É difícil encontrar Heitor Rosa da Silva, 3 anos, com uma roupa que não seja a fantasia de Homem-Aranha. O tênis azul com vermelho e o corte de cabelo em forma de teia deixam claro qual é o seu super-herói preferido. Assim como ele, outras crianças dessa faixa etária costumam usar fantasias de heróis, princesas e personagens de filmes ou desenhos. Para especialistas, hábito é benéfico para o emocional e o processo de aprendizagem dos pequenos.
Autoconhecimento, atenção, linguagem e criatividade são exemplos de habilidades cognitivas que as crianças podem desenvolver com a ajuda das fantasias. Além dessas, o uso da roupa do Homem-Aranha permite que Heitor exerça habilidades motoras, como correr e saltar, quando tenta imitar os movimentos do super-herói. A mãe do menino, Tamires Adriane Rosa dos Santos, conta que ele se sente melhor quando está vestido igual ao personagem:
— Ele está sempre feliz com o Homem-Aranha. Parece que ele se sente até mais seguro. Quando ele sai, quer ir fantasiado. No TikTok, tem um filtro que parece uma chamada de vídeo para o Homem-Aranha. O Heitor liga, conta do dia dele, mostra para os outros. E é tão boa essa fase, porque a gente não sabe quando vai acabar — relata.
Segundo Cleo Ribeiro, psicóloga infantil, as fantasias ajudam os pequenos a compreender e expressar o mundo interno. Ou seja, os pensamentos, desejos e emoções. De certa forma, garante a especialista, os trajes permitem que eles sejam quem quiserem, com segurança para explorar essas vivências. Quando uma criança sente medo do escuro, por exemplo, a fantasia de um super-herói pode aumentar o sentimento de coragem.
— O uso da fantasia é um marco no desenvolvimento das crianças, principalmente nessa faixa etária dos dois aos cinco anos. Nessa idade, a criança ainda não tem a aquisição da linguagem completa e nem compreensão de mundo. A fantasia é um veículo de comunicação para informar o que essa criança está vivendo e sentindo.
Além de ajudar no desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas e emocionais, as fantasias podem ser positivas para o processo de educação das crianças. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) cita a importância das brincadeiras lúdicas para a aprendizagem e evolução dos estudantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.
Ao se fantasiarem, as crianças adotam personagens, inventam histórias, conseguem expressar as percepções delas sobre a vida cotidiana, sobre os conflitos familiares, sobre a vida, a escola, os movimentos sociais que elas fazem parte. A brincadeira com fantasia, de forma geral, é um exercício que vai despertar os sentidos e a capacidade de criar e de não se entediar. Esse faz-de-conta propiciado pela fantasia é fundamental para o desenvolvimento integral da criança.
SUELEN BOMFIM NOBRE
Professora do curso de Pedagogia da Universidade Feevale
Leticia Eggers Burmann, proprietária de uma rede de lojas de fantasias em Porto Alegre, conta que, desde a pandemia de covid-19, a procura por fantasias infantis aumentou consideravelmente. Segundo a empresária, os modelos que mais costumam ser vendidos são as de princesa da Disney e do Homem-Aranha. Os meninos também gostam de trajes de dinossauro, policial e astronauta.
— A gente percebe que os pais estão incentivando bastante o uso de fantasia. Eles não têm uma ou duas: eles têm 10, 20 fantasias. Então a gente percebe que quem proporciona para seus filhos o uso de fantasia está sempre comprando coisa nova, as crianças estão sempre usando. Até em casa ou para dormir — explica.
As especialistas defendem que é importante que os pais e professores permitam e, se possível, incentivem as brincadeiras envolvendo os trajes especiais. Tamires afirma que a família toda de Heitor participa efetivamente dessa fase, contribuindo para que ele continue encantado pelas fantasias e pelo Homem-Aranha.