Apesar de ter sido criado por surfistas na década de 1960, na Califórnia, Estados Unidos, o skate desenvolveu-se fortemente em áreas urbanas, com a modalidade street, deixando as praias um pouco de lado. Mas isso vem mudando ao longo dos anos. No Litoral Norte do Rio Grande do Sul, há espaços públicos e privados com rampas ou pistas destinadas aos skatistas, como em Balneário Pinhal, Tramandaí, Osório, Imbé, Torres e Xangri-lá, por exemplo.
Em Capão da Canoa e Cidreira, projetos estão avançando para construção de áreas para os amantes do esporte. GaúchaZH deu um giro pelo Litoral Norte e mostra como os amantes do skate estão se divertindo por lá com o esporte que será modalidade olímpica a partir de Tóquio 2020.
Rampa sobre a areia
Em razão das dunas, quem caminha pelo calçadão de Imbé não consegue enxergar uma raridade aos amantes do skate no Litoral. Uma mini ramp está instalada ao lado de um quiosque e é ponto de encontro dos praticantes do esporte. Trata-se da única rampa instalada nas areias do litoral gaúcho.
Quem quiser andar é só chegar. Quando a reportagem esteve no local, o tempo não colaborava, e a pista, feita de compensados, estava coberta por uma lona, para não ser molhada pela garoa. Em volta, os skatistas aguardavam ansiosos para fazer suas manobras. Logo que os pingos pararam, o mutirão começou a tirar a cobertura, varrer a areia da estrutura e dar início à atividade.
Antônio José Parlatto, 45 anos, o Toninho, é um dos idealizadores da rampa. Morador de Imbé, é proprietário, há 16 anos, do Secret, quiosque que reúne surfe, skate, sandboard e balance board (pranchas de equilíbrio), além de um cardápio repleto de comidas e bebidas não muito comuns à beira-mar, como sucos de pitaia e cupuaçu e creme de tapioca. A ideia surgiu dos surfistas, a partir de uma vontade de aperfeiçoar e complementar a modalidade.
— Isso é um treinamento para o surfe. O pessoal vai para o mar e, depois, anda de skate. E se o mar não está bom, a pista se torna uma alternativa — conta o comerciante.
Toninho diz que a rampa é montada no início da temporada, em dezembro, e desmontada ao final, em março.
— O local reúne crianças, jovens, adultos, mulheres. Ficamos aqui das 8h30min até escurecer — complementa.
Guarda-sóis, bancos e cadeiras de madeira ficam próximo à pista, para que os frequentadores do quiosque acompanhem as performances dos skatistas. A estrutura estreita permite que até duas pessoas possam andar, sem riscos. Além do fato de estar na areia, outra peculiaridade dessa rampa é possibilidade de fazer as manobras de pés descalços. Capacetes, joelheiras e cotoveleiras não são usados. O tênis, tão comum na prática do skate na cidade, é raridade na mini ramp à beira-mar. O fim de tarde, quando o calor diminui, é o horário preferido.
— O skate como modalidade olímpica deu um up no esporte — comemora Toninho.
“Uma grande brincadeira”
O autônomo Rafael Vasques, 39 anos, era um dos mais empolgados. Também morador de Imbé, tem como rotina diária o surfe e o skate.
— Para surfar, precisamos ter condicionamento físico. O skate nos dá preparação para as pernas e nos ajuda no surfe – afirma Vasques, entre uma manobra e outra.
Para ele, o skate não é só um esporte e, sim, um fenômeno agregador:
— Antes, andávamos de skate só para ajudar no surfe. Agora, andamos porque gostamos. O surfista é um pouco solitário dentro da água. No skate, estamos juntos.
Crianças são frequentadoras da mini ramp, garante o filho de Vasques, Joaquim, 10 anos, mas em número menor do que ele gostaria:
— Quando o tempo está bom, eu ando. Gosto do esporte. Ando até minha perna começar a doer. Meus amigos é que não vêm muito à praia.
Os tombos são comuns aos praticantes do skate. Na rampa que recebe areia de praia, então, os escorregões são rotineiros. Além dos moradores locais, veranistas também frequentam a mini ramp. Gustavo Rubensam, 40 anos, passa os finais de semana na praia. O representante comercial era um dos únicos de tênis para realizar as manobras.
— Sempre que venho para a praia, ando de skate e surfo. No caso do surfe, depende da condição do mar. Skate é pura diversão, uma grande brincadeira. Nós fazemos churrasco. É um clima familiar — ressalta o porto-alegrense.
Valorização do esporte
Em Xangri-lá, há pista de skate em uma praça, na principal via da cidade, a Avenida Paraguassú. Quando a reportagem esteve no local, a garoa havia afastado os meninos que andavam por lá. Foi só o tempo firmar um pouco, e Felipe Jacoby, 14 anos, apareceu. Com o skate amarrado às costas, chegou de bicicleta. Morador da cidade, é frequentador assíduo da pista.
— Venho todos os dias. Ando três, quatro horas por dia — conta o adolescente, que parecia voar em uma das rampas sem qualquer equipamento de proteção.
Segundo Jacoby, em dias de movimento, a pista chega a reunir 30 skatistas.
Arthur Azevedo, 12 anos, mostra bastante desenvoltura ao fazer manobras nas rampas, caixotes e traves. Morador de Porto Alegre, conta que não abre mão do esporte na praia:
— Ando cerca de duas horas por dia. É meu esporte favorito.
Para Arthur, a inclusão do skate como modalidade olímpica vai ajudar a valorizar o esporte. Organizador de eventos de skate na cidade, Thales Vinícius da Silveira Vargas, 28 anos, espera maior reconhecimento do esporte:
— A gente recebe apoio das marcas para os prêmios. Mas precisaria mais. Os eventos de skate lotam essa praça e ajudam no comércio local.