praia:
— A gente vê a preocupação dos veranistas, que chegam perguntando se o canudo é biodegradável. Tem gente que nem pega canudo. Os copos plásticos, por enquanto, seguimos usando. É mais difícil eliminar.
Tramandaí
Este veraneio começou diferente em Tramandaí, com a eliminação do uso de canudos de plástico. Antes mesmo da lei, sancionada em maio de 2019, a prefeitura já condicionava o licenciamento dos quiosques à proibição do material.
A mudança na cultura já pode ser vista na beira-mar: quiosques optaram pelo canudinho biodegradável, embalado em papel, e comerciantes tomaram como hábito perguntar aos clientes se querem ou não o objeto na bebida.
— A gente pergunta, e geralmente os clientes pedem sem canudo, mesmo o biodegradável. Não querem mais plástico. Vendo pamonha e servia com garfo e bandeja, hoje, pedem sem nada — revela Claudia Oliveira, proprietária do quiosque Mar Verde, próximo à plataforma.
A pedido da prefeitura, a comerciante, que está há 13 anos na beira da praia, fez cursos na área em que atua – um deles exclusivamente voltado a questões sobre o ambiente. Ela admite que a mudança afeta seu bolso.
— Pretendo, no futuro, investir mais. Queria colocar copo de papel ao invés de plástico, mas sai muito caro. Dependendo da bebida, ofereço de vidro. Se tivesse alguém que propusesse uma parceria com a gente, dos quiosques, talvez pudéssemos eliminar o copo plástico — sugere.
Xangri-Lá
O canudo de papel com listras azuis e brancas é o toque final do delicioso e gelado coco verde de Valéria Cristina Maciel, 46 anos. Seu carrinho, localizado na orla da praia de Atlântida, em Xangri-Lá, não possui itens de plástico descartáveis. Após trabalhar dois anos em Santa Catarina, decidiu aventurar-se nos negócios no Rio Grande do Sul nesse verão, trazendo o costume do Estado vizinho.
— Meu cunhado trabalha com coco em Santa Catarina e sempre usou canudos de papel. A gente compra junto lá, e sai mais barato. Todo mundo que vê, elogia. Para o meio ambiente, é muito bom — diz Valéria, orgulhosa.
Na beira da praia de Atlântida, a reportagem encontrou quiosques disponibilizando canudos de plástico, individuais ou cobertos por embalagem plástica.
Em Xangri-Lá, os comerciantes têm até 29 de janeiro de 2021 para adaptar-se ao uso exclusivo do canudo biodegradável, obedecendo a lei municipal aprovada no ano passado. Representantes da prefeitura irão percorrer o comércio para alertar sobre a exigência.
"O plástico é um câncer"
Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ignácio Benites Moreno, iniciativas que colaboram com a redução do uso de plástico descartável sempre são bem-vindas, por menores que sejam. Porém, seus estudos em biologia animal mostram que o material deveria ser extinto completamente.
— O plástico é um câncer. Não deveríamos usar nada de plástico, nem canudo, nem pratinho, nem garfo, nada. 99% das tartarugas e aves marinhas que chegam para nós possuem plástico dentro do estômago — conta o professor, que possui projetos de pesquisa no Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), em Tramandaí, onde também dá aula.
Moreno defende que uma atitude mais radical seja tomada por parte do poder público. Segundo ele, o canudo biodegradável, permitido por lei nas principais praias do litoral gaúcho, também é um vilão.
— Muitos comerciantes saíram atrás desse canudo biodegradável, que na verdade é de plástico, continua sendo plástico. Ele só vai degradar mais rápido e virar microplástico (pequenos e quase imperceptíveis pedaços de plástico encontrados nas águas) mais rápido. O biodegradável é igual ao outro, estamos enxugando gelo — justifica o professor.
A conscientização, ressalta Moreno, é a chave para mudanças que possam ocorrer no futuro.
— Os consumidores têm que se preocupar em não pedir mais plástico no comércio e não usar mais plástico, levar a iniciativa para casa. Frequentar locais que possuam essas iniciativas. Deveríamos ter começado isso antes, há uns 10 anos, mas antes tarde do que nunca — orienta o especialista.
— Precisamos pensar no ciclo do lixo: ele sai da nossa casa e vai para o lixão, para o aterro, ou seja, estamos devolvendo ele para o Planeta. Se a gente parasse de produzir plástico hoje, ainda demoraríamos anos para eliminar ele da Terra.
Documentário
Para quem se interessa pelo assunto ou ainda não entendeu como o plástico impacta a vida animal e, consequentemente, a humana, o professor Ignácio Benites Moreno, da UFRGS, indica o documentário Midway, que conta como aves estão morrendo na pequena ilha no Oceano Pacífico por confundirem o plástico com alimento.
No filme, cadáveres de albatrozes são mostrados de barriga aberta, cheia de diversos itens descartáveis, como canudinhos e tampas de garrafas. O fato também foi documentado pelo fotógrafo norte-americano Chris Jordan e as imagens podem ser vistas neste link.
A legislação em outras praias
Torres
- A lei que proíbe o fornecimento de canudos plásticos a clientes de restaurantes, bares, quiosques, hotéis e outros estabelecimentos comerciais só entrará em vigor em setembro de 2021, com sanções que envolverão notificação, multa e até fechamento do espaço.
- Como alternativa aos canudinhos de plástico, poderão ser fornecidos canudos em papel reciclável, material comestível ou biodegradável, embalados individualmente em envelopes fechados, feitos do mesmo material.
- Atualmente, o comércio está em processo de adaptação.
Cidreira
- Desde 2018, o município obriga mercados, supermercados, restaurantes, bares, lanchonetes, barracas de praia, quiosques, ambulantes e similares a usarem canudos de papel biodegradável ou reciclável individual.
- A utilização de canudos de plástico gera multa, e a a fiscalização faz um trabalho de orientação junto aos comerciantes, segundo a prefeitura.
- O valor da autuação não foi informado.
Pinhal
- Há uma lei proibindo a comercialização e distribuição de canudos de plástico no comércio.
- A secretaria do Meio Ambiente faz um trabalho informativo nos estabelecimentos, principalmente à beira-mar.
- A multa prevista, em caso de descumprimento, é de R$ 500,podendo chegar a R$ 1 mil em caso de reincidência.
- Até agora, não houve necessidade de autuação, segundo a prefeitura.